Jeremy observava a mansão, de cima a baixo, caminhando de um lado a outro, admirado. Após quase uma semana de trabalho a faxina foi finalizada, e o que antes era uma casa velha e empoeirada agora reluzia como um palacete do mais alto padrão. A área externa também fora completamente renovada: a grama fora cortada e agora era regada como deveria ser, as árvores foram podadas, as folhas secas removidas e a fonte devidamente limpa. Tudo estava em perfeita ordem, de fora a dentro, do piso ao teto.
Além de todo o charme da decoração externa, Jeremy procurava um bom lugar para construir um coreto; pensava em fazê-lo ao lado do jardim, na lateral direita, mas achou que ficaria fora de foco. As maiores chance seriam de posicionar o coreto ao lado da capela, onde ficaria à vista desde o portão até a entrada da mansão.
Vagarosamente, com os braços atados para trás, caminhou pensativo na direção da capela – o único local que não fora verificado e arrumado. A porta de madeira adornada com detalhes em ferro estava intransponível, protegida por um enorme cadeado do qual ninguém fazia ideia onde encontrar a chave. Apenas duas vidraças estranhamente estreitas se espalhavam nas duas paredes laterais. Estavam completamente cobertas de poeira, por dentro e por fora. Jeremy esticou-se com dificuldade o mais alto que pôde, e conseguiu ver por entre as teias de aranha, através do vidro, um pequeno altar forrado de vermelho. Acima do altar erguia-se uma cruz branca, emaranhada em teias. Jeremy, naquele instante, arrepiou-se por completo. Tentou forçar a vista, mas nada se fazia enxergar dentro da capela parcialmente tomada pela escuridão.
— Jeremy! – a voz de Albertine soou pela janela do quarto, no andar de cima. Ela apareceu logo em seguida, e ainda conseguiu ver Jeremy espreitando pela vidraça comprida e estreita. – O que está fazendo aí?
— Nada! – ele respondeu com pressa, retornando à frente da casa. – Estava apenas vendo se vale a pena arrombar o cadeado.
— É só uma velha capela, deixe-a em paz.
— Sim. Uma velha capela. É melhor deixá-la mesmo em paz.
— Venha até aqui, vamos escolher o sabor do nosso bolo!
O casamento, o grande acontecimento, já estava sendo cuidadosamente arranjado. Rosa havia sugerido um bolo de massa branca coberto de glacê cor de creme, com pétalas de flores amarelas arranjadas ao redor. Albertine preocupava-se com o vestido que usaria; não possuía nenhum vestido que já não houvesse usado, e não achou que devesse gastar muito adquirindo um novo. Ela era muito boa costureira, por isso estava quase certa de que reconstruiria um de seus antigos vestidos em um completamente novo e formidável vestido de casamento.
Ficou resolvido que não haveria cerimônia religiosa, mesmo com o desacordo de Rosa que dizia que um casamento sem a aprovação de Deus não era essencialmente correto. Estavam preparando apenas uma pequena festa para eles mesmos, na própria área externa da mansão, que seria decorada com buquês e fitas de seda. Para o bufê seriam preparados petiscos, salgadinhos fritos, doces caseiros e um peru assado acompanhado de arroz. De fato, estariam comemorando não apenas uma ocasião especial, mas sim três. O aniversário de Jeremy estava se aproximando, assim como o de Albertine, que nascera pouco mais de um mês depois do rapaz, por isso optaram por reunir todos os festejos em um só evento. Estavam bem cientes de que este casamento seria apenas figurativo, dado o fato de que um enlace matrimonial deveria ser processado em cartório e em seguida celebrado em cerimônia religiosa. Nenhum dos dois, de fato, levava estas regras muito a sério. Teriam um ao outro e nada mais importava.
* * *
Na manhã do grande dia, muito cedo, o vai e vem da cozinha à sala e da sala aos quartos já estava iniciado. Albertine permanecia trancada no quarto aplicando os últimos reparos e detalhes a seu vestido, enquanto Rosa, Judith e Martha cozinhavam o bufê, decidindo entre si quanto tempero aplicar ou não a cada receita. A decoração estava sendo arrumada por Jeremy, Robert e Thomas, e embora soubessem que não eram as mais jeitosas pessoas neste quesito, ficaram orgulhosos ao fim do trabalho. Haviam fincado oito estacas compridas no solo, em pares, unindo-as com faixas de tecido branco, formando um corredor onde a mesa seria posta. No topo de cada estaca um buquê amarelo foi posicionado de maneira espaçosa, formando a ideia final de que fossem pequeninas árvores de copa florida. Já passava do meio-dia quando a decoração foi finalizada, mas tanto as empregadas quanto Albertine pareciam estar ainda bem longe de darem como prontas suas tarefas.
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Albertine | Por onde seguir quando o amor e a morte cruzam o mesmo caminho?
TerrorAlbertine e Jeremy cresceram juntos, e com eles cresceu também o amor. Após tragédias familiares, separações e infortúnios do destino, os dois jovens realizam o tão sonhado casamento. Uma cerimônia simples, proferida naquela que seria sua nova morad...