Era angustiante terem que sair daquele decrépito depósito de vassouras e baldes em que construíram uma memória tão bela e permanente para suas mentes usarem como combustível no campo de batalha.
Elas tinham mais alguém para voltar.
Abandonar aquela doce fantasia em que elas conseguiam se beijar e se abraçar o quanto quisessem para adiar a morte era doloroso, doía em seus corações mais que o medo do fim de suas vidas.
Era ruim ter que lidar com a realidade tão vil e odiosa daquele mundo.
Mikasa tinha a perfeita noção de que uma hora, mais cedo ou mais tarde, enfrentaria os titãs para defender a existência da humanidade.
Porém, esperava que fosse quando ela entrasse para a divisão de reconhecimento e vestisse o manto verde-esmeralda com as asas da liberdade e lutasse ao lado de soldados lendários como o capitão Levi; esperava que fosse em alguma missão de exploração fora das grandes muralhas que defendiam — ao mesmo tempo em que aprisionavam — a pouca vida humana que ainda perpetuava.
Ela se agarrava ao fino e frágil fio de esperança de que o temível titã colossal não apareceria mais para derrubar mais um daqueles altos muros de concreto e assim dar abertura para os demais titãs entrarem e colocasse medo nas pessoas.
Como fora ingênua, tola e idiota.
Tudo fora diferente da sua expectativa; não possuía o brasão do reconhecimento nas costas de sua jaqueta marrom claro, e sim o simplório escudo com duas espadas cruzadas que representava a turma dos cadetes.
Ninguém viu ou desconfiou quando as duas saíram daquele corredor escuro e rapidamente se separaram como se minutos atrás não tivessem trocados os beijos doces e carinhosos que ainda se encontravam tão frescos em suas bocas.
Havia também outra razão para nem sequer ocuparem suas vistas com aquele corredor, afinal, poucos agora se encontravam naquele grande salão ajeitando seus dispositivos de manobra tridimensional ao corpo; podia-se até contar nos dedos quantos se situavam ali e um deles era Armin, que correu até a Ackerman quando terminou de ajeitar o tubo de gás no seu próprio DMT.
— Mikasa, — o garoto loiro aparentava estar um pouco mais calmo do que antes, mas ela ainda podia ver um pouco de temor se espalhando por suas orbes azuladas. — Temos que ir para o pátio, querem todos os cadetes lá imediatamente.
Ele a segurou pelo pulso e Mikasa assentiu sem dizer uma palavra. Seguiu junto ao amigo para o pátio central do quartel general que era o único espaço bonito do lugar e que ficava a céu aberto, dando uma bela visão do dia fresco de verão que não dava nenhum indício de que traria a população a anunciação de muitas mortes.
Eles se enfiaram por entre a multidão enfileirada até acharem um bom lugar no meio para ficarem lado a lado em silêncio.
Involuntariamente, Mikasa procurou Annie com o olhar e quase não a encontrou. Ela se localizava bem mais a frente entre Reiner e Bertholdt, o coque loiro era inconfundível e muito único dela.
Quando toda a 104 turma já estava no local, um homem de bigode e barba castanha e cabelo da mesma cor penteado para trás começou a discursar em uma voz alta e imperiosa que fez todos prestarem atenção unicamente nele.
— Prestem bem atenção, vocês irão se dividir em grupos como já praticaram em seu longo treinamento. — ele começou a explicar. — O esquadrão de interceptação ficará na linha de frente, o centro ficará com os cadetes liderados pelo esquadrão de apoio, a retaguarda fica com a elite da divisão de guarnição. Eu também recebi a notícia de que o time de ataque caiu, o portão exterior foi destruído e os titãs entraram, ou seja, o titã de armadura pode aparecer de novo e demolir o portão interno a qualquer momento.
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Memories [MIKANNIE]
FanfictionAnos atrás, durante os tempos de treinamento da 104° turma de cadetes, Mikasa e Annie acabaram desenvolvendo um sentimento que de início era desconhecido mas que ficou tudo claro depois de um tempo. Porém, com a revelação de quem Annie era a relaçã...