52- Intuição é uma garantia insuficiente da verdade.

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BÔNUS

Sofya Urrea

Eu fui a filha que todo pai queria. Estudiosa, comportada e prestativa.

Desde muito jovem, fazia parte de um mundo onde a perfeição era o meu limite. Eu procurava a todo momento ser uma garota considerada perfeita aos olhos de todos. Com muito custo, empenhará-me em representar a imagem da menina de ouro. O orgulho da família, a única das quatros filhas do grande juiz Marco Urrea com juízo, a garota cujo futuro era premeditado em ser baseado em um bom relacionamento com um homen do seu meio social e fosse a idealização de uma vida íntegra e sublime que costumávamos ver nas colunas sociais.

Eu seria uma boa esposa e uma boa advogada pois eu era diferente.

Ao contrário de todos meus irmãos e irmãs, eu não falava palavrão, não tinha tatuagem nem piercing. Não frequentava baladas e sempre tirava as melhores notas. Eu cresci como uma garota boa. Cresci como uma garota que aceitava todas as ordens e obrigações que lhe eram impostas de boca fechada. Era aquilo que esperavam de mim. E eu sentia uma enorme responsabilidade de agradar meu pai. Mesmo que dentro de mim algo sempre se rebelasse contra a idéia que era me imposta.

Eu era a filha perfeita afinal, não podia decepcionar meu pai.

Mas nem tudo é como imagina ou como anseia. Era aniversário da minha melhor amiga e eu decidi acompanhá-la em uma boate para comemorar. Eu queria sentir o gosto da liberdade, nem que fosse por um dia. E quando ele entrou vestido em couro e botas, senti como se todas as minhas obrigações sumissem e uma personalidade devassa tomasse controle sobre meu corpo. Diferente das minhas irmãs, eu nunca havia tido um homem na minha cama. Não por falta de oportunidade, mas porque a minha vida estava focada em minha carreira.

Somente nela.

No entanto naquele dia eu abriria uma exceção. E pela primeira vez na vida, eu tive um homem entre minhas pernas.

Resultado: Gravidez aos 17 anos.

A perfeita Sofya, a inocente da família, engravidou na adolescência, e ainda mais de um motoqueiro. A partir dali as pessoas mudaram a forma de me olhar e comecei a finalmente ser eu mesma. A fantasia que usei por anos já não cabia em mim, mas ela me deixou alguns dons valiosos. Como a minha intuição extremamente aguçada. E nesse exato momento, ela me dizia para não confiar em Jeky. Eu buscava alguma explicação para isso mas não encontro nada coerente, apenas uma voz dentro de mim que fazia perguntas sem sentido e eu estava quase explodindo por não ter as respostas.

Mas estava disposta a consegui-las.

— E-eu posso ir beber água? —Sua voz doce e chorosa me trás a realidade.

— Claro, querida. Fique a vontade. —Minha mãe respondeu.

— Eu vou com você, Jeky.—Me levantei mas uma mão me segurou firme.

— Sofy, você acabou de beber água.—Disse e olhei para o homem que me tirou dos eixos e me fez o que sou hoje.

— E qual o problema em querer mais?—Perguntei levantando uma sobrancelha.

— Eu te conheço. Deixe ela em paz. —Ele sorriu. Porém, seu sorriso não chegava aos olhos.

Ele estava preocupado.

Sua reação quase me fez voltar atrás, no entanto, quando olhei para a cozinha, minha desconfiança cimentou.

— Só depois de aquietar meus pensamentos.

Consegui sair de seu agarre e caminhei até a cozinha onde Jeky estava.

— Jeky, por favor, me desculpe se eu fui rude. Talvez eu tenha descontado em você toda a merda do dia.

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