Eu não podia ter saído sozinha, Antonella insistiu, era um sinal. Porra, estou paralisada na cadeira sem saber o que fazer.
-Então Anna, vamos conversar?- ele move a cadeira a minha frente e se senta, me encarando com um sorriso lacivo que me contorce o estômago.
-Eu não tenho nada pra conversar com você Paul.- tento levantar mas ele segura minha mão com força.
-A mas você tem sim e pode sentar de volta bem calminha, você não quer fazer um escândalo, quer?- ele diz quase que sussurrando para que só eu o ouvisse. Me sento e cerro me maxilar.
-O que você quer?
-eu quero justificativas!
-De que?- digo cruzando os braços e o encarando. -Eu disse tudo o que você deveria saber, o porquê de eu ter saído da sua casa e terminado com você em quase todas as suas ligações.
Ele ri falso. -Você acha mesmo que é tudo isso né?- ele diz e bate a mão fechada na mesa, fazendo algumas pessoas olharem para nós.
-Pare! Você está chamando atenção!- digo cobrindo a parte lateral do rosto com uma mão.
-E você liga de chamar atenção Anna? O meu nome está na boca da metade dessa cidade de merda. Todos cochicham na faculdade quando eu passo, você acha isso justo?- ele fala em tom mais alto me fazendo diminuir na cadeira.
-Justo? Sim, ainda é pouco pelo que me fez passar, mas mesmo não te devendo explicações, não espalhei nada por aí, eu nem sequer moro mais aqui nessa "cidade de merda" onde nós dois nascemos!- faço aspas com os dedos.
-Você é mesmo muito sínica, não é? Certeza que deve ter falado para suas amigas,aquelas biscates linguarudas iguais a você, e pra sua irmã também, aquela vadiazinha...
-Já chega!- eu levanto batendo forte as palmas da mão na mesa. -Você pode falar o que você quiser de mim, eu não ligo, mas falar das minhas amigas e da minha família, aí você passou dos limites.- pego minha bolsa que estava apoiada na cadeira e me viro pra ele antes de sair. -Tomara que perca tudo também, pelo lixo de ser humano que você é!
Saio sem olhar para trás mas ouço a porta bater forte logo em seguida. Começo a andar mais rápido, minha mãos estão trêmulas e sinto meu corpo frio. Mesmo que eu tenha coragem agora de falar, meu corpo e mente ainda tem medo ele.
Tento abrir a bolsa com um pouco de dificuldade, pego minha faca e antes que eu possa correr mais ou fazer algo, sinto sua mão segurar com força minha nuca, me empurrando para o vão da parede que estava ao lado, que mais parecia um beco sem saída. Ele força minha cabeça na parede segurando em meu pescoço, me fazendo ficar cara a cara com ele, só que ainda mais próximos.
-Você não passa de uma vadiazinha fácil, sabia?-ele aperta meu pescoço e encosto a ponta da faca em sua barriga, ele a olha e ri me encarando de volta.
-Vamos lá! Vamos ver se você tem coragem. Vai Anna, enfia essa faca em mim, vai Anna!- ele começa a gritar e eu não consigo mais me manter intacta. Por minhas mãos estarem trêmulas eu derrubo a faca no chão o fazendo bufar.
-Você é fraca, uma puta fraca!- ele força ainda mais sua mão em meu pescoço me fazendo arregalar os olhos em sua direção. -Olha Anna, um dia eu vou estar cara a cara com você, que nem agora e você vai cair, vai cair feito merda e eu vou estar lá, vendo seu fracasso enquanto todos me aplaudem.
-É só nisso que você pensa não é? não consegue me tirar da sua cabeça, nem do seu futuro!- digo quase sem voz, mas em poucos segundos ele soca meu estômago, soltando minha garganta.
Debrucei no chão, só conseguia sentir uma dor agonizante, precisava recuperar o ar, mas quanto mais eu respirava menos ar entrava.
-Você vai está assim, desse jeito, quando eu fizer você cair e relaxa Xu, vai ser lindo!- ele diz com um sorriso no rosto, como se já visualizasse a cena.
Algumas pessoas começaram a nos notar ali e ele logo fica sério.
-Boa viagem para inferno, Vadia!- disse e se misturou com as pessoas que passavam por ali, indo embora.
Eu me sentei e encostei na parede. Não consigo acreditar no que acabou de acontecer. Meus olhos enchem de lágrimas pesadas que eu não posso suportar. Ergo os joelhos e cruzo os braços tampando meu rosto e choro, choro muito.
É como se eu tivesse permitido que ele entrasse na minha vida outra vez. Me sinto um lixo, uma inútil, uma fraca!
Pego minha faca que está caída no chão ao meu lado. Queria ter coragem, eu queria... Se não com ele, comigo, mas eu não consigo, eu sou fraca de mais até pra isso.
Tento me recompor aos poucos. Sinto os olhares de algumas pessoas que passam pela abertura do beco, mas já não me importo mais.
Levanto e respiro fundo algumas vezes, ajeito minhas roupas e guardo a faca de volta na bolsa.
-Droga. -até me esqueci que vim de moto. Vou até ela, a ligo e vou para casa. Chega dessa cidade por hoje.
Chego em casa e passo reto por todos, me sinto suja de ter tido contato com aquele monstro. Vou direto para o banheiro, tiro minhas roupas o mais rápido que consigo e entro debaixo do chuveiro. Respiro fundo e sinto a água fria tocar meu corpo, como se fossem várias agulhas, todas elas entrando dentro de mim e me perfurando.
Começo a chorar escandalosamente dentro daquele Box, não me importo mais com nada e nem com ninguém, nem comigo. Eu só quero chorar, chorar, chorar até todo o ódio, todo o rancor e toda dor saíam.
-O que está acontecendo filha?- minha mãe e Brenda entram no banheiro desesperadas e me olham confusas.
Eu não digo nada, só continuo chorando feito uma criança que apanhou por algo que não fez.
Minha mãe abre o Box e me abraça sem se importar com o chuveiro ligado. Brenda faz o mesmo enquanto eu me afogo em lágrimas e gritos.
-O que está acontecendo?- Antonella aparece na porta, mas ninguém a responde.
Ela entra e fecha a porta, senta na privada fechada e me olha com o mesmo olhar da minha mãe e Brenda, um olhar de pena, mas também de proteção, um olhar que me fazia saber que estava ferida, mas que eu tinha para onde correr.
Foram alguns longos minutos assim, até meu irmão e padrasto chegarem do trabalho.
-Oi? Cadê todo mundo?- meu irmão sai andando pela casa e vê a porta do meu quarto entreaberta, ele entra e vê as três me encarando sem falar nenhuma palavra.
Estou sentada na cama de toalha e com cabeça baixa, porém meu cabelo também está enrolado na toalha, fazendo meu pescoço que estava marcado pelas mãos daquele monstro, ficar bem amostra.
-Que diabos é isso?- meu irmão abaixa para ficar a minha altura e olha para meu pescoço. -Quem fez isso com você?
Eu não digo nada, mas as três o encararam sérias, o fazendo assimilar a situação.
-Eu vou matar aquele filho da puta.
𝑨𝒊 𝒈𝒆𝒏𝒕𝒆... 𝒔𝒆𝒎 𝒄𝒐𝒎𝒆𝒏𝒕𝒂𝒓𝒊𝒐𝒔.
𝑺𝒆 𝒄𝒖𝒊𝒅𝒆𝒎 𝒆 𝒏𝒂̃𝒐 𝒂𝒄𝒆𝒊𝒕𝒆𝒎 𝒊𝒔𝒔𝒐 𝒏𝒂 𝒗𝒊𝒅𝒂 𝒅𝒆 𝒗𝒄𝒔, 𝒏𝒖𝒏𝒄𝒂!
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𝑹𝒆𝒔𝒊𝒈𝒏𝒊𝒇𝒚𝒊𝒏𝒈 - 𝑨𝒏𝒏𝒂 𝑳𝒊𝒍𝒚
FanfictionSabe aqueles traumas que não te deixam dormir? percorrem sua cabeça e seus sonhos te fazendo revirar na cama? O amor não é tão fácil e compreensivo de ser sentido e a agressividade nunca será uma forma de amar. Neste livro Anna Lily Miller terá que...