Capítulo 11 - Café da manhã

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Eu estava dentro da minha cela, sozinha. Não que eu dormisse sozinha ali, não, de jeito nenhum. Mesmo se dormisse, não teria coragem. Aquele lugar era assustador, sabe. Hoje, por perto das 5h da manhã, pedi permissão para ir ao banheiro, porque dizem que é nesse horário que lá está mais vazio. Não devia ter dado ouvidos a isso, porque, assim que cheguei lá, me deparei na mesma hora com duas mulheres (uma jovem e uma idosa) vomitando drogas nas privadas.

Já faz quase duas semanas que estou aqui, nesse lugar sujo e aterrorizante, parecendo um cenário de um filme de terror. Eu fico na penúltima cela no final de um longo corredor, onde há várias e várias portas (que não me dei ao trabalho de contar) em cada um dos dois lados das paredes. O lugar não era muito higiênico, principalmente em umas duas privadas dentro do banheiro que não tinham água no fundo para dar descarga, onde foi que eu encontrei um rato. Grande e peludo.

Dividia a minha cela (me recusava a chamar aquele lugar de quarto) com uma mulher conturbada. Nunca descobri o nome dela, ela nunca me falava. Nos primeiros dias em que estive aqui, ela ficava acordada durante todas as noites em claro tremendo e cochichando coisas para si mesmo. Eram coisas de dar arrepios. Por algum motivo, em uma das noites, ela ficava repetindo a mesma palavra toda santa hora que era "morte", e, no dia seguinte, vi dois policiais carregando um corpo dentro de uma grande lona preta pelo corredor de onde ficavam os quartos. A mulher estava atrás de mim, ainda cochichando aquela mesma palavra.

Morte.

Haviam boatos que rondavam pela clínica de que ela poderia ser algum tipo de vidente, porém não acredito nesse tipo de coisa. Ainda. Essa foi a única vez em que ela "previu o futuro" (me acho uma idiota falando isso). Acabei me acostumando em dormir com ela no mesmo quarto depois de uns quatro dias, quando nem me importei mais com aqueles tics que ela dava e dá até hoje.

A porta da minha cela estava aberta, estava sentada em cima da minha cama (era um beliche, eu ficava com a de cima, tinha medo da mulher maluca acabar caindo da cama por causa de seus tremeliques), com os joelhos na altura do meu queixo, onde estava apoiada com ele. Estava lembrando da minha filha, oh, pobre menininha... Ela pode já ter 14 anos, mas nunca vou deixar de chamá-la dessa forma. E meu filho, como sinto sua falta. Me preocupo pensando de que eles não estejam se dando bem durante esses dias, isso me deixa louca. Eles nunca foram de brigar, mas nunca conseguiram nem compartilhar um quarto uma vez quando fizemos um acampamento dentro de uma pequena cabana de madeira no meio de uma floresta. Os dois não conseguiram dormir naquela noite porque estavam "ocupados demais" brincando de guerra de travesseiro. Eu e meu marido ficamos tentando dormir a noite inteira, mas deixamos eles brincarem à vontade naquela noite porque eles nunca tinham se divertido tanto. No dia seguinte, eles dormiram o dia inteiro.

Sorri tendo essas lembranças.

Para o meu azar, um dos seguranças da clínica (sim, aqui tem isso) parou em frente a porta da minha cela, com suas mãos praticamente presas ao seu cinto porque ele nunca as tirava de lá (não poderia ser respeito, não faria sentido). Encarei-o apenas revirando o rosto, não estava a fim de me levantar, mas sabia que ele iria pedir isso. Pedir não, mandar. Era isso que eles faziam. Eles mandavam nas prisioneiras daqui.

— E aí, drogada — disse ele, em tom de deboche. Era assim que ele me chamava, e a todas também. — O que você está fazendo aqui?

— Eu só estou em paz — respondi secamente. — Posso ter pelo menos isso aqui?

Ele ficou um tempo calado, me olhando de cima à baixo.

Está na hora do lanche, por que não vai lanchar com as outras?

— Estou bem aqui. Não estou com fome.

— Bom, mas é a regra, não é? "Todas as drogadas têm o seu horário de lanchar das 15h às 15h30", então por que você não me faz o favor de levantar essa bunda daí e ir até o refeitório junto com as outras, hein?

Quando nós dormimosOnde histórias criam vida. Descubra agora