Capítulo 15 - O bate-papo

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Saí da ala hospitalar no dia seguinte. A enfermeira estava tremendo muito e bem que eu tinha percebido que alguém estava brigando com ela do lado de fora da sala, bom que não era Melissa e Jean de novo. Ela tirou a faixa branca que cobria a minha boca, disse que estava tudo bem e me deixou sair de lá. Consultei o relógio da ala e vi que eram 15:34, então Amy devia estar no refeitório comendo o seu lanche assim como todas as outras. Por isso, fui disparadamente até lá. Nunca achei que me tornaria amiga de uma mulher cujo hobby era sequestrar pessoas... mesmo ela sendo obrigada.

Sentei-me junto com ela naquelas mesas circulares de onde sempre sentávamos, mas ela não teve coragem de fazer nem um pio. Sua aparência estava pálida, pensava que talvez ela estivesse passando mal, mas depois olhei para trás e vi que, novamente, Melissa estava encarando-a comer. Fiquei muito irritada com aquilo, mas comi assim como Amy: silenciosamente.

Amy só tocou na comida para ficar balançando a alface do sanduíche que estava em sua bandeja com os dedos, fora isso, ela não comeu e nem colocou nada na boca. Fiquei preocupada com ela, mas eu não podia fazer nada e, quando eu fiz, o resultado foi um maxilar machucado e uma boca sangrando. Melhor deixar Melissa se acostumar com as coisas novas que estão acontecendo, e, se ela não se acostumar, vou ter que dar um jeito nela. Vou ter que dar um jeito.

O sinal da clínica tinha tocado às 15:50, a hora em que termina o horário de lanche, para todas as pacientes voltarem às suas celas. Amy se levantou rapidamente de sua cadeira quando isso aconteceu, sem nem ao menos dar uma olhadinha sequer para mim, levou a sua bandeja até o lugar de onde ela ficava e entrou na fila das pacientes do bloco B. Vi que Melissa saiu disparando para perto de Amy e ficou atrás dela no lugar da fila e, logo atrás de Melissa, Jean. Juntas, todas as pacientes do bloco foram para o B. Eu fui para o meu, o C.

Shirley finalmente estava na fila, na hora certa. Geralmente só a via quando ela já estava dentro da cela quando eu chegava lá. Por algum motivo hoje ela não se atrasou.

Antes de nós, a fila do bloco A começou a ir até o seu devido corredor, e nós, do bloco C, fomos logo após elas. Quando chegamos ao núcleo da clínica, vi, através da janela da sala de televisão, que umas cinco pacientes estavam lá, sentadas em algumas de várias outras cadeiras assistindo ao noticiário da cidade. Congelei na hora que vi o rosto do Sr. Schneider lá na TV, com o título da notícia de PSICÓLOGO SE JOGA DE PRÉDIO APÓS CONSULTA COM PACIENTE. Fiquei sem reação durante um tempo, depois fui até o segurança Engel (que era o encarregado do nosso bloco) e pedi permissão para ir à sala de TV e ele acabou deixando depois de encher bastante o seu saco.

Praticamente arrombei e quebrei a porta da sala quando cheguei lá, as pacientes que ali estavam todas me olharam juntas, ao mesmo tempo, de forma assustada. Ignorei-as e prestei atenção na TV, onde uma entrevistadora chamada Juliet Reed falava sobre o caso.

- ... e para o trauma de hoje - dizia a entrevistadora -, temos um psicólogo muito famoso aqui da cidade que cometeu suicídio após consulta com uma cliente muito querida na tarde de hoje. Pessoas juram tê-lo visto de jogar do prédio onde fica o seu consultório logo depois que ela saiu de lá. Para saber mais, confira o News de hoje, às nove horas e meia da noite.

Comecei a tremer descontroladamente enquanto levava a minha mão até a boca, começando a chorar. Duas lágrimas escorreram em cada uma das minhas bochechas. Fechei os olhos e tentei me acalmar enquanto passava um comercial de produto de limpeza na TV durante os comerciais.

Uma das pacientes que estavam ali se levantou da cadeira e pôs uma de suas mãos em meu ombro pelas costas e sussurrou:

- Está tudo bem, querida?

Quando nós dormimosOnde histórias criam vida. Descubra agora