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     Quase três horas depois de viagem, cá estou eu em Virginia. A primeira e única vez que estive aqui, eu tinha três anos e não lembro de absolutamente nada, de lembrança só tenho algumas fotos e a minha mãe me contou um pouco como foi. É bom estar aqui depois de tanto tempo e agora mais velha, essa é a primeira viagem que faço na vida sem a companhia dos meus pais e a experiência que tive até agora não foi uma das melhores, porém única.

     Agora são onze da noite e eu estou a um passo da entrada de uma conveniência de um posto de gasolina vinte e quatro horas. JJ esta com o carro no estacionamento, disse ele que vai colocar gasolina no carro, como eu não sei, pois durante o caminho o próprio me contou que esta completamente liso, o que o faz contar com o dinheiro do ouro que espera pegar.

     Adentro a conveniência e céus! Como estou apertada e faminta. O estabelecimento esta vazio, mesmo assim vou direto para o banheiro, evitando contato com a balconista, é meio frustrante entrar em uma conveniência apenas para usar o banheiro. Fui tão desatenta e precipitada em não trazer dinheiro, nunca precisei “me virar sozinha”, com os meus pais sempre disponíveis para me dar uma carona seja até uma pracinha, é complicado estar tão longe e sem eles.

    Deixo a conveniência, na porta do estabelecimento e com a barriga roncando pego o meu celular para fazer uma ligação a Zoe antes de voltar para o carro que esta longe da minha vista.  JJ devia estar abastecendo o carro bem aqui, mas resolvo pensar nisso depois, pois a minha irmã já me ligou - enquanto eu estava na estrada – mais de dez vezes e eu não atendi por causa do JJ. Muito provável que a minha família já tenha dado com a minha falta e eu preciso tranquiliza-los, não sei como, porque mesmo que eu esteja assustada, preciso voltar amanha inteira.

     É quase meia noite, não há carros no posto e a iluminação aqui é fraca. Dou cinco passos, me afastando da entrada da conveniência e então pego o meu celular no bolso e assim que desbloqueio procuro pelas chamadas perdidas de Zoe, para poder retornar a ligação. Encontro as chamadas e quando estou prestes a apertar para retornar, sinto alguém se aproximar de mim e antes que eu possa fazer qualquer coisa como correr, sou impedida e obrigada a permanecer no mesmo lugar ao sentir algo gélido e pesado encostar na minha orelha.

     Por incrível que pareça eu sei o que é e isso faz o meu coração se descontrolar.

     - Quietinha.- Uma voz áspera ressoa ao pé do meu ouvido, esfriando todo o meu corpo.

     Um indivíduo alto de jaqueta preta, calça jeans preta, escondendo o rosto atrás de um gorro sai da minha sombra e para na minha frente, tomando todo o cuidado para não desencostar a arma da minha orelha. Só posso ver os seus olhos e eles lembram os olhos do gangster que a Lana Del Rey se apaixona em Blue Jeans, mas isso não me conforta, pois não posso romantizar a minha vida nesse momento.

     - Eu não vou te machucar ok?- O bandido praticamente enfia o rosto coberto no meu. Sua respiração e sua voz parecem alfinetarem o meu rosto .-  Eu só preciso que a senhorita me passe o celular e...- Ele olhou para baixo.- Esse lindo relógio.

     Droga. Fecho os olhos e respiro fundo, a arma ainda esta ali e JJ bem longe daqui. Quero matar aquele garoto! Ele some e me deixa nesse situação e me obrigo a entregar o meu celular,  única coisa de útil que trouxe e o meu relógio, que ate agora eu não lembrava de estar usando, virou acessório, mas ainda é dinheiro.

     E tem gente que ainda defende bandido.

     Vou ficar incomunicável. Mas é melhor assim do que terminar de modo total incomunicável e com uma bala dentro da cabeça. A gente vive reclamando sobre estar vivo, mas quando a nossa vida é exposta a perigo, começamos a rezar orações que até então não conhecíamos.

Ondas De Encrencas (2021-2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora