Reserva Quileute

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18 de fevereiro de 2015
Reserva Quileute

As últimas malas foram praticamente jogadas na pequena e arruinada escadinha da casa. O homem do táxi parecia pronto para me chutar pra fora assim como fez com a minha bagagem, ele o faria realmente se eu não estivesse contando as notas para pagar a longa e cansativa corrida de Port Angeles a Forks, mais precisamente dentro da Reserva Indígena Quileute. Quando aceitou a corrida, ele não fazia ideia de que teria que gastar muito combustível e que provavelmente o seu táxi seria arruinado pela lama.

— Obrigado pela preferência. — Resmungou, me entregando duas notas de vinte dólares de troco. Ele me lembrava de um personagem que vi em um filme dos anos noventa, onde a garotinha com o laço vermelho conseguia mover as coisas com a força da sua mente. Eu sempre achei esse filme muito fantasioso, e o homem era idêntico ao pai da menina.

O carro se afastou, sumindo na estrada de terra por entre as árvores altas e densa floresta. Eu observei o táxi se afastar, apertando entre os dedos a barra da minha capa de chuva, como se estivesse vendo toda a minha vida indo embora. Estar em Forks significava um começo, deixar Jacksonville New Jersey para trás foi a coisa mais difícil que fiz na minha vida.

O que eu poderia fazer além disso? Eu não tinha mais um lar, não tinha um lugar para chamar de meu e definitivamente não tinha mais nada que me prendesse em New Jersey. Trabalhar todo o final do ano como garçonete e comprar as passagens para Forks foi a melhor coisa que fiz, era o que eu dizia a todo momento durante toda a viagem. Forks agora é o meu lar, o único lugar que de fato não me fez sentir como um estranho no ninho.

— Que bom que já chegou. — Pulo assustada com a voz do homem em minhas costas. Me viro encontrando o homem grande. Ele tem o dobro da minha altura e ombros largos. — Pedi para os garotos verificarem se você estava por aqui, mas você ainda não tinha chegado. — Conversou, se aproximando dois passos. Eu recuei outros dois na mesma hora.

— Espera aí? Quem é você? — Ele parou, levantando ambas as mãos em sinal de rendição.

— Me desculpe, eu sou o Sam. Nos falamos no telefone, não está reconhecendo minha voz?

Sam, claro que seria ele. Quem mais poderia saber da minha chegada? Eu não tinha parentes e nem amigos a quem avisar sobre a minha vinda repentina para Forks, a única pessoa que sabia da minha mudança era Sam, o único amigo que Vince foi capaz de cultivar pelo pouco tempo que morou por aqui.

Abaixando a guarda, empurro as mãos para dentro dos bolsos da capa de chuva cutucando um montinho de lama com minha bota de plástico.

— Ah, claro. Me desculpe. — Meu rosto esquentou na mesma medida em que minhas orelhas queimaram. Eu odiava a forma como eu parecia um animal indefeso. Sam sorriu calmo, retornando seu trajeto até a entrada onde eu estava. Nos abrigamos debaixo do telhado da varanda, um trovão estourou mais ao norte e Sam olhou para o céu como se estivesse se conectando com a tempestade. — Você as trouxe? — Pergunto, me recordando da nossa breve conversa sobre as chaves da propriedade. Sam me disse que poderia me encontrar e entregá-las para mim uma vez que ele era o guardião.

— Sim. — Ele puxou um molho de chaves da sua bermuda, um olhar preocupado atravessou o seu rosto. — Bem, eu posso ajudá-la a colocar suas malas aí dentro, mas não posso permitir que fique na propriedade pelo menos até a tempestade passar. Não tem eletricidade aqui e eu não arriscaria ficar na casa sem energia.

Droga! É claro que a casa não tinha eletricidade. Há quanto tempo ela estava desocupada? Pouco mais de dez anos, foi o que Sam me disse antes de confirmar que a propriedade pertencia a Vince desde que foi vendida por um homem chamado Billy Black. Sendo eu a única "herdeira" de Vince, depois que ele partiu, a casa agora pertence a mim.

𝐁𝐥𝐨𝐨𝐝𝐲 𝐒𝐮𝐧 - 𝐓𝐡𝐞 𝐓𝐰𝐢𝐥𝐢𝐠𝐡𝐭 𝐒𝐚𝐠𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora