Seventh Heaven

Capítulo 2

§ Seventh Heaven §

MIRANDA ON

Eu sabia que em algum momento eu teria que revisitar as dores que eu senti durante e depois do meu acidente. Eu sabia disso! Mas colocar em palavras o que eu sofri e compartilhar com desconhecidos é quase como se a dor tivesse voltado. Na verdade como se tivesse aumentado. Essa dor nunca vai embora.

Não consigo dormir.

Vejo o dia amanhecendo da janela. Quando o dia já está clareando escuto batidas de bola outra vez.

Não é possível que seja aquela desgraçada de novo!

Me levanto e vou até a janela.

É a professora outra vez.

Outra camiseta com a cara do touro estampada e uma bermuda de cor diferente da que usou ontem. Ela se movimenta, bate a bola algumas vezes e joga a bola na cesta.

Ela não erra uma?

Olho para seu corpo e me sinto intrigada. Um pênis. Que curioso. Jamais havia conhecido alguém assim. Já havia ouvido falar, mas nunca vi assim de perto. A olho dos pés à cabeça e a analiso. Ombros largos e braços musculosos, pernas torneadas, barriga reta e seios firmes. É o corpo de uma atleta praticamente. A mulher que está usando descaradamente o meu sabonete líquido. Como ela se atreveu roubar meu sabonete?

Penso por um instante e retiro a minha acusação. A verdade é que eu também me atrevi quando roubei o livro dela.

Salto assustada quando escuto batidas na minha porta.

— Bom dia, Miranda. — O rapaz de cabelos arrepiados me entrega um envelope.

Ele sai e eu fecho a porta. Abro e leio.

"Bom dia, Miranda. Espero que esteja se sentindo bem. Teremos uma aula de pintura às 6 horas. Conto com a sua presença". Joshua.

— Aula de pintura? — Indago olhando para o papel. — Esses dez dias vão acabar me matando.

E assim passaram-se 3 dias de sobrevivência quase no automático para não correr o risco de assassinar alguém. Meu réu primário nunca correu tanto risco quanto esses últimos dias.

Aulas de pintura, de musicoterapia, yoga e as mais bobas atividades.

E claro...As conversas com a professora. Algo que realmente tem sido satisfatório. Volta e meia troco algumas palavras com ela e ela sempre se mostra atenciosa e curiosa.

O dia hoje foi extremamente monótono. Já são quase 10 da noite e eu não aguento mais. Me visto após meu banho demorado e olho para o livro em cima da cama.

Olho para o quarto e me sinto entediada. Calço minhas sapatilhas e resolvo dar uma volta. O lugar é bem iluminado até certo ponto da noite. Após isso, poucas luzes ficam acesas perto dos quarto. Perfeito para circular sem ser tão notada. O terreno é enorme.

Preciso admitir que é agradável estar longe da poluição da cidade. E mesmo que eu ainda sinta muita falta do meu café na veia, os sucos e bebidas naturais não deixam a desejar. Meu corpo está realmente se agradando dessa "purificação".

Sigo caminhando por um caminho de arvores com diversos bancos espalhados. Há um lago enorme e eu me sento num dos bancos que ficam de frente para admirar. Tudo parece tão calmo. Tão silencioso que me sinto impedida de bloquear meus pensamentos.

"Miranda, nós seremos tão felizes juntos"

Sacudo a minha cabeça espantando a voz do meu falecido marido de quando estávamos prestes a nos casarmos.