Capítulo X | Epitáfio

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Jeremy acordou com a garganta mais seca que o comum, e naquele momento lembrou-se que não ingerira nem sequer um copo d'água no dia anterior. Sentou-se de maneira preguiçosa na cama macia, ainda esperando que sua visão se acostumasse à claridade do quarto, que àquela hora da manhã já estava sendo banhado pela luz de um sol muito vivo. Albertine não estava mais na cama, nem mesmo em parte alguma do recinto. Os joelhos fraquejaram quando o rapaz pôs-se de pé; foi até o banheiro, lavou-se, vestiu uma roupa qualquer e desceu.

Ao chegar à sala de jantar ele deparou-se com um farto café da manhã, porém não havia ninguém à mesa. Chegando na cozinha, lá estavam Albertine, Rosa, Martha e Judith, sentadas à pequena mesa de madeira.

— Bom dia, mulheres!

— Bom dia, Jeremy! – responderam as quatro, quase em um coro.

— O que fazem de pé tão cedo?

— Na verdade, Jeremy, você é que demorou demais para acordar – Rosa retrucou sem dar-lhe muita atenção.

— E se demorasse um pouco mais, não iríamos esperá-lo para o café – Albertine complementou de forma simpática.

— O que estamos esperando, então?

A refeição matinal foi consumida sem pressa, entre conversas e saborosos risos. Jeremy falou sobre seus planos em construir um belo coreto ao lado da capela, ideia que foi aprovada com entusiasmo por todas elas. Já Albertine, por sua vez, disse que iria acompanhar Rosa e as outras até a vila, onde iriam comprar os mantimentos da semana, logo após o café. Robert ainda não havia retornado, assim, Thomas seria o guia desta vez.

Cerca de meia hora após o café, todas elas já se preparavam para a saída.

— Não demorem muito! – gritou o rapaz, parado à porta, enquanto as mulheres entravam uma a uma na carruagem.

— Chegaremos antes das duas da tarde – Rosa respondeu.

— Cuide de Albertine!

— Ela não é um bebê, Jeremy! – ela voltou a falar, em deboche.

— Tenham cuidado!

Este último pedido não chegou a ser ouvido por elas, pois a carruagem já ultrapassara os limites da propriedade. Thomas desceu e fechou os portões, enquanto Jeremy já fechava a porta da frente às suas costas. Estava agora na sala principal. Não havia se dado conta, antes que todos saíssem, que estaria sozinho na mansão, como da primeira vez que atravessara aqueles portões. Manteve-se inerte como uma estátua de cera ao lado das escadas. Por um momento sentiu-se tranquilo e seguro, já que aquela sala agora estava clara e viva, e não escura e triste como antes. Logo deixou esvaírem-se estes pensamentos e dirigiu-se de volta ao quarto; talvez pudesse descansar um pouco mais até que todos retornassem.

A porta do quarto rangeu de forma estranha. Ele entrou, largou-se na cama e tentou relaxar, em vão. O ambiente estava claro demais, e seus olhos não se permitiam permanecer fechados em um dia tão agradável. Jeremy levantou-se, então, com um só salto. Resolvera procurar algo para se distrair. De fato, ele sabia que aquele tempo sozinho seria como o tempo livre de uma criança em um parque de diversões: as opções eram inúmeras, os brinquedos incontáveis. Aquela imensa casa ainda estava sumariamente inexplorada.

De forma aleatória, Jeremy passou a escolher a qual ambiente iria primeiro. Pensou na biblioteca, mas logo sentiu que não estava interessado em ler. Pensou na adega, no porão, na galeria... mas nada parecia atraente o suficiente. Ainda sem decisão tomada, caminhou vagarosamente pelo corredor, seus passos produzindo sons rítmicos, até que alcançou a escada que levava ao sótão. Era isso que estava procurando – o sótão que visitara apenas uma vez.

Albertine | Por onde seguir quando o amor e a morte cruzam o mesmo caminho?Onde histórias criam vida. Descubra agora