capítulo quinze

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O voo foi rápido. Sem tempo para enjoos ou turbulências.

Cleo se despediu da gente quando aterrissamos em Carolina do Norte e assegurou que nos veria nas próximas férias. JJ estava esperando que ela fosse conosco para a casa do Jhon B., mas de acordo com os seus horários, ela está longe de ter uma folga no momento então vai ter que esperar pelo próximo recesso da empresa para se reencontrar com os amigos.

Outer Banks é o tipo de lugar que você vê nos filmes.

Tudo é alaranjado aqui.

Eu nunca estive em uma ilha antes, é até que interessante. Do aeroporto que deixamos em Carolina nós fizemos mais duas viagens, uma de taxi para atravessar a ponte e chegar na ilha e outra de barco para passar por um rio até uma trilha próxima da casa de Jhon B.

Muita tensão e muito calor. Não foi a minha primeira viagem de barco e mesmo assim não diminuiu o meu pavor. Talvez eu não sirva para morar perto de rios e praias, talvez eu fique um ano aqui e não aprenda a nadar e lidar com o quanto o sol é insuportável , talvez eu só consiga reclamar.

Para melhorar JJ não fez questão de cooperar. Enquanto eu me encolhia, ao mesmo tempo que suava com aqueles trajes de comissária de bordo nada apropriados para um passeio de barco, o garoto ao meu lado que parecia mais do que confortável e acostumado narrava empolgado a vez que o seu amigo quase foi engolido por um jacaré.

Serio... mais um pouco e eu mergulhava a cabeça dele naquele rio para encher a sua boca de agua e fazer ele parar de falar.

O que eu não falo, JJ com certeza fala o dobro. Acho que toda amizade tem esse equilíbrio.

Mas no fim deu tudo certo, deixamos o barco e pegamos a trilha para a casa do Jhon B., nesse meio tempo JJ já tirou o paletó, dobrou as mangas da sua camisa social e a barra de suas calças. Desajeitou todo o cabelo e arranjou dois galhos para se locomover melhor no meio do mato.

- Já estamos chegando?- desviei de um galho a tempo de não perder um olho.

- Cinco minutos e a casa dele começa a apontar no meio das arvores,

Inspirei e suspirei duas vezes antes de parar de caminhar e me agachar no chão para descansar um pouco. Se antes eu já não estava sentindo as minhas pernas, agora então...

JJ parou na minha frente talvez ao escutar que eu parei de acompanha-lo e virou de costas.

- Que isso?- ele ergueu uma das sobrancelhas.- tá se preparando para cagar?

- Haha, cara você é ápice da comedia.- franzi o cenho.- só que eu sou sedentária demais para andar mais de dois quilômetros. Minhas pernas estão doendo e eu estou começando a ficar ofegante, daria de tudo pela minha bombinha agora.

- Por Deus Maggie! Você parece uma velha se queixando desse jeito.- ele soltou a mochila das costas e entregou para mim.- ponha nas costas e levanta daí. Vamos resolver isso.

Com a mão ele me deu apoio e eu levantei, chacoalhei os fiapos grudados na minha roupa e estiquei as pernas. Tive a impressão de ouvir um osso estalar.

- Agora suba aqui.-o garoto agachou um pouco e fez um sinal com as mãos indicando o seu pescoço.

- O que?- soltei uma gargalhada.- eu não vou subir no seu pescoço não. Você por acaso sabe quanto eu peso para se arriscar assim?

- Anda com isso.- ele fez cara de tedio.- não é como se você pesasse mais de sessenta quilos.

Cinquenta e cinco. Doeu.

- Ok. É só porque esses saltos, esses malditos saltos estão me matando.

Ele pareceu satisfeito. Tirei os sapatos e depois a meia fina, JJ esperou impaciente até eu primeiro subir em suas costas, depois em seu pescoço. No começo foi meio desconfortável, as mãos suadas dele fizeram cocegas nas minhas pernas. Dez passos depois ele finalmente pareceu se acostumar com o meu peso e ficou mais fácil ficar lá em cima.

Da altura que eu estava o meu cabelo acabou se enroscando nas folhas das arvores e eu consegui observar o céu sem muito esforço, estudei o movimentos das aves sobre as nossas cabeças. Elas faziam muito barulho.

- Casa do Jhon B. aqui estamos nós!- JJ chamou a minha atenção para frente e eu avistei a casa do seu amigo. Toda trabalhada na madeira, meio afastada e próxima de uma ponte que da acesso a outro rio. Um barco estava amarrado na ponte.

- Aquilo ali?-esfreguei os olhos.- dava para a gente ter continuado no rio e você nos fez vir pela trilha?- perguntei indignada.

Segurei o rosto de JJ com as mãos e virei sua cabeça para cima, fazendo ele olhar bem nos meus olhos para ver a minha frustração. Minha irritação não pareceu afetar ele, ao contrário ele abriu um sorriso e deu uma risadinha. Debochando de mim.

- Aproveita que você esta ai e faz uma massagem no meu couro cabeludo. Eu resolvi vir pela trilha porque eu não aguentava mais te ouvir reclamando das condições do humilde barco que eu aluguei e da água suja desse lugar.- ele virou a cabeça para frente e suspirou.- estamos em casa, sem tempo para discutir agora certo?

- Certo. Agora me coloca no chão.

Ele abaixou e eu desci.

Um garoto alto, de lencinho no pescoço e camisa toda desabotoada acenou para gente da varanda, caminhando na nossa direção, uma loira de short jeans e cropped azul apareceu logo atrás. Os dois sorriam.

JJ se afastou e correu até o seu amigo, o puxou para um abraço apertado e exagerado.

Os dois que pareciam bem próximos ficaram um tempo nessa de abraços, risadas e toques estranhos com as palmas das mãos. A loira que provavelmente era a Sarah se aproximou e JJ cumprimentou ela com um abraço também. Me aproximei deles a passos receosos, me sentindo totalmente deslocada e bastante sem graça.

- Quem é a garota JJ?- o tom da voz de Jhon B. era descontraído. Quando eu me aproximei JJ virou de costas e estendeu o braço na minha direção.

- Galera essa é a Maggie. Minha parceira na minha aventura mais recente.- seguro a sua mão e caminho meio desajeitada e descalça no meio da grama até eles.- E Maggie, esses são Jhon B. e Sarah como eu havia te falado.

Cumprimentei os dois com um aperto de mão, eles retribuíram sorrindo. Relaxei um pouco e fiz o mesmo.

- Vocês parecem péssimos.- indagou Jhon B. enquanto se dirigia de volta a sua casa e JJ o acompanhava. Sarah se aproximou de mim.- já vou avisando que em casa só tem peixe e um chuveiro queimado.

- Esse é o espirito pogue que eu gosto.- JJ deu tapinhas nas costas do amigo que riu.

- Eu tenho uma amiga minha que é comissária de bordo.

Disse Sarah se juntando a mim. Ela apontou para o logo do meu uniforme e eu demorei um tempo para sacar que ela estava puxando assunto comigo.

- Ah! Isso aqui?- balancei a cabeça.- longa historia, eu e JJ roubamos esses uniformes e encontramos Cleo no caminho.

A loira abriu a boca e ergueu as sobrancelhas, parecia chocada.

- O que? Roubaram? E Cleo? Me conta tudo.

- A historia é longa. -suspirei.- mas antes preciso tomar um banho e comer alguma coisa.

- Certo, eu te empresto a roupa.

Sarah piscou para mim e nós duas entramos na casa um pouco depois dos garotos.

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Ondas De Encrencas (2021-2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora