Na empresa Wilson…
Karlos saiu do elevador bastante irritado com alguma coisa e, com passos rápidos, foi até uma determinada sala. Apenas cumprimentou, com um sorriso educado, minha tia Carla, que estava passando um esfregão no chão. Ela respondeu com um sorriso e um aceno. Karlos estava tão focado que passou pela secretária do irmão, mas não ligou. A funcionária tentou impedir, mas não conseguiu. Fred apenas levantou sua cabeça para avistá-lo em sua porta, surpreso ao vê-lo ali.
Karlos: — Maldito! — exclamou, adentrando abruptamente a sala de seu irmão. — Foi você, não foi?
Secretária: — S-Senhor, eu tentei impedi-lo — disse a moça, ofegante, aparecendo atrás de Karlos, com receio da reação do chefe.
Fred: — Pode ir — de poucas palavras, ele apenas disse friamente para a mulher, que logo saiu da sala, fechando a porta. — Você perdeu os neurônios que ainda te restam? Como que entra na minha sala dessa forma?
Karlos: — Não testa minha paciência. — Ainda irritado, afastou os cabelos castanhos para trás e foi até a mesa do irmão. — Você mandou alguém proibir que ficássemos ali na torre. — Jogou fortemente as mãos na mesa do irmão. — Confessa!
Fred: — É, parece que enlouqueceu de vez. — Retornou a examinar os papéis em sua mesa, fazendo uma anotação ou outra. — Saía agora, se não chamarei os seguranças.
Karlos ficou ainda mais irritado com o cinismo do irmão e, por isso, passou as mãos na mesa dele, jogando tudo que estava sobre ela para o chão. Fred ficou assustado e levantou rápido da cadeira. Karlos deu a volta na mesa para enfrentar o irmão e começaram uma batalha visual. Os olhos castanhos de cada um pareciam ter iniciado uma batalha mortal.
Karlos: — Essa empresa também é minha, antes que você se esqueça.
Fred: — Ah, agora você se preocupa com a empresa? — provocou, olhando fixamente nos olhos do outro, não dando um passo sequer para trás. — Pensei que sua prioridade fosse ficar com aquele povo da rua. Você tinha que me agradecer, por acabar com essa palhaçada de uma vez por todas.
Se Karlos estava bravo antes, aquilo foi o estopim. Empurrou o irmão contra a parede, pressionando o pescoço dele com um de seus braços, enquanto com a outra mão segurava o queixo dele, sem se importar se aquilo machucaria Fred ou não. Não foi preciso que o outro falasse uma palavra sequer, ele apenas… Sorriu malicioso. E aquilo foi a confirmação, Karlos tinha razão em acusá-lo. Fred foi o culpado. Passaram alguns instantes se fitando, como se a próxima ação fosse decidir a disputa de um século. Entretanto, Fred quebrou o silêncio com uma simples atitude: cuspir na cara do irmão e, em seguida, empurrá-lo para longe.
Karlos: — Desgraçado! — berrou o de madeixas castanhas, limpando seu rosto. — Isso não vai ficar assim, Fred, não vai! — gritou uma última vez, dando uma olhada fatal para seu irmão. Por fim, direcionou-se para a saída da sala.
Secretária: — Eu… quero me desculpar de novo, senhor! — Após a saída de Karlos, a jovem reaparece com as mãos na frente do corpo, apavorada. Mas ele ficou calado, recolhendo aqueles papéis do chão. — Isso não vai acontecer novamente, eu juro!
Fred: — Não vai, mesmo. — Terminou de arrumar os papeis sobre sua mesa. — Porque você está demitida, arrume suas coisas e saia hoje mesmo.
Secretária: — Por favor, não! Preciso muito desse emprego-…
Fred: — VOCÊ ESTÁ SURDA? — Levantou sua cabeça para fitá-la, completamente nervoso. — RUA, AGORA! — apontou para a saída da sala, vendo a moça derramar lágrimas de seus olhos. — Enquanto você chora, peça para Carla vir à minha sala o mais rápido possível. Agora, suma da minha frente.
A secretária continuou derramando inúmeras lágrimas e bem assustada com a reação de seu patrão, ex patrão. Mas seguiu a ordem e saiu da sala, indo em direção à sua mesa para arrumar as suas coisas. No caminho, avistou Carla e deu o recado para ela. Minha tia achou estranho quando Fred chamou para ir à sala dele. Ela ficou com medo naquele momento. Afinal, tinha conhecimento de como Fred tratava alguns de seus funcionários, assim como a secretária que acabou de ser dispensada. Receosa, Carla seguiu seu caminho até aquela sala.
Carla: — Licença, senhor. — Ela deu três batidas na porta, abrindo-a logo após ouvir Fred dizer para entrar. — O senhor me chamou?
Fred: — Sim, Carla. Por favor, sente-se — falou um pouco mais calmo, tentando deixar isso nítido, pelo menos. — Há algo que eu gostaria de lhe perguntar. — Finalizou, enquanto terminou de arrumar aquela pilha de papéis.
Carla: — É claro. — Tia Carla fez o que ele pediu e se sentou de frente para ele.
Fred: — Como já deve saber, estou sem secretária no momento. Sabe de alguém que esteja disponível e seja qualificado para a vaga? — Enfim, suspirou e olhou para minha tia, com os seus olhos castanhos.
Carla: — Bom, senhor… Tem a minha sobrinha, eu acho. Ela estudou gestão empresarial, serve? Além disso, ela é bem inteligente e começará a faculdade, mas, mesmo em casa, está sempre estudando.
Fred: — Ela tem experiência com o público? E quantos anos ela tem?
Carla: — Ela tem vinte e dois anos, senhor. E sim, ela trabalha com público desde novinha.
Fred: — Certo, como você é uma funcionária exemplar da casa, de anos, darei este voto de confiança. Darei a sua sobrinha uma oportunidade de estágio, como minha secretária. Ela indo bem, eu a efetivo depois. Quero-a aqui amanhã, ok?
Mas ali, minha tia que estava bem feliz… Expressou uma feição de tristeza. Pois se lembrou de que eu ainda não havia pegado o meu certificado e, amanhã, será sábado, não teria como eu pegar em um final de semana. Diante disso, Carla demonstrou preocupação, pois sabia que aquela oportunidade de emprego seria extremamente benéfica para mim. Mas, ao mesmo tempo, em que essa oportunidade surgiu… Sumirá também. Ela sabia que, ao falar para seu chefe que eu não poderia ir amanhã, ele não reagiria bem.
Então, como minha tia iria convencê-lo? Eu não sei como, mas ela conseguirá.
Carla: — Senhor, amanhã é sábado, ela ainda não pegou o certificado. — Ali, Fred cerrou os olhos, voltando a ficar um pouco irritado. — Posso trazê-la aqui na segunda-feira, sem falta. — Percebeu o silêncio dele, então continuou. — Por favor, senhor!
Fred: — Se ela não vier amanhã, vou ver outra pessoa. — Desviou o olhar pegando o seu celular em seu bolso.
Carla: — Senhor — botou as mãos na mesa dele, chamando a atenção dele de volta — perdoe-me por isso, mas… Por favor, eu te peço. O senhor mesmo disse que sou uma ótima funcionária e tenho anos de casa, sempre dei tudo de mim para esta empresa. Só estou lhe pedindo para aguardar até segunda-feira, não vai se arrepender.
Fred: — Hum… Audaciosa, Carla. — Olhou para as mãos dela sobre sua mesa, minha tia entendeu o recado e retirou as mãos dali. — Você me pegou. — Colocou o celular sobre a mesa. — Está bem. Segunda-feira, quando a empresa abrir, eu a quero aqui. E outra coisa, se isso não acontecer, sua sobrinha não será a única desempregada, se você me entende. Agora, pode sair, Carla.
Carla: — Entendi, senhor. Não se preocupe. Confie em mim.
Minha tia, com um grande sorriso no rosto, se levantou e agradeceu com a cabeça, para finalmente girar os calcanhares em direção à saída da sala. Fred achou a situação interessante, depositando algumas expectativas em… mim.
O resto do dia foi tranquilo, enquanto minha tia não via a hora de chegar em casa para me dar a maravilhosa notícia. Enquanto Fred tentou não pensar no que seu irmão fez mais cedo, pois só de lembrar a irritação voltava junto. Então, já anoitecendo, Fred chegou em casa e, ao abrir a porta, retirou o paletó, indo para o sofá.
Simplesmente se jogou sobre ele, deixando o paletó ao seu lado.
Emma: — Oi, filho. — Emma ouviu uns barulhos vindo da sala e saiu do seu quarto, indo até a sala. — Imaginei que fosse você. Como foi o seu dia hoje? — indagou sorridente, ajeitando alguns de seus fios castanhos para trás da orelha, se sentando ao lado dele.
Fred: — Cansativo, mãe. Estou precisando, aliás, merecendo umas férias, hein.
Emma: — Você está precisando é de um toque feminino em sua vida. — Brincou, enquanto seu filho apenas revirou os olhos. — É sério, filho. Já passou da hora de você arrumar alguém, se casar, construir sua família.
Fred: — Ah, de novo esse papo… — resmungou enquanto se levantou do sofá, pegando seu paletó. — Vou para o meu quarto, que eu ganho mais. — Depositou um beijo na testa de sua mãe e passou por ela, indo até as escadas. — Boa noite, mãe.
Emma: — Pensa no que eu te falei, hein? — perguntou mais alto, vendo seu filho subir as escadas. Ele apenas acenou com a mão livre, ainda de costas. Por fim, sozinha na sala, ela suspirou, preocupada. — Preciso casar esse menino, alguém que amoleça esse coração bruto dele, e quero netinhos também. — Sussurrou para si mesma.
Já na casa de tia Carla…
Miranda: — Onde vocês estavam? — Mamãe se levantou do sofá quando entramos em casa. — Posso saber, por acaso?
Theo: — Estávamos procurando emprego, mãe — falei, fazendo um coque com as minhas madeixas douradas. — Algo que a senhora deveria estar fazendo também.
Miranda: — Não seja boba. Já fiz o meu trabalho, tive duas filhas maravilhosas, ou você acha que essa carinha de boneca que vocês têm veio do pai de vocês? Esta cidade está repleta de homens ricos, basta usar a beleza que dei a vocês para encontrar um desses, em seguida, pronto, é só se casar.
Theo: — Meu Deus, e eu ainda me surpreendo com o que a senhora fala… — Apenas bufei e revirei os olhos, indo em direção ao meu quarto.
Thame: — Mãe, você pirou, é? O que foi isso? — minha irmã perguntou, mas minha mãe só deu de ombros e voltou a se sentar no sofá.
Soll: — Você é... doente.
Minha prima falou e, logo depois, ela e minha irmã foram até o meu quarto, por perceberem que eu estava bastante chateada com a postura que nossa mãe adotou. Talvez eu seja a boba, que ainda me sinto entristecida com isso, mesmo que ela seja assim há anos, ou melhor, desde sempre. Acho que Thame se acostumou mais com isso. Porém, eu não… não consigo. Ela é nossa mãe, afinal de contas. Não consigo não me importar, não me abater com essas coisas. Eu queria, mas… não consigo.
Vi Thame e Soll entrarem no meu quarto, vindo em minha direção. Fiquei com os braços na janela, vendo a paisagem linda lá de fora. Isso é algo que tenho que agradecer, a vista daquele quarto era maravilhosa. Por estar no segundo andar, eu conseguia ver bastante coisa pela janela, era simplesmente fascinante.
Thame: — Você não tem que ligar para essas atitudes dela, faça como eu.
Theo: — E você acha que eu não tento? Mas, vocês ouviram o que ela falou lá embaixo, ela deve estar perdendo a noção, só pode. — Me virei para ficar de frente para elas, observando-as se sentarem na minha cama.
Soll: — Tia Miranda sempre foi doida, e convenhamos, patética. — Eu e minha irmã nos olhamos, pois, apesar de tudo, ela era nossa mãe. Soll percebeu nossa postura, então continuou. — Foi mal, meninas. É que às vezes… É mais forte do que eu.
Theo: — Tudo bem, Soll.
Thame: — É, não esquenta. Nós entendemos.
Soll: — Bom, o sol já se pôs, mas, vi que tinha muitas estrelas no céu, hoje.
Thame: — Ué, você já se pôs? Mas está aqui ainda.
Inicialmente, eu e minha prima não compreendemos, mas logo percebemos a piada que minha irmã fez, o trocadilho com o nome de Soll. Então apenas rimos, Thame riu mais ainda, da nossa lerdeza de perceber a piada. Minha prima nos pegou pelos braços e fomos para fora do quarto. Ela nos levou para o último andar da casa, que era o térreo. Rapidamente, olhamos para o céu, vendo as inúmeras estrelas e o quão lindo que estava aquela noite. Nos entreolhamos e logo avançamos, apoiando-nos no muro, a fim de apreciarmos mais a vista.
Soll: — Sou completamente apaixonada pela vista daqui de cima.
Eu e minha irmã apenas concordamos, pois de fato a vista era realmente belíssima. Ficamos ali por longos minutos, conversando um pouco, mas o foco era observar o céu e, de fato, estávamos realmente envolvidas com aquilo. Para muitos, poderia ser algo bobo ou entediante, mas não para nós. Temos isso em comum, vidradas em observar o céu, seja o nascer ou o pôr do sol, as estrelas, as nuvens volumosas. Então, periodicamente, fazíamos isso juntas, nós três.
Enfim, voltamos para casa, tomamos um banho delicioso, afinal, passamos o dia na rua em busca de um emprego. Eu não via a hora de me deitar, já que estava determinada a acordar cedo no dia seguinte para prosseguir com minha busca. Dessa vez, a tia Carla demorou para chegar do trabalho, então eu e as meninas preparamos uma sopa de legumes e começamos a organizar a mesa do jantar.
Carla: — Cheguei, família. — A voz dela ecoou pela casa.
Após terminarmos de arrumar a mesa, fomos até a sala e vimos a tia Carla carregando diversas sacolas de mercado, demonstrando um grande cansaço. Então logo a ajudamos com aquelas sacolas, levando-as até a cozinha. Carla veio conosco até a sozinha, então eu, Thame e Soll fomos arrumando as compras.
Carla: — Enquanto vocês fazem isso, deixa eu falar… Tenho uma boa e má notícia. — Enquanto guardávamos as compras, olhamos para tia Carla. — Qual vocês querem primeiro?
Theo: — A boa, tia, claro! Por favor — falei animada.
Carla: — Acho que consegui arrumar um emprego para você, minha sobrinha.
Theo: — O quê? Como assim? — indaguei feliz, colocando os ovos na geladeira, terminando a minha parte. Fui até ela. — Me conta tudo! — exclamei.
Carla: — Meu patrão está procurando por uma nova secretária, para trabalhar diretamente com ele. — Thame abriu a boca para dizer algo, mas minha tia prosseguiu. — Eu sei, nós sabemos, Theo não é secretária. Entretanto, ele quer alguém para estágio agora. E falou que, dependendo do desempenho da Theo, ele a afetiva depois. Ele pareceu satisfeito quando eu disse que você estudou o ramo empresarial.
Soll: — Está tudo muito lindo e incrível… Mas e a notícia ruim, mãe, qual é?
Carla: — Ele quer você lá, segunda-feira, assim que a empresa abrir.
Pronto, aquela realmente era uma notícia ruim. Como eu estaria lá, sem o meu certificado? Eu ainda não o tenho em mãos, e para piorar, eles só vão começar a entregar a partir de quarta-feira. Que mágica eu faria para ter esse pedaço de papel pela segunda, de manhã? Até onde sei, não sou nenhuma mágica, nenhuma de nós somos. Então, o que eu poderia fazer? Chorar, pelo emprego que nem cheguei a ter e já escapou de minhas mãos? Porém, minha tia logo tratou de me acalmar, colocando uma mão em meu ombro. Respirei fundo e olhei para ela. Afinal, tia Carla sabia de tudo isso, do prazo para a entrega dos certificados.
Carla: — Eu sei, deve ter vários pensamentos correndo pela sua cabeça, não é? — ela me perguntou com um sorriso, eu apenas concordei. — Fique calma, sobrinha. Ele nos deu até segunda-feira, e estaremos lá, eu e você, e seu certificado em mãos.
Theo: — Mas como, tia? Eles não vão entregar o meu certificado antes da data.
Carla: — O não você já tem, o que tem a perder? Vamos lá amanhã, pegar esse certificado. Conte sua história, os seus motivos, eles vão entender. — Tentei movimentar os lábios, para proferir algo, porém sem sucesso. — Theo — disse séria, mas confiante, me olhando nos olhos — você vai conseguir, acredite em mim, em você mesma. Estou com você.
Soll: — Nós estamos. — Logo, minha prima e irmã vieram para perto de mim.
Thame: — É, você vai conseguir, mana. Confiamos em você.
Observando os sorrisos otimistas e alegres de cada uma, não pude conter algumas lágrimas em meus olhos. Comecei a chorar e sem pensar duas vezes abracei tia Carla, bem forte. Ela me abraçou de volta, fazendo carinho com uma das mãos em minhas madeixas douradas. Não demorou para que Thame e Soll entrassem naquele abraço em família, o que me deixou mais emotiva.
Elas tinham razão, não estou sozinha. Eu as tenho comigo, a minha família.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Casei Com O Meu Cunhado (EM REVISÃO)
RomanceTheodora Thelles é uma jovem de família humilde. Depois que ela, sua irmã e sua mãe se mudaram para Paris, a vida se complicou para Theo. Ela se apaixona por um dos irmãos Willson. Obrigada a casar pela sua mãe, para salvar o nome da família, deixan...