Capítulo 9

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Meus dedos se moviam sobre as teclas com precisão, quase a mesma que eu tinha quando apontava ou disparava uma arma. Não era o fim do dia, tampouco havia ao menos passado das onze e meia da manhã. E no entanto, eu estava tentando resolver problemas e pensando sobre casos como se a semana estivesse se encerrando. Na verdade, mal havia começado.

- Não, Senhor Kurima. Não, não acho que seja possível. - Parei um pouco para ouvir a resposta vir do ponto em minha orelha. - Não, eu não pretendo. Consigo lidar com tudo da forma como está. Os valores são altos, mas possíveis. - Eu argumentei novamente. - Sim, é claro. Por favor, me permita alguns segundos. - Eu o interrompi, finalmente encerrando a correção de algumas linhas de um relatório e conseguindo arquivar o texto no sistema. Quando você precisa omitir detalhes dos relatórios que faz, eles se tornam ainda mais complicados e trabalhosos de fazer; aprendi isso no instante em que tive que fazer os relatórios do Incidente Sawazaki. E ainda por cima, relatórios precisavam fazer total sentido.

Antes que eu pudesse voltar a discutir com um dos poucos atendentes humanos do banco — eu considerava algo além de falta de sorte ter que ligar e acabar lidando com ele ao invés de um dos robôs deles —, o comissário adentrou o auditório com um copo de algo fumegante em mãos. Seu olhar parecia afiado, a camisa já com mangas dobradas e os óculos pendendo sobre o nariz largo e pequeno. Mais uma vez, ainda não havíamos passado das onze e meia da manhã.

- Na verdade, preciso desligar. Estou prestes a entrar em reunião. - Eu ouvi o atendente apressadamente concordar e se dispôr a me atender quando eu julgasse necessário. Agradeci, e isso foi tudo que disse antes de desligar.

Misaki subiu os degraus das escadas e veio em minha direção com dois copos em mãos. Ela passou por trás da minha cadeira para sentar ao meu lado. Nas cadeiras depois dela, Julie e Naoki já estavam acomodados o suficiente para conversar enquanto aguardavam o começo da reunião, assim como todos os outros membros dos esquadrões da divisão S. Misa deixou um dos copos diante de mim uma vez que o teclado e telas que eu usava haviam desaparecido na superfície. Agradeci com um sussurro, ela sorriu e tirou um longo gole da própria bebida — algum tipo de suco de cor estranha e cheiro duvidoso.

- Bom dia. - Onodera nos cumprimentou. - Antes de começarmos, quero chamar atenção para dois pontos. - Ele largou seu copo sobre a mesa no início do auditório, olhando para todas as bancadas que se estendiam até o fim da sala, as últimas sendo as mais altas. - Sejam muito bem-vindos de volta ao trabalho central, esquadrão cinco. Espero que tenham tido uma boa estadia em Nagoya. - Onodera indicou o esquadrão em assentos um pouco mais abaixo que os nossos. Eles também estavam mais distantes na bancada em que estavam.

Ken Mayuri, o inspetor de pele morena e corpo esguio sentado por trás de uma bancada, acenou em direção ao comissário. - Nós agradecemos. É bom estar de volta. - Sua voz não tinha qualquer ondulação sonora, como se estivesse simplesmente respondendo algo com uma frase pronta. Talvez ele já esperasse as boas-vindas. O inspetor pegou a xícara que estava sobre a bancada, os olhos âmbar se desviando do comissário para encarar o líquido. Algumas mechas acastanhadas do seu cabelo escorregaram sobre a testa com o gesto.

Desde que havia sido enviado para Nagoya no último mês, parecia mais descansado. Acredito que qualquer um capaz de se manter com apenas um ou dois casos o mês inteiro estaria totalmente renovado ao voltar. Apesar de serem casos extensos, pelo que me lembro. Infelizmente, o esquadrão um não tinha permissão para trabalhar em outras áreas do Japão, já que Tokyo já demandava toda a nossa atenção, quer gostássemos ou não. Ainda assim, a ideia de sair da cidade para trabalhar em alguns poucos casos ao redor do Japão em áreas tranquilas e silenciosas me parecia excelente. Talvez por isso o inspetor parecesse transbordar calma.

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