Tokyo, 2437.
- Quanto estrago esse tipo de bala pode fazer?
O barulho do salto das minhas botas contra o teto do prédio foi interrompido quando parei de andar. Me virei para olhar a arma nas mãos de Sakura, tentando identificar algo além dos últimos flocos de neve da estação. Retirei os óculos do cabelo e os coloquei no rosto, agora enxergando a arma preta brilhar contra as luzes dos prédios ao nosso redor.
- Muito. - Minhas sobrancelhas ruivas se franziram. - Talvez demais. Quem te deu permissão para usar essa arma?
- Naoki disse que eu poderia. Isso me deixa com problemas? - Sakura pareceu incerta ao desviar o olhar para Naoki.
Já ele, não parecia se importar com a conversa enquanto olhava a movimentação na rua quatro andares abaixo de nós.
- Não, nenhum problema. Ao menos não ainda. - Mais uma vez, fitei a arma nas mãos inexperientes da minha nova subordinada. - Ela se estilhaça quando atinge o alvo. É impossível retirar todos os fragmentos quando isso acontece. O modelo é um pouco antigo, então ainda precisa recarregar, preste atenção ao usá-la. Não aponte isso para nenhum de nós.
Alertei, olhando em volta para checar a posição de todo o meu esquadrão.
Sakura mostrou um sorriso comicamente animado.
- Eu não ousaria, inspetora.
Concordei com um aceno, voltando minha atenção para Naoki, que agora andava sobre o prédio, como o restante de nós. Meus olhos se estreitaram enquanto eu analisava cada detalhe do meu subordinado. Desde os cabelos curtos e pretos passando pelo fone em seus ouvidos até o casaco preto e pesado que vestia. Assisti sua mão desleixadamente segurar uma arma sobre o seu ombro largo; o cano apontava para a própria cabeça, e eu nunca conheci um homem que confiasse tanto em si mesmo da forma como ele o fazia.
Naoki era alto e tinha um corpo definido, era rápido e preciso, alguém em quem eu depositava minha confiança há cinco anos. Ele era o responsável pelo combate corpo a corpo, mas eu confiava nele a ponto de deixá-lo responsável pelos novatos no meu esquadrão também, e ele não costumava errar ao lidar com nenhum deles. Então... Por que diabos ele havia dado uma arma como aquela para uma novata?
Os pequenos e estreitos olhos castanhos do meu subordinado encontraram os meus. Um pequeno sorriso charmoso tomou seu rosto, e então Naoki parou de andar para me esperar.
- Algo incomodando, Hana?
- O que Sakura faz carregando uma arma daquele nível? Ela acabou de ser transferida do esquadrão 4, então me faça acreditar que você tomou uma boa decisão. - Fui o mais direta possível, mas o sorriso charmoso no rosto dele não se abalou.
- Pegue leve com ele, Hana. - Misaki adentrou a conversa, dando alguns passos até estar ao meu lado.
Mesmo quando era quase dia, com seus longos cabelos negros presos de qualquer jeito, sua franja bagunçada na testa e suas bochechas coradas com o frio, minha irmã ainda parecia uma bela e autêntica japonesa. Olhos grandes, lábios finos, rosto oval e corpo pequeno... Eu sempre sentiria alguma pontada estranha no peito ao ver o quanto ela se parecia com nossa mãe, porque isso me lembrava o quanto eu me parecia com o nosso pai, e isso geralmente me levava a pensar sobre aqueles dois.
- Por que eu deveria? - Arqueei uma sobrancelha e pus as mãos nos bolsos da minha calça de couro após dobrar as mangas da blusa branca.
A roupa não era casual e o casaco preto com o símbolo da FICJ jogado sobre meus ombros tornava toda a cena muito menos casual, mas eu esperava que os poucos movimentos pudessem disfarçar os meus pensamentos como se eles nunca tivessem existido. Se não um disfarce, talvez ao menos pudesse se tornar mais difícil de lê-los através do dourado nos meus olhos.
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Fanatismo
Ficción GeneralNo ano de 2437, em Tokyo, um acidente no armazém do Hospital Sawasaki é o estopim de uma cadeia de eventos catastróficos que faz com que todo o Japão passe a questionar a coexistência com os demônios, criaturas de origem desconhecida que residem na...