michael
Eu já não estava mais suportando aquela voz enjoada da minha irmã me perguntando quantos minutos faltavam para que a nossa mãe chegasse em casa. Já se passara das seis da manhã, no relógio de ponteiro da sala de estar estava marcando 6:31 e nada de Elizabeth Port chegar em casa. Todas as vezes em que eu ao menos piscava os meus olhos, Billie já ia me perguntar se era a mamãe que tinha chegado. "Não" era sempre a resposta.
Estava assistindo a um tipo de jogo que adultos idiotas faziam em rede nacional na TV, era algo constrangedor, mas era a única coisa que estava disponível e de graça para assistir no meu pacote de canais no aparelho da TV. Era um programa chamado Money Earned, do qual o apresentador que era nítido que usava uma peruca chamado Ralph Walker, convidava um casal que não tinha orçamento o suficiente para poderem "realizar os seus sonhos". Babaquice, eu sei, mas era até engraçado ver o casal errando as perguntas que tinham respostas tão fáceis.
O casal de hoje era um homem chamado Sergio Ortiz e uma mulher chamada Kathleen Anderson. Os dois queriam dinheiro para conseguirem pagar uma faculdade super famosa para a sua filha. Era triste vê-los errando uma resposta tão óbvia que poderia até ser comparada como "um mais um é igual a dois". Eles devem errar de propósito só para receberem depois. Televisões sempre mentem, podem apostar.
De qualquer modo, os dias aqui na cidade costumavam sempre serem mais frios durante o período da manhã, mas por algum motivo hoje está um pouco quente. Recebi uma mensagem no celular enquanto tirava a blusa de frio que estava usando, sentado no sofá da sala.
Era a minha mãe.
Mãe 6:33
Oi, querido! Como está?
Michael 6:33
Oi, mãe! Vou bem e você? Por que não chegou até agora? Eu e Billie estamos preocupados com você.
Mãe 6:34
Me desculpem, mas é porque já era mais de meia-noite quando o ônibus voltou a andar. O motorista, ele... enfim, eu tive que alugar um quarto do hotel durante apenas uma noite antes de chegar aí em casa.
Michael 6:34
Espera, o que aconteceu com o motorista?
Mãe 6:34
Isso não importa agora. O fato é que eu não queria ter que chegar em casa já mandando vocês irem dormir, por isso estou indo hoje... mais tarde. Já estou dentro do ônibus, sendo que era até mais fácil eu ir a pé porque já estou na cidade. De qualquer forma, já estou chegando. Até mais, querido.
Michael 6:35
Tchau, mãe.
Bloqueei a tela do celular, pensando no que deve ter acontecido com o motorista do ônibus da minha mãe. Algo horrível, eu sei, até porque ela nem quis contar o quê.
Tinha acabado de me levantar do sofá e desligado a TV, indo em direção à escada que levava ao segundo andar, Billie estava lá em cima, no seu quarto. Provavelmente ela deve estar desenhando, ou algo do tipo, ela costuma fazer isso de vez em quando enquanto pensa sobre a nossa mãe. É triste, claro, mas é assim que ela se sente confortável. Vai ver o desenho é para a nossa mãe, vai ver...
Já tinha subido as escadas quando cheguei ao corredor já sendo recepcionado por uma música no volume máximo vindo do quarto de Billie. Era um estilo de música Lo-fi Hip-hop, ela ouvia esse tipo de música para desenhar, mas acabei que me acostumando com elas e também as uso para coisas parecidas, ajuda a concentrar.
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Quando nós dormimos
HorreurBillie Port é uma adolescente de 14 anos que tem um transtorno do sono: a paralisia. Com o seu foco em acabar de vez com seus sonhos assustadores, ela vai à consultas de psicologia para amenizar a situação, mas tudo começa a piorar quando sua mãe va...