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     Quando eu era pequena minha mãe sempre me dizia eu não podia nem sonhar em abrir a porta para estranhos caso em uma emergência eu ficasse sozinha em casa. Quando saiamos, largar a sua mão ou me afastar dela não era uma hipótese. Um estranho oferece uma bala? A resposta é não obrigada. Quando eu cresci um pouco os “estranhos”, viraram garotos e eles nunca seriam aceitos em casa enquanto os meus pais não estivessem presentes.

     Eu namorei uma única vez nos meus dezessete anos e foi um namoro muito conturbado. Começou errado, com a repreensão dos meus pais e depois que eles “liberaram”, houve muita pressão em cima de mim e de Ryan, meu namorado na época. A nossa relação ficou sufoca, não podia nada, meus pais praticamente obrigavam eu e Ryan a nos beijarmos na frente deles, porque no ver de ambos, só assim eu estaria segura. Ryan se cansou, eu também. O deixei ir, porque ninguém merecia ter os meus pais como sogros.

     A única vez que estive sozinha em um comodo de uma casa com um garoto foi na primeira e única vez que levei Ryan escondido para a minha casa. Encarando JJ na porta do quarto da pousado, me faz visualizar a lembrança daquela tarde, e dos beijos e abraços e risadas que eu e Ryan compartilhamos na sala da minha casa. Nada além disso, foi tudo puro e único ate os meus pais acabarem com tudo.

     - Vai me deixar entrar ou você está esperando mais alguém?- JJ pergunta impaciente, me despertando do transe.

     Abro passagem para o garoto entrar. O por quê? Eu não sei. Talvez eu esteja atônita demais para pensar.

     - O que faz aqui?- Pergunto ao me sentar  no sofá. JJ toma liberdade e fez o mesmo.

     Ok, o que foi que eu fiz? Eu não estava a reclamar deste individuo minutos antes? Meus pais estão logo ali embaixo e eu estou sozinha com um garoto estranho no quarto da pousada. Isso é errado em tantos níveis...

     - Você tem um isqueiro?

     - O que?- Aperto os olhos.
Surpresa com a sua pergunta.

     - Eu perguntei se você tem um isqueiro.

     - Você veio até aqui atrás de um isqueiro?- É para mim ficar feliz ou me matar?

     - Eu preciso acender... é...- O loiro tira um cigarro do bolso e aponta na minha direção.

     Me levanto  meio impaciente do sofá e caminhei até a cozinha. Na segunda gaveta do gabinete ao lado do fogão acho um isqueiro com a peça meio desgastada. Se entregar o isqueiro para ele acender aquela arma fumegante, o fazer dar o fora daqui o mais rápido possível... Entrego o isqueiro nas mãos de JJ que agradece com  um aceno. Para a minha surpresa ele acende o cigarro ainda no sofá e começa a fumar, totalmente folgado no espaço que toma.

     - Ok.- Suspiro.- Agora desembucha.

     - Desembucha o que?- JJ levanta uma das sobrancelhas.

     - Um isqueiro? Meu querido... Invente desculpas melhores para vir até aqui. E eu nem sei se fiz certo. – Penso um pouco.- Você deveria estar fumando aqui?

     Ele abre um largo sorriso enquanto extrai a fumaça que acaba de tragar, ela passa solta pelas grades que os seus dentes formam. JJ fecha a boca e continua a sorrir sem mostrar os dentes e então pendura o cigarro na boca e me olha de cima pra baixo. Há algo forte em seu olhar que me faz esquecer por um minuto do que realmente fazer. Seu sorriso sobe até os seus olhos azuis, um azul que lembra a cor das ondas de uma praia agitada. Não sei explicar...

     - Eu preciso da sua ajuda.- Ele fala finalmente.

     - E se eu não quiser te ajudar?-  Ajeito a postura. Como eu poderia ajudar esse garoto?

Ondas De Encrencas (2021-2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora