Memories [MIKANNIE]

Capítulo 3 - Meu raio de Sol

Aquilo a corroía como uma infecção em estado crítico. Estava infectada pelo remorso e pela culpa por estar mentindo para Mikasa. Tudo aquilo pesando em sua mente e coração impedia o sono de acolhe-la.

Vez ou outra fechava os olhos na expectativa de tentar dormir pois precisava descansar para mais um dia de treino amanhã, mas sempre acabava levantando as pálpebras e fixando o olhar na luz da lua cheia que entrava pela janela ou...seria na imagem da garota Ackerman dormindo na cama ao lado de uma forma tão serena e alheia a qualquer perigo ao seu redor, incluindo ela.

Um perigo. Era isso que Annie era para Mikasa, aquela figura tão perfeita e exemplar no treinamento.

— Eu tinha outra imagem sobre como vocês dessa ilha eram. — sussurrou, tão baixo que somente ela ouvia, mesmo sabendo que Mikasa não a escutava, ela precisa tirar aquelas palavras que estavam presas em sua língua. — Eu não imaginava sequer que você existia e agora estou numa encruzilhada sem saída, espero que um dia você me perdoe por qualquer mal que eu tenha que fazer que acabe te afetando e por não poder ser verdadeira com você agora, Mikasa, alguém como eu não te merece e essa verdade dói na minha alma.

Não tinha notado, mas no meio de suas palavras — dessa vez, todas verdadeiras. — de desabafo duas lágrimas solitárias e sinceras caíram e seus olhos e percorreram o seu rosto até molharem o travesseiro.

Sim, doía. Era doloroso saber que o mal agora era ela e não os eldianos de Paradis. O anel em seu indicador na mão esquerda de repente ficou mais frio em sua pele, Marley a doutrinou por anos para acreditar que era uma honra ser uma guerreira e assim conseguir o mínimo que fosse de respeito e prestígio e mais, que a maior honra de todas era portar aquele poder que ela possuía.

Só que agora, tudo aquilo que ela carregava — poder e responsabilidade para com a missão — estava ficando pesado em suas costas e consciência.

— Me desculpa se algum dia eu acabar te magoando. — era tudo que ela menos queria, machucar Mikasa Ackerman que tinha sido tão sincera ao se abrir com Annie e que já tinha sofrido tanto em sua vida, ela não merecia.

A loira enxugou as lágrimas com as costas das mãos e virou-se para o lado deixando finalmente o nome a possuir.

Já era a calada da noite e faltava cerca de algumas horas para o amanhecer de um novo dia quando Mikasa acordou sonolenta e com sua garganta seca implorando por um gole de água fresca. Ela se levantou da cama e caminhou descalço até a pequena mesinha redonda entre a cama dela e a de Annie onde ficava uma jarra média de latão cheia de água e alguns copos.

A garota encheu um copo e tomou do líquido transparente sentindo sua boca e garganta ficarem mais hidratadas. Deixando o recipiente de bebida de volta no lugar, sua íris cinza escuro fitaram o corpo adormecido da jovem Leonhardt.

Silenciosamente, ela se aproximou da cama da loira observando cada detalhe desde sua respiração perfeitamente regulada até o cabelo macio espalhado sobre o travesseiro e Mikasa soube desse detalhe porquê tocou os fios para afastar uma mecha da franja loira que cobria a orelha dela.

— Obrigada por me ouvir. — murmurou Mikasa em um tom baixo com os lábios perto do ouvido de Annie inalando seu cheiro doce e suave que lembrava o de maracujás robustos e recém-colhidos.

Aquele perfume inebriou a mente da garota por uns segundos que pensou que poderia passar a vida toda sentindo o cheiro de Annie sem enjoar.

Annie, apesar de estar dormindo, pode escutar a voz sussurrante de Mikasa e, mentalmente, ela lhe respondeu:

"Enquanto eu estiver aqui, sempre lhe ouvirei."

A Ackerman percebeu que os braços da loira estavam descobertos e ventos frios percorriam aquela noite e adentraram o quarto, devagar e com delicadeza, ela puxou mais o cobertor até que ele cobrisse a garota dos pés até os ombros e voltou para a sua cama ainda com o cheiro de Annie em suas narinas.