Nunca pensei que alguma coisa daquelas poderia ser possível de acontecer na minha vida. Nunca na minha vida inteira eu já ouvira falar de alguém que já tivera algum tipo de surto desses que eu tive. Não tenho certeza se foi uma das minhas paralisias, não tenho certeza se foi um pesadelo, muito menos um sonho, mas o motivo de eu não saber de nada disso é que... foi tão real. Peço aos espíritos que tomam conta de mim para nunca mais ter um pesadelo desses na minha vida.
Por sorte, não acordei meu irmão com meus altos berro que dei durante o resto da madrugada. Não sei como ele nem foi ao meu quarto ver como eu estava, mas era melhor daquele jeito. Ele anda se preocupando demais comigo.
Sabendo dos riscos que eu corria para o resto da minha vida com aqueles pensamentos noturnos horrendos em minha mente todas as noites, corri desesperadamente até minha caixinha de anotações. Lá dentro encontrei o papel da receita do remédio que o Sr. Schneider havia me dado na nossa última consulta. Ele ainda estava amassado, mal dava para conseguir ler agora, porque o papel era um daqueles post-its amarelados, o que dificultava a minha visão. Liguei a luz do meu quarto, percebendo só naquela hora de que eu estava enxergando tudo apenas com a luz do luar entrando pela janela do meu quarto. Minha cabeça estava a mil.
Curiosa, liguei o meu notebook com o intuito de pesquisar sobre o remédio que ele tinha me passado. Ele não tinha me dito nada sobre como aquilo iria parar com os meus pesadelos ou que aquilo iria me fazer prestas mais atenção nas coisas. Ele não disse nada. Preocupada de poder tomar um veneno sem querer, pesquisei sobre ele, era algum tipo de antibiótico. Não consegui ler o nome dele, a letra do Sr. Schneider parecia grega.
— Mas que merda!
Passei o resto da madrugada em claro, esperando ansiosamente para o sol nascer, clareando todo o meu quarto. Hoje, depois de muito tempo, terei um consultinha com o meu psicólogo.
Olhei para o meu relógio em cima da escrivaninha, sem sair da cama ou até mesmo sem sair de baixo das cobertas. Apenas movimentei os meus olhos e consegui ver as horas ali: seis da manhã.
Tirei as cobertas de cima de mim e fui até o meu guarda-roupa e coloquei a minha roupa casual de sempre para ir às ruas: moletom de frio, calça jeans e um sapato preto. Fiz o meu rabo de cavalo de sempre e desci as escadas, encontrando com o meu irmão ainda adormecido no sofá da sala de estar. Fui até ele e bati no sofá, fazendo-o tremer, assustado.
— Meu Deus, Bill! — gemeu ele, apertando os olhos, que pareciam estar ardendo. — Desse jeito você assusta qualquer um!
— Levante-se, vou fazer o café — disse direta, já indo até a cozinha.
Mike se sentou no sofá, ainda reclamando. Parecia estar com frio porque estava todo arrepiado. Pegou a sua blusa que usou como cobertor durante a noite e se cobriu com ela, segurando seu celular.
— Que horas são? — pergunta, olhando o horário na tela do celular bloqueado. — Seis da manhã? — Virou-se para mim, que estava servindo meu café em uma caneca branca de porcelana. — O que está fazendo acordada à essa hora?
— Tenho compromissos para fazer na rua — respondi, sem nem sequer olhar para a cara dele. Bebi um gole do café, estava frio. Joguei o resto que estava dentro da garrafa fora e coloquei água com açúcar para ferver.
— Compromissos? — disse ele, se levantando do sofá, indo até mim, bocejando como um cachorro. — Que tipo de compromissos?
Mais uma daquelas preocupações bobas dele, já estava cansada daquilo, mas tentei ignorá-lo o máximo que podia.
— Vou ir visitar o meu psicólogo.
Mike assentiu, mas não parecia satisfeito.
— Então — começou ele —, já aproveitando que vou ficar sozinho de novo, vou chamar uns colegas do futebol para cá.
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Quando nós dormimos
TerrorBillie Port é uma adolescente de 14 anos que tem um transtorno do sono: a paralisia. Com o seu foco em acabar de vez com seus sonhos assustadores, ela vai à consultas de psicologia para amenizar a situação, mas tudo começa a piorar quando sua mãe va...