Chacoalhei os meus braços, balancei as minhas pernas de um lado para o outro. Os braids se chocavam contra o meu rosto, enquanto eu balançava a cabeça desesperadamente e gritava por socorro. Gritava para ser soltada.
Não consigo me desfazer dessa lembrança infeliz.
Foi trágico. Enquanto gritava passava ainda mais a impressão de estar ao ponto de enlouquecer. Mas o que eu podia fazer? Estava sendo forçada. Ficaria louca se realmente fosse obrigada a permanecer internada sem motivo plausível. O showzinho teve que acabar, fui arrastada por um corredor infinito e escuro até a última sala de uma clínica psiquiátrica na costa leste dos Estados Unidos.
Eles cortaram as pontas das minhas tranças a força enquanto eu chorava. Puxaram o colar que JJ havia me dado, com tudo do meu pescoço. Fui despida nua, na frente de dois médicos e quatro enfermeiras. Eles olhavam as minhas estranhas sem nenhuma vergonha. Me fizeram vestir uma camisola azul, cuja a costura estava desgastada. Examinaram os meus olhos, meus ouvidos, meu nariz e a minha boca, e por fim me jogaram em uma cama dura, amarraram os meus pulsos e injetaram medicamentos na minha veia.
E então eu apaguei.
Acordei no dia seguinte irritada, queria alta. Queria JJ, queria o colar, queria fugir.
Mas eles não me deram. E os meus pais? Não vieram me visitar como prometeram. E esse ritmo de acordar, comer, permanecer acordada o dia todo olhando para o teto e ser dopada novamente pelo começo da noite se prolongou por um mês.
Em trinta dias emagreci dez quilos, parei de sentir as minhas bochechas, parei de sentir a vida.
Eu só chorava, assustada e sozinha. Eles só sabiam me encher cada vez de mais remédios, remédios para me acalmar, remédios para dor de cabeça, dor de garganta, dor nas juntas. E nenhum deles foi capaz de curar a minha dor psicológica, foi capaz de cessar o "sangue" que eu sentia escorrer de forma bizarra dentro de mim, não calou as vozes na minha cabeça, dizendo diariamente que eu perdi. Fraca!
Os comprimidos não me fizeram esquecer o rosto do JJ. E bem que eu queria... foi doloroso. Eu só conseguia pensar nele, lembrar dele, chamar pelo nome dele e temer que acabaram com a vida dele. O meu peito estava cheio de culpa.
Ganhei alta depois de dois meses internada, ou seja, estou há três meses longe de agulhas e camas de tortura. Mas ainda estou sendo medicada apenas pela boca. Passo o dia todo escrevendo, sentada na cama, em um quarto com pouca iluminação e abafado. Estou escrevendo crônicas, poesias... qualquer coisa que me distraia.
Cinco meses depois eu ainda penso no JJ. Mas não mais com a incerteza e dúvida de antes... agora sinto apenas remorso, porque JJ morreu! De verdade. Minha mãe confirmou na primeira visita que me fez após a minha alta. Ela até me mostrou a foto do cadáver dele, foi tão doloroso e assustador de se ver! Eu ainda choro toda vez que lembro.
Eu o perdi pra sempre! Seu colar foi arrancando de mim, só me restam as lembranças. Todo dia eu choro, todo dia eu me culpo. Porque é a minha culpa! Se eu não tivesse fugido, se eu tivesse escolhido a clínica... Nada disso teria acontecido.
A minha mãe ainda me visita. Traz comida diferente, as vezes roupa de cama e toalhas de algodão. Não como nada, e quanto mais ela reclama que eu estou ficando anorexia, mais eu rio satisfeita.
Eles não queriam me matar? Estão conseguindo.
Há cinco meses eu só queria fugir, há cinco meses eu estava prestes a me perder, com medo e angústia. Hoje eu me acostumei a solidão, me perdi, o medo anda do meu lado e eu já mergulhei de ponta cabeça na angústia.
Perdi a única pessoa que valia a pena. Não tenho mais motivos.
Nesses três meses cinco psicólogas se despediram. Nenhuma delas consegue me entender, eu as estresso nos primeiros trinta segundos de conversa. E isso é ótimo! Meus pais que lutem, pois eu vou continuar fechada.
Hoje eu tenho consulta com uma nova psicóloga. Mais uma corajosa, que eu acabo de ver de costas passando pelo corredor do lado de fora do meu quarto. Ela vai tentar fazer exatamente o que as outras não conseguiram, e também não vai conseguir.
Me ajeito na cama, pego o rímel de guardo debaixo do travesseiro e consegui com Zoe na única vista que ela me fez. Passa ele de qualquer jeito nos cílios, borrando as pálpebras. Começo a chorar, para borras mais ainda. Eu choro fácil assim agora, os remédios mexeram muito comigo.
Abro um dos meus sorriso mais cínicos, escuto dois toques na porta e ela logo se abre.
Primeiro a enfermeira, projeto de esposa do Chucky entra, seguida da psicóloga. De cabelos cacheados, óculos escuros e máscara. A doida permanece de cabeça baixa o tempo todo, enquanto escuta a enfermeira falar umas besteiras de mim.
Por fim a "Tiffany", deseja boa sorte para a "tal psicóloga", e então deixa a sala.
- Se está querendo me assustar ou me intimidar...- cruzei os braços.- já passei por coisa pior.
Ela não respondeu nada, caminhou até a janela fechou às cortinas e voltou a atenção para mim.
- O que é isso Maggie?- ela finalmente falou, um tom de voz estranhamente familiar, mas eu não reconheci.- virou a Alerquina?
- Quem te deu intimidade?- perguntei nervosa, cerrando as mãos em punhos.
- Ué.
A psicóloga então puxou o cabelo... Espera ai? Arrancou uma peruca! Revelando um cabelo encaracolado e iluminado. E depois a máscara, e depois o óculos e... Aí meu Deus! A psicóloga era na verdade ninguém mais ninguém menos que a...
Kiara!
- Você?- engoli em seco.
- Eu.- ela sorri.
🌊
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Ondas De Encrencas (2021-2021)
FanficConcluída. Está fanfic está sujeita a alterações. Você deve encontrar alguns erros de ortografia e furo de roteiro. Boa leitura. Em uma viagem tediosa e indesejada, Maggie reclama de suas condições ao tempo que sua família aproveita as águas de Caro...