7° CAPÍTULO

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A viagem seguiu tranquila e agradável, mal percebemos essas duas horas passarem. Ou será que já se passaram mais de duas horas? Durante nossa conversa, Karlos compartilhou sobre os projetos e sonhos que ele e seus colegas conseguiram realizar juntos. O mais interessante é que não me cansei de ouvi-lo falar; pelo contrário, Karlos tinha tanto carinho pelas suas histórias que era contagiante escutá-lo falar. Além disso, não posso mentir, observar aqueles lábios rosados proferindo todas aquelas palavras… era um bônus adicional.
Demorou mais alguns minutos até que o ônibus estacionasse perto de umas árvores. Olhei pela janela e vi as folhas vermelhas em algumas árvores, e folhas amarelas em outras. Criando um cenário belo de se ver, de se estar. Com um enorme sorriso em meus lábios, acompanhei os demais para descer do ônibus.

Theo: ㅡ Tudo aqui parece muito lindo mesmo. Mas, eu achei que teria mais… movimento ㅡ disse, quando todos saímos do veículo. Olhei o cenário em volta, analisando-o. ㅡ Teremos algum guia, algum GPS, ou algo parecido?
Karlos: ㅡ Não se preocupe com isso. ㅡ Esboçou um sorriso reconfortante. ㅡ Conheço Paris tão bem, quanto a palma de minha mão.

É como se estivéssemos na entrada de uma floresta. Pois não havia comércios ao redor e muito menos pessoas passeando por ali. Entretanto, mesmo sendo uma floresta, o local é, de fato, lindo. Pois as árvores seguiam o mesmo padrão das que vi ainda no ônibus. Então, as folhas vermelhas faziam um contraste visual incrível com as folhas amarelas. Particularmente, nunca vi nada parecido. Na verdade, eu nem sabia que uma floresta daquele tipo existe.
Não demorou muito para Karlos sinalizar que adentraríamos a floresta. Todos ajustamos nossas mochilas/bolsas e seguimos o homem de cabelos castanhos, que liderava a caminhada à frente. É impressionante ver como Karlos conseguia nos deixar tranquilos, mesmo estando em uma floresta deserta. Além disso, o carinho e preocupação que ele tinha para com todos ali. É como se realmente confiássemos nele, para ser o nosso guia deste passeio.
Passamos alguns longos minutos caminhando em meio àquelas árvores com folhas vermelhas e amarelas. Na verdade, a caminhada durou mais que uma hora. Por fim, nos aproximamos de uma trilha, de uma montanha.

Karlos: ㅡ Vamos descansar um pouco, depois iremos subir isso aqui ㅡ apontou em direção à montanha mais a frente. ㅡ Espero que todos tenham trazido suas roupas de frio, hein.
Theo: ㅡ Frio? Mas está quente hoje, acho bem difícil que esfrie mais tarde.
Soll: ㅡ Você nunca subiu uma montanha, não é? ㅡ perguntou. Eu a olhei e neguei com a cabeça. ㅡ Então, quanto mais alto estamos, mais a temperatura desce, prima. Ou seja, agora pode estar sentindo calor, mas quanto estivermos lá em cima ㅡ apontou para o topo da montanha ㅡ você sentirá frio.
Theo: ㅡ Caramba! ㅡ exclamei com um sorriso. ㅡ Eu nunca imaginei que iria escalar, subir uma montanha, nem sei a expressão que se usa. Estou bem animada. ㅡ Ri baixo, tentando controlar minha empolgação.

As meninas sorriram de volta e Karlos me fitou com empolgação também, feliz por me ver animada. Depois, uns colegas dele se aproximaram de nós com algumas marmitas. De início, não entendemos. Porém, Karlos nos explicou que nossa próxima parada será daqui a algumas horas, então, temos que estar bem alimentados antes de iniciar esse percurso até o alto da montanha. Olhei o relógio em meu pulso e fiquei chocada, não imaginei que já era praticamente meio-dia. Como essa manhã passou tão rápido?
Soll e Thame agradeceram aos rapazes e pegaram as marmitas. Fiquei receosa a princípio, pois imaginei o dinheiro que Karlos e os outros investiram em toda aquela comida. Eu não fazia ideia disso. Se ao menos eu pudesse ajudar, com algum valor simbólico, sei lá.

Karlos: ㅡ Você está pensando nos gastos, não é? ㅡ indagou, se aproximando de mim, tirando-me de meus devaneios. ㅡ Não se preocupe com isso, por favor.
Theo: ㅡ São tantas bocas para alimentar… ㅡ comentei, olhando aquelas dezenas de pessoas ao nosso redor, que vieram conosco no ônibus.
Karlos: ㅡ Nós não investimos nessas coisas porque precisamos, mas sim porque queremos. Por favor, hoje vamos nos divertir, está bem?

Arregalei um pouco os olhos, pois lembrei que tia Carla falou o mesmo hoje mais cedo, no café da manhã: “não faço porque preciso, faço porque quero”. Foi muita coincidência isso, que me fez sorrir meio abobalhada. Então, apenas o fitei e sorri, depois concordei com a cabeça. Peguei a marmita da mão do rapaz ao meu lado e me sentei ali no chão mesmo, próximo de Theo e Soll; que já estavam devorando aquela comida. Isso porque elas comeram umas três fatias de pão no café, caramba…
Karlos me olhou feliz, depois foi ver as outras pessoas, verificando se está tudo bem com elas. Ele fez questão de saber o bem-estar de cada um, incluindo se aquela comida está boa. Para mim, está ótima. Fiquei até curiosa sobre quem fez toda essa comida, para tudo isso de gente.

Soll: ㅡ Os outros rapazes disseram que o Karlos e outros colegas passaram a noite inteira ontem, preparando toda essa comida ㅡ disse, mas baixo, para que ninguém mais ouvisse, só eu e minha irmã. ㅡ Como isso? Karlos bebeu horrores ontem também, e ainda conseguiu cozinhar para esse batalhão?
Thame: ㅡ E o mais engraçado, é que a comida está ótima.

Fiquei ainda mais surpresa. Então, foi Karlos e outros rapazes que preparam todo aquele banquete, na noite anterior. Talvez tenha sido por isso que eles foram embora mais cedo, se comparados a nós que fomos embora mais tarde. Será que eles chegaram a dormir? Como conseguiram preparar tudo isso e ainda descansar antes desse passeio?
Voltei a fitar Karlos, agora com ainda mais admiração. “Ele nem percebeu meus olhares, permanecendo ocupado em garantir o bem-estar de cada uma daquelas pessoas. Então, voltei a comer aquela marmita.
Algum tempo depois, todos nós já estávamos devidamente alimentados. Mas claro, esperamos mais alguns minutos para fazer uma boa digestão da comida. Olhei outra vez no relógio e vi que ia dar duas horas da tarde. Dessa forma, Karlos tomou a frente outra vez e chamou a atenção de todos.

Karlos: ㅡ Pessoal, a subida será longa, mas garanto a vocês, que valerá a pena. Vamos ficar todos juntos, tudo bem? Caso seja necessária alguma parada, se alguém acabar estiver com poucas forças, é só gritar que paramos! ㅡ exclamou, confiante nas palavras, deixando todos mais calmos. 
Thame: ㅡ Parece meio chato essa subida… ㅡ sussurrou, mas Karlos ouviu e riu baixo, deixando minha irmã um pouco sem graça.
Karlos: ㅡ Entendo que pense assim ㅡ respondeu, olhando na direção dela. ㅡ Mas, vocês verão que não é o caso. A subida faz parte de toda a experiência. Já, já, entenderão melhor qual é o sentido disso tudo. ㅡ Terminou sorrindo.
Soll: ㅡ Ei, está secando o que aí, prima? ㅡ perguntou sussurrando do meu lado, ao me ver hipnotizada em Karlos. ㅡ Pelo menos, disfarça… ㅡ riu.
Theo: ㅡ N-Não é nada disso! ㅡ exclamei, completamente envergonhada, fazendo minha prima rir ainda mais. ㅡ Estou só admirando a vista de toda essa floresta, que é belíssima.
Soll: ㅡ Sei de qual floresta você está falando… ㅡ Ela me cutucou na barriga, fazendo-me rir baixo também.

Por fim, demos início a nossa segunda parte do passeio, a subida até o topo da montanha. De início, foi tudo tranquilo. Mas, conforme subíamos, foi se tornando uma tarefa mais complicada. Os ventos gélidos começaram a aparecer, dissipando todo calor que senti anteriormente. Porém, fui surpreendida com Soll me emprestando um casaco. Olhei para ela e agradeci com um sorriso, reparei que minha irmã já tinha colocado um igual. Soll ofereceu um a ela também. Minha prima é demais, sempre um passo à frente.
Vesti aquele casaco, enquanto Soll colocou outro igual também. Conforme avançávamos, por vezes, Karlos parava e perguntava como estávamos. Só prosseguia quando tinha a certeza de que todos estávamos bem. Fiquei pensando… Será que esse cara… realmente existe? Ele era tão carinhoso, tão empático, educado, gentil, inteligente, amante da natureza. Além disso, o que ele estaria ganhando, com isso tudo?
Naquele momento, lembrei de minha mãe e em sua ideia de termos mudado para Paris. Talvez, essa mudança tenha realmente sido uma coisa boa.

Thame: ㅡ Caramba, olha aquilo ㅡ apontou em uma direção, chamando minha atenção e a de Soll. ㅡ Que visão… fantástica…
Theo: ㅡ O que, maninha? ㅡ Olhei para a tal direção.

E ali, fiquei deslumbrada outra vez. Não tínhamos ainda chegado ao topo da montanha, mas as vistas já começaram a valer toda aquela caminhada. Olhamos para a floresta onde estávamos anteriormente. Por conta das folhas vermelhas e amarelas mescladas em meio a tantas árvores, a vista delas lá do alto acabou criando uma visão completamente diferente. Como se o vermelho dançasse com amarelo, e juntos, dançavam com o verde de toda a grama também. Houve ali uma mistura de cores incrível, imaginável! Parecia até uma pintura de arte, podendo facilmente ser encontrada em qualquer museu ou exposição de artes.
Logo, olhei para Thame e vi um brilho diferente nos olhos dela. Algo parecido… Com o olhar que ela teve quando fomos a torre Eiffel pela primeira vez. É, exatamente isso. Se para mim aquela vista foi fantástica, imagine para ela, que é realmente uma artista nata e com um enorme dom.

Theo: ㅡ Então era isso que Karlos quis dizer com… a subida fazer parte da experiência? ㅡ perguntei em um sussurro, não querendo que ninguém ouvisse.
Soll: ㅡ Exatamente, priminha ㅡ respondeu, me cutucando de leve. Droga, ela ouviu o meu sussurro. ㅡ Agora você entendeu.

Eu sorri, vendo o quão feliz Thame ficou ao permanecer observando aquela vista. Mas logo Karlos chamou nossa atenção em um tom brincalhão, nos tirando daquele transe. Minha irmã e eu rimos. O restante da subida foi tranquilo, vez ou outra, paramos por uns segundos para observar a vista. Além de claro, é claro, o frio foi aumentando à medida que nos aproximávamos do topo. Mas, agasalhada com o casaco que Soll me forneceu, ficou mais fácil. De nós três, Thame foi a quem mais desfrutou de todas aquelas vistas.
Longos minutos se passaram, quase uma hora para ser mais específica. Finalmente, chegamos. Karlos tinha razão. A vista dali de cima é coisa de outro mundo. Difícil de explicar, até de compreender toda a beleza daquilo.

Theo: ㅡ Meu… Deus… ㅡ sussurrei, boquiaberta.
Karlos: ㅡ É maravilhoso, não é? ㅡ Com um sorriso, se aproximou, tocando meu ombro com delicadeza. ㅡ Lembro da minha primeira vez aqui. Tive a mesma reação que a sua. ㅡ Riu baixo enquanto o fitei.
Thame: ㅡ Não quero sair daqui nunca mais! ㅡ gritou minha irmã, passando pela gente rapidamente, indo para mais perto da beirada.
Soll: ㅡ Cuidado, doida! Não chega muito perto da beirada, é perigoso ㅡ disse, com um sorriso, feliz por ver minha irmã animada.
Thame: ㅡ Sim, “mamãe”! ㅡ exclamou debochada, com um sorriso no rosto.

Rimos todas juntas e, em seguida, cada um foi encontrando um cantinho para se acomodar. Fui olhando ao redor e reparei que a maioria trouxe até travesseiros e toalhas para se deitarem no chão. Além de claro, cobertores também, por conta do frio. Os mais animados trouxeram cadernos de pintura, bloco de anotações, pincéis e outros materiais de arte. Outros foram mais ousados e já foram atrás de alguns gravetos para criar uma espécie de fogueira. Parecia que a maioria daquelas pessoas já estavam acostumadas.
Toda aquela situação é tão aconchegante, reconfortante. Eu nem queria pensar que ainda hoje estaríamos voltando para casa, retomando nossa rotina do dia a dia. Então, tratei de aproveitar cada segundo do passeio. Ao mesmo tempo, em que fiquei me perguntando: por que a beleza de Paris destoa, dos demais estados, cidades? Não é à toa que muitos falam que Paris é a cidade mais linda do mundo. Estou começando a acreditar nisso, de verdade.
Passaram-se alguns minutos até que todos já estavam devidamente acomodados em seus lugares, alguns mais distantes do que outros. Eu, Soll e Thame ficamos um pouco mais ao fundo, mesmo que minha irmã quisesse ficar mais perto da beirada; afinal, eu ainda tinha medo, sabe-se lá.
Thame: ㅡ Se sente mais segura daqui, maninha? ㅡ perguntou, com certo deboche, seguido de risadas.
Theo: ㅡ Ah, eu tenho medo de altura, pare de graça ㅡ respondi, beliscando ela de leve no braço.
Karlos: ㅡ Pessoal, atenção aqui, por favor! ㅡ exclamou.

Todos olhamos na direção dele, que mais uma vez tomou a frente do grupo e se posicionou de pé diante de nós. Ele começou a explicar o porquê daquela montanha ser tão importante e o quanto ela já ajudou pessoas a encontrarem seus dons, seus talentos até então desconhecidos. Citou até artistas famosos, que no início, encontraram parte de suas inspirações de hoje, naquela montanha também. Eu não fazia ideia de toda aquela história do lugar.
Em seguida, ele acabou contando mais do lugar. Apesar de estarmos no topo da montanha, o local é extenso. Já imaginei que teria outros cantos para se explorar por ali, e foi exatamente isso que Karlos trouxe à tona em suas explicações. Ele sabia prender realmente a nossa atenção.
Depois da explicação dele, outros de seus colegas tomaram a frente para nos contar um pouco mais de toda a história daquela montanha. Porém, diferente de Karlos, eles não conseguiam prender tanto a minha atenção. Sem perceber, sentada no chão e com as costas em uma árvore, acabei fechando os olhos e, assim, peguei no sono. Não sei por quanto tempo dormi…

Theo: ㅡ H-Hm? ㅡ fui abrindo os olhos devagar. ㅡ Meninas? ㅡ Chamei por elas, após coçar os olhos com as costas da mão. Mas, logo percebi que elas não estavam mais ali. ㅡ Olá? ㅡ aumentei o tom de voz e olhei ao redor.

Sim… Todos haviam sumido. Só tinha eu ali. Onde eles poderiam estar? E outra, por que me deixariam ali sozinha? Tanto Soll quanto Thame poderiam ter tentado me acordar, poxa! Será que deram continuidade ao passeio, a exploração, sem mim? Ah, não, elas vão ver só quando eu as encontrar.
Em meio a minha irritação, senti algo em meus cabelos dourados. Assim que coloquei a mão neles, senti um pedaço de papel. Rapidamente o tirei dali e o coloquei em frente aos meus olhos. Um bilhete… de Soll?

“Theo, não fique chateada conosco, tentamos a todo custo te acordar, mas você tem um sono de pedra, caramba! Além disso, esperamos o máximo que deu, mas, Karlos e os demais tinham que dar continuidade ao cronograma do passeio. Agora estamos indo ver o lar das lhamas e alpacas. Não fica muito longe daqui. Você pegará o caminho que viemos para cá, só seguir reto. Entretanto, em um momento, você vai se deparar com dois caminhos.
Atenção, Theo! Você tem que escolher o caminho da-…”

Antes que eu terminasse de ler o bilhete, um vento forte passou e levou aquele pedaço de papel para longe. Eu me levantei no susto, na esperança de conseguir pegar o bilhete antes dele ir para bem longe com o vento. Não acredito que isso está acontecendo! Primeiro, elas me abandonam, com a desculpa de que não conseguiram me acordar. Agora, o bilhete que elas deixaram para mim, com a localização de onde estão, o vento fez o favor de levá-lo embora. Que droga, eu realmente quero ver essas lhamas e alpacas.
O que eu poderia fazer agora? Arriscar em um dos dois caminhos que Soll disse que tem? Ou, ficar ali esperando eles voltarem? Não, essa segunda opção nem pensar, eu quero aproveitar todas as etapas desse passeio. Então, logo peguei minha bolsa e segui o caminho de volta que Soll orientou. Pelo bilhete, ela diz que tenho que seguir reto, até encontrar esses dois caminhos. Foi o que fiz. Mas… Não imaginei que eu teria que andar tanto.

Theo: ㅡ Que essas lhamas e alpacas sejam tão fofinhas quanto espero que sejam… ㅡ sussurrei, já cansada de tanto andar. ㅡ Queria que o Karlos estivesse aqui me animando, para continuar seguindo em frente. A subida até o alto da montanha ficou tão fácil com ele nos motivando. ㅡ Perdida em meus pensamentos, continuei andando por mais alguns minutos. ㅡ Ah! Cheguei.

Finalmente, me deparei com a tal bifurcação que Soll mencionou no bilhete. Certo, dois caminhos. Ela salientou para eu não escolher o errado. Mas qual é o errado se o bilhete voou para longe da minha mão antes que eu pudesse ler? Ai, meu Deus! Esquerda ou direita? Tem cinquenta porcento de chance de eu errar, mas também, de eu acertar. Depende de como se vê as coisas.
Está bem, Theodora, pare de enrolar! Respirei fundo e optei pelo caminho da esquerda. Os dois caminhos eram parecidos, dando entrada em outra floresta diversificada também. O resultado não poderia ser muito diferente.
Bom, é isso que quero manter em mente. Pois, conforme fui adentrando naquela floresta… senti-a um pouco diferente. Como se aquele ambiente fosse um pouco mais… tenso. E para melhorar, acabei ouvindo barulhos de animais se aproximando. Do jeito que estou com sorte, não seriam coelhos que estavam vindo me dar um oi. Um tigre, um urso? Talvez.

Theo: ㅡ Olá? ㅡ indaguei, alto. Ouvi aqueles barulhos ficando mais altos, como se estivessem chegando cada vez mais perto. ㅡ Tem alguém aí?

Minha pergunta foi respondida, quando vi dezenas de macacos saindo de trás das árvores. Eu os fitei com atenção, logo percebi qual tipo eles eram. Macaco-de-Gibraltar, mais conhecido como macaco-barbado. Conheço essa espécie, eles são podem ter um comportamento mais agressivo quando percebem perigo ou ameaça humana, ou quando estão protegendo seu lar e seus iguais. Sua pelagem é densa e grossa, em um tom marrom-acinzentado no dorso e um pouco mais claro na parte inferior. Com um focinho alongado e uma cauda curta, o que se destaca mais é sua barba que se estende ao redor do rosto e do queixo. Não são conhecidos como 'macaco-barbado' à toa. Particularmente, eu os achei lindos. Será que iriam me fazer algum mal?
Outra vez, minha pergunta não demorou para ser respondida. Logo vi todos aqueles macacos me mostrando os dentes, nada felizes em me ver ali. Não só isso, eles rapidamente pularam das árvores e começaram a correr em minha direção. Eles acharam que eu era uma ameaça? Ou… É claro, estão protegendo o lar deles, de tudo e todos que adentram aqui.

Theo: ㅡ Podia ter falado desses macaquinhos logo no início do bilhete, Solliman! ㅡ exclamei, irritada. Continuei correndo deles, com medo de que eles pudessem me ferir de alguma forma. Lembrei do bilhete que minha prima me deixou, entendi perfeitamente o final do recado. ㅡ Sei, eu tinha que ter escolhido o caminho da direita! ㅡ Respirei fundo e gritei. ㅡ SOCORRO!

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Karlos: ㅡ E pronto, chegamos! ㅡ exclamou com um sorriso. O restante do grupo continuou com os passos em frente, para ver o cenário.
Thame: ㅡ Caramba! ㅡ berrou, eufórica.

Karlos levou o grupo para o lar de lhamas e alpacas, realmente um belíssimo cenário. Os animais ali eram carinhosos e super receptivos com os turistas. Não demorou muito para um senhor se aproximar do grupo e se apresentar como cuidador daqueles bichinhos. Karlos entregou o grupo nas mãos do senhor, para que ele fizesse um tour do local com aquelas pessoas.
Um de cada vez foi passando por Karlos, mas ele ficou olhando com atenção, como se estivesse procurando por alguém em específico. E conforme ele foi percebendo que tal pessoa não estava ali, tirou o sorriso de seu rosto, dando lugar a uma feição de preocupação. Era eu quem ele procurou.

Karlos: ㅡ Meninas ㅡ ele correu até Thame e Soll, colocando uma mão no ombro de cada uma ㅡ temos um problema ㅡ disse baixo, para não alarmar o restante do grupo. As meninas pararam de andar e focaram-se em Karlos. ㅡ Cadê a Theo? Era para ela estar aqui conosco. Vocês sabem de algo?
Soll: ㅡ Então, é que ela acabou dormindo enquanto os seus colegas estavam fazendo toda aquela longa explicação e tudo mais…
Karlos: ㅡ E vocês não tentaram acordá-la? Acho que ela não ficará muito feliz quando acordar e ver que foi a única quem ficou para trás.
Thame: ㅡ Relaxa, a Soll deixou um bilhete preso nos cabelos dourados de minha irmã, com as instruções para ela chegar até aqui sozinha. Assim que ela acordar, ela pegará o bilhete, lerá e pronto, saberá o caminho.
Karlos: ㅡ Deixa eu ver se entendi… Vocês deixaram um pedaço de papel, colocado nos cabelos finos e lisos da Theodora, em meio a essa ventania que é aqui no topo da montanha? ㅡ Depois que terminou a pergunta, Soll e Thame se olharam, percebendo que não foi uma grande ideia.
Soll: ㅡ Bom, você falando assim… Faz parecer que é uma ideia ruim.
Karlos: ㅡ Vou buscá-la. Até porque, ela pode estar vindo para cá e é muito fácil se perder em meio a tantas florestas.
Thame: ㅡ Vamos com você! ㅡ exclamou.
Karlos: ㅡ Não, vocês fiquem aqui e aproveitem o passeio. Sem contar, que se tem alguém aqui que conhece essa montanha com excelência, sou eu. Deixem comigo, encontrarei ela.

Karlos esboçou um sorriso, tranquilizando as meninas. Depois, se despediu delas e correu para longe dali. Tanto minha irmã, quanto minha prima, puderam perceber que ele ficou realmente preocupado comigo. Além do que, ele tem razão. Se existe alguém capaz de me encontrar, esse alguém é ele.
Soll e Thame se uniram ao restante do grupo, mas sem levantar nenhum alarme, também para não preocupar mais ninguém.

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Como que esses macacos correm tão rápido? Meu Deus! Por um lado, foi bom, pois descobri que dou uma ótima maratonista, porque caramba, o tanto que estou correndo não está fácil. Durante a corrida, acabei esbarrando em diversos galhos de algumas árvores, o que acabou rasgando parte de toda a minha vestimenta. Além de claro, criar machucados em minha pele. Ou seja, naquele instante eu me encontro com as roupas rasgadas e com vários cortes pelo corpo inteiro. Toda essa situação não poderia piorar, não é?
Por que pensei nisso? Reparei que a estrada acaba logo mais adiante, e tão focada em olhar apenas para frente que eu não vi aquela pedra bem na minha frente. Meu pé deslizou e escorreguei para o lado, rolei terra abaixo. Não foi uma altura tão alta, entretanto, foi o suficiente para me machucar ainda mais. Acabei caindo em uma cachoeira. Só tem um problema…
EU NÃO SEI NADAR!

Theo: ㅡ Socorro, alguém! ㅡ gritei desesperada, quando finalmente consegui colocar a cabeça para fora da água funda. Me debati, esperando que alguém ouvisse minha voz para me socorrer. ㅡ Por favor, alguém!

Quase atacada por macacos, quase despida em uma floresta deserta, completamente machucada e, agora, meu fim é esse? Eu me afogar? Maldita hora que eu não fiz aquelas aulas de natação quando criança. Continuei me debatendo, forçando as minhas pernas a me derem forças o suficiente para que eu permanecesse sem afundar.
Inevitavelmente, acabei engolindo bastante água em meio aos meus berros. Mas juro, eu estava dando o meu máximo ali! Eu realmente não queria que aquele fosse o último dia de minha vida. Tanta coisa que eu ainda quero realizar, tantos momentos que quero viver, quantas coisas que eu ainda quero dizer e sentir… Espera, por que Karlos está vindo a minha mente?

Karlos: ㅡ THEODORA! ㅡ gritou mais ao longe, depois que viu eu me afogando. ㅡ Estou indo, não se preocupe!

Aquele homem me olhou lá de cima, de onde escorreguei e cai. Mas diferente de mim, ele manteve os pés firmes na terra e deslizou sobre ela, de um jeito bem profissional, não ganhando um arranhão sequer. Que homem é aquele, Jesus? Não só isso, quando ele chegou na beirada daquele rio, não pensou duas vezes, pulou na água de roupa e tudo. Nadou rapidamente em minha direção, e nos quarenta e cinco do segundo tempo, antes que eu perdesse as minhas últimas forças, ele me ergueu antes que eu afundasse.

Karlos: ㅡ Peguei você ㅡ disse mais tranquilo, depois que me segurou em seus braços fortes. ㅡ Você está bem, Theo?
Theo: ㅡ S-Sim, agora eu estou. Muito obrigada, Karlos. Mas, por curiosidade, como você me achou, e tão rápido?
Karlos: ㅡ  Os rasgos de sua blusa e de seu short, ficaram espalhados pela floresta. Eu só segui os rastros, o resto, não foi tão difícil.

Não consegui dizer mais nada, fiquei vidrada naqueles olhos castanhos. Não só isso, Karlos abriu um sorriso mais largo, deixando suas covinhas à mostra. Sem perceber, fiquei com as bochechas coradas. Ele reparou e sorriu. Devagar, foi aproximando seus lábios róseos e carnudos dos meus. Eu ia realmente… beijá-lo? Meu coração bateu mais rápido, principalmente quando ele me puxou para mais perto, também senti o seu coração mais acelerado quando nossos bustos se encostaram. Eu não queria recuar, muito pelo contrário. A única coisa que quero naquele momento é isso… beijá-lo!
Nossos lábios se encontraram, dando início a um beijo calmo, porém bem intenso. Karlos pediu licença com a língua, antes de adentrar com ela dentro da minha boca. Nossas línguas se entrelaçaram, como em um baile, onde ele permaneceu no comando daquela dança. O beijo foi suave, mas nós dois nos entregamos completamente aquele momento. Como se tanto eu, quanto ele, quiséssemos isso desde a primeira vez em que nos vimos.
Depois deste momento mágico e, com certeza, inesquecível, ele nadou comigo até a beirada do rio, onde saímos da água. Entretanto, quando olhei para Karlos, o vi com o rosto corado. Eis que eu me lembrei, olhei para mim mesma e percebi que estou praticamente seminua. O que restou da minha roupa se foi, naquela minha queda de antes. Claro, eu fiquei mais vermelha que um pimentão. Mal nos beijamos e ele já me vê apenas de roupa íntima?

Karlos: ㅡ T-Toma, veste isso ㅡ desviando o olhar, ele retirou o próprio casaco e blusa e me entregou, para que eu pudesse vestir aquilo. Karlos é um homem respeitoso, se fosse outro qualquer, iria se aproveitar do momento para me ver naquele estado. Mas, ele não é igual aos outros. Não mesmo.
Theo: ㅡ O-Obrigada ㅡ respondi envergonhada.

Em seguida, botei aquela blusa e casaco que ele me deu. Pelo fato dele ser um homem alto, seu casaco foi até quase o meu joelho. Por fim, agora vestida, olhei para Karlos, mas… meus olhos brilharam. Ele estava apenas de calça, sem nada por cima. Afinal, sua blusa e casaco estavam comigo agora. Eu não consegui desviar o olhar de seu peitoral definido, seus braços despidos, deixando todos aqueles músculos à mostra. Uau, que homem!
Mas, antes que ele percebesse, pois ficou olhando o cenário em volta, eu chacoalhei a cabeça e voltei ao meu eixo. Karlos parou próximo de mim e estendeu a mão, para que eu pegasse na dele.

Karlos: ㅡ Vamos voltar? As meninas já devem estar preocupadas, e aqueles macaquinhos, nada amigáveis, logo mais vão nos achar.
Theo: ㅡ Eu nunca mais quero ver um macaco na minha vida… Acho que fiquei traumatizada ㅡ respondi, em um tom descontraído, depois peguei na mão dele. Ele riu da minha brincadeira e, juntos, saímos dali.

Só Karlos mesmo, para ter sido o meu anjo da guarda…

                               ❤️

Espero que tenham gostado do capítulo!
Deixem seus comentários e a estrelinha, hein?
Beijos! ❤️

Casei Com O Meu Cunhado (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora