Parte 27: Missão às cegas

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OS DEGRAUS

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

Mario Quintana

  Já estava anoitecendo eu acho

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Já estava anoitecendo eu acho. Acordei um tempo depois que me jogaram nesse porta-malas imundo. Anne ainda estava desacordada. Pelos batimentos de seu coração, eu sabia que ela estava com medo. Mas ainda assim, estava ali comigo, me ajudando e se arriscando. Ninguém nunca tinha feito algo assim por mim. Gostaria que essa amizade fosse real...

A estrada parecia de terra, haviam vários buracos o que deixava essa "viagem" difícil. O carro cotejava a todo momento sem me permitir ordenar meus pensamentos.
Passou por um lugar que parecia ter parado os grandes buracos. Agora o chão era liso, o que me agradou um pouco; eu já estava passando mal e minha cabeça estava doendo por chocar constantemente com o "chão" do porta-malas. A calmaria daquela estrada me fez pegar no sono e acabei sonhando:

***

"Em meu sonho, eu era criança e corria feliz. Eu não sentia medo de nada. Minha inocência era o que mais me chamava a atenção... Eu brincava sozinha. Não era preciso que ninguém estivesse ao meu lado; apesar de eu sentir falta as vezes de uma companhia.

Nesse local haviam árvores, plantas e um lindo campo bem verdinho

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Nesse local haviam árvores, plantas e um lindo campo bem verdinho. Consegue sentir essa paz? Não possuíam mosquitos nem formigas. Eu me deitei naquela grama macia e o vento veio a meu favor. A brisa soprou em meu rosto e eu nunca me senti tão... Tão livre. Eu estava tão feliz... Meu coração agradecia por esse momento com a natureza. Minha alma se encontrava em paz.

Tudo parecia bem. Até uma sombra cobrir meus olhos e retirar os raios do sol que ali batia.
Era uma sombra grande o que me fazia pensar ser de um homem. Eu não conseguia saber se a voz era masculina ou femenina. Apenas uma voz que no início parecia ser calma. Essa pessoa me perguntou se eu queria brincar, que eu estava muito sozinha e que precisava da presença de alguém... Que crianças não podiam brincar desacompanhadas.

O vento soprou mais forte e sol se intimidou. Começaram a aparecer nuvens escuras e o dia já não parecia ser mais tão feliz. A grama começou a me beliscar e eu não estava mais confortável naquele lugar.

Essa pessoa pegou em minhas pequenas mãos e disse que iria me levar para um local onde haveriam variados tipos de brinquedos e que lá, várias crianças esperavam por mim. Essas palavras me fizeram esquecer que o tempo se fechou e ocupou o espaço da tristeza me fazendo contente por um tempo.

No caminho a pessoa apertou forte minha mão. O que fez eu me sentir desconfortável. Ela me agarrou e disse que ia ficar tudo bem.

Eu era apenas uma criança sem medos. Depois daquele dia nada voltou a ser normal. Eu virei "a estranha". Num canto sempre. Sozinha sempre. Triste sempre. E o pior de tudo: vingativa para sempre. "

  O carro havia parado e com isso me despertei

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O carro havia parado e com isso me despertei. Logo em seguida, acordei Anne. Estávamos com receio do que poderia acontecer quando o porta-malas se abrisse. Ficamos nos olhando assustadas mas preparadas para quem fosse.

Passaram-se alguns minutos e começamos a ouvir passos se aproximando de nós. Fizeram um barulho estrondoso para abrir o bagageiro mas logo uma luz forte nos atrapalhou a enxergar quem o abriu. Nos levaram até uma cabana. O local parecia ter muitas árvores. O canto dos pássaros não negava.

Eu estava ansiosa e ao mesmo tempo com medo de saber quem poderia ter me levado à esse lugar.

***

  Meus olhos estavam vendados

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Meus olhos estavam vendados. Eu não senti mais Anne ao meu lado. A levaram para outro lugar longe de mim. Apenas ouvi seus gritos. Será que estavam a machucando? Eu não queria que isso acontecesse.
Mas é assim que as pessoas se vão ao entrar na minha vida.

...

Eu me via sozinha. Desolada. A companhia de Anne me deixava com menos medo; agora ela não estava mais aqui.

***


-Elena?

Essa voz me parecia familiar. Eu conhecia, mas fazia tanto tempo que não ouvia, que não estava conseguindo lembrar quem era. Só sei que era uma mulher, de voz calma. Mas nesse momento, não estava diferente. Era vingativa e má. Apenas pelo som de sua voz, eu conseguia sentir isso.

- Você se lembra da Júlia? Sua amiga? Aquele trio que você tanto "amava"?

Eu apenas fiz silêncio. Eu já sabia quem era e entendi perfeitamente o porquê de ela estar ali e ter feito isso tudo. E o porquê de ter pegado Anne junto comigo. Agora eu estava aflita por Anne. Não queria que ela sofresse por causa das minhas atitudes e meu passado.

- caso não se lembre, vou soletrar para você. Eu sou a R-E-N-A-T-A. Você me tornou em uma criminosa. E já que eu tenho essa reputação, vou fazer jus a essa fama que me deu.

Apenas consenti e fiquei em silêncio. Eu já sabia qual era o erro que havia cometido por mim.

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"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz."

Platão

O assassinato perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora