Segundo contato

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18 de fevereiro de 2005
Reserva La Push

Os meus músculos se retraíram ao mesmo tempo em que o calor queima cada centímetro da minha pele. Eu caio no chão completamente desorientado, suor pingando da minha testa, meus ossos se partindo. Algo rasteja em meu estômago e uma dor latejante percorre todo o meu corpo. Um grito escapa da minha garganta. Um grito doloroso e de pura agonia.

— Ele não me parece bem... — Ouço de longe a voz baixa do meu priminho. Ele está ouvindo atrás da porta e cochichando para o meu tio. Eu quero pedir para que me deixem em paz, porém não sou capaz de deixar minha voz sair, é doloroso demais deixar alguma coisa sair.

Ouço e sinto minhas costelas se partindo e voltando ao local e para distrair a dor tenho meu pulso contra o armário. Minha mão atravessa a madeira de uma única vez.

— Jacob, vá para casa. — Ouço Billy. — Ligue para Harry e o diga para vir até aqui. — Jacob parece protestar. — Fique em casa, Jacob. Magnus precisa se recuperar e pessoas ao redor não fará bem a ele.

— Mas eu...

— Vá agora! — A voz de Billy é dura como aço.

Um outro grito rasga a minha garganta no mesmo instante em que os ossos dos meus braços estalam e minha pele parece ser arrancada. Uma fumaça ao meu redor se espalha, um rugido e uma voz grave praticamente grita dentro da minha cabeça.

A porta é bruscamente aberta por Billy e alguém que não sou capaz de ver, meu corpo está debruçado no chão e eu estou de costas para a porta, a única coisa que vejo e ouço são as rodas da cadeira do Billy e a sua voz suave.

— Magnus... — Billy chamou por mim, mas o fogo que abraçava o meu corpo por inteiro e parecia dilacerar todos os meus ossos. Eu sinto a necessidade de me rasgar de dentro pra fora e de fora para dentro. — Deixe o espírito sair, deixe vim... Sinta-o...

Um grito que foi aos poucos se transformando em um alto rugido animalesco soou e reverbeou por toda a casa. Em seguida, eu não era mais o mesmo. No meu lugar havia patas, pelos, grandes presas e um focinho. E eu era quase do mesmo tamanho da minha cama.

Acuado, meu corpo grande e desengonçado caiu para trás, estraçalhando o móvel de revistas. A poltrona também foi parcialmente danificada e a cortina da janela foi arrancada sem pudor algum. Agora eu vejo Billy, vejo Harry Clearwater de pé ao seu lado, e vejo o meu grande e peludo corpo no espelho ao lado deles. O meu reflexo é assustador. Um grande lobo está em meu lugar, sua cor é uma mistura de areia e manchas castanho, o focinho enrugado e grandes olhos atentos.

— A magia arde em seu sangue, o herdeiro legítimo de Ephraim Black. O neto do chefe agora se torna o líder da alcateia que surgirá. Um Alfa legítimo. — Billy dizia, como se estivesse recitando alguma lenda. Como se eu tivesse me tornado um personagem das lendas Quileutes que ele nos contava quando fazíamos fogueira na praia de La Push.

Não!

Grito em minha cabeça, parecendo me conectar em coisas que jamais pensei existir. O som do mar a muitos quilômetros, o som das árvores e até mesmo os pingos de chuva batendo contra as janelas e calhas. Sinto o cheiro deles, distintos, ouço as suas respirações e os corações batendo no peito, ouço o meu próprio coração batendo. Assustador.

Nunca desejei ser nada além de um cara normal. Além de não ter os meus pais desde que me entendo por gente, ser chamado de monstro não estava no topo da minha lista.

Eu não sou um monstro e tudo não passa de um pesadelo. Um grande pesadelo de merda.

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𝐁𝐥𝐨𝐨𝐝𝐲 𝐒𝐮𝐧 - 𝐓𝐡𝐞 𝐓𝐰𝐢𝐥𝐢𝐠𝐡𝐭 𝐒𝐚𝐠𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora