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Estou de volta a Carolina.

Sozinha e cansada. Ainda não acredito que consegui voltar pra casa dirigindo por mais de dez horas.

Estou parada em frente o portão da pousada há mais ou menos dez minutos. Está tudo fechado e silencioso. A portaria devia estar aberta, o estacionamento de frente para rua ocupado... Mas não, nem um sinal de carros ou civis por perto.

Sinto saudades do JJ. Esse sentimento ainda é estranho.

- Olá, você.- tomo um belo susto quando um homem longo e estreito surge do meu lado do nada.

- Oi.

- Você deve ser Maggie, Maggie Saraivah.

- Como sabe o meu nome?- pergunto, já preparada para correr dali se preciso.

- Essa cidade se tornou um caos nos últimos cinco dias, pelo sumiço de duas pessoas - uma delas você - vindo desta pousada.- ele aponta o dedo fininho na direção da enorme casa.- Carla Saraivah morreu de um infarto há dois dias, e ontem o gás de um dos apartamentos explodiu durante a madrugada e todos que aqui estavam instalados morreram.

Não, não podia ser verdade. Minha família.

- O senhor está mentindo.- minha barriga começa a doer e meus olhos a marejar.- está me testando.

- Fique a vontade para entrar lá dentro e conferir com os seus próprios olhos.

- Mas está fecha...- olho para o lado e o homem esquisito já não está mais lá.

Desapareceu, como pó.

E quando eu olho para a portaria, encontro a porta entreaberta. Um arrepio percorre a minha espinha.

Eu não devia entrar. Eu juro que não estava aberta, mas a minha curiosidade é maior.

Passo a mão pela madeira, a porta range alto antes de abrir totalmente. Na portaria não há ninguém, o lugar está completamente escuro e silencioso.

- Merda...

Parece como cena de filme. A porta se fecha atrás de mim e os pássaros voam com a minha presença.

Olho para os lados ainda um pouco absorta. Há líquido escuro escorrendo por todos os cantos, desde abaixo dos meus pés, em volta da piscina e pela escada que vai de encontro com as casas.

Totalmente bizarro. Me arrepio toda.

Com uma coragem desconhecida ando até a piscina, os pés encharcados do líquido esquisito e assustador se chocando um contra o outro conforme eu ando.

Quando me aproximo da beira da piscina e olho para baixo... É como encontrar a morte. Meu estômago se revira dentro de mim, minha visão começa a ficar turva e meu corpo inteiro treme.

Há corpos. Inúmeros corpos boiando na piscina, cuja água não é transparente: é preta. Do mesmo líquido que se escorre por todo o gramado.

Antes que eu possa sair correndo dali sou atraída por vozes, vozes chorosas e assustadoras de dentro da piscina gritando o meu nome:

'Maggie', "assassina".

Os corpos começam a se mexer na água, é como se estivessem despertando. Saio correndo dali, sinto mãos melosas nos meus calcanhares.

Grito. E então sou arrastada para dentro da piscina.

🌊

- Não!!!

Ondas De Encrencas (2021-2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora