Capítulo 10

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- Você não deveria ter vindo. - Ele não soou amigável.

Seu cabelo parecia bonito, embora preso. Aquele foi o meu primeiro pensamento. Eu na verdade pensei isso desde que o vi no armazém, mas eu realmente gostaria se pudesse tocar aquele cabelo. Não sei como o pensamento veio à tona ali, mas esperava que partisse logo.

Kai se afastou da porta, voltando para dentro do seu apartamento como se eu nem ao menos estivesse ali. Eu não estava surpresa, se fosse sincera. Afinal, quais eram as chances de um demônio receber bem em sua casa um inspetor da FICJ?
No entanto, ainda que pensasse assim, eu esperei por algo diferente. Mas sim, é claro, eu sabia perfeitamente o quanto podia esperar de alguém como ele.

Eu dei apenas alguns passos para dentro, confusa ao olhá-lo. Qual seria o problema dele exatamente? Eu sei que não estava esperando por mim e que há poucos minutos eu nem ao menos tinha noção de qual era o seu endereço, mas era realmente assim tão necessário tornar óbvio o quanto não me queria ali? É, em minha mente, aquilo teria ocorrido de outra forma.

- Ayato e Akane sabem que estou aqui, se isso ajudar. - Tentei, ainda ao pé da porta. Talvez estar pronta para simplesmente ir embora fosse o melhor que eu poderia fazer.

- Não, não ajuda. - Kai esfregou a mão sobre os olhos em uma espécie de massagem desleixada e inquieta. Ele murmurou algo para si mesmo, algo que meus ouvidos humanos não conseguiram identificar.

Eu pisquei. Minha única demonstração de que estava começando a ficar irritada. Não que eu soubesse exatamente com o quê. - Eu entendo que você talvez não quisesse que eu soubesse seu endereço, mas não tenho motivo para deixar mais ninguém saber. Estou aqui simplesmente para falar sobre a investigação dos ministros.

Ele deixou de encarar o chão de madeira clara para me encarar. - Então poderia ter ligado. Ou mandado uma mensagem. Não sei, algo assim. As tecnologias já evoluíram tanto para você aparecer na minha porta desse jeito... - Ele soou completamente frustrado. Eu estava começando a soar da mesma forma também.

- Akane disse que seria inútil. Ela disse que você não atenderia ou responderia as mensagens rápido.

Os olhos dele se estreitaram um pouco, ainda me olhando. - Então foi Akane...

Estava me sentindo quase ofendida pela recepção calorosa. Eu fui de surpresa, certo. Eu com certeza entendia isso. Mas ele não costumava ser cordial lidando com tudo? Talvez eu tivesse errado em confiar no temperamento de um demônio e supor que ele não sofreria alterações.

- Desculpe se parece assim tão ruim que eu esteja aqui. Se esse é o caso, vou embora. Não precisa fazer nada sobre isso, não se importe. Também vou fingir que esqueci seu endereço, então esqueça que vim já que parece tão angustiado por isso. - Meu lábio inferior tremeu ao final da frase. Definitivamente não era nada parecido com vontade de chorar ou algo ao menos perto disso, mas eu não consegui identificar exatamente o que era. Se me esforçasse mais um pouco, talvez fosse raiva ou estresse.

Para meu desprazer, Kai notou o tremor em meu lábio, e então seus olhos semicerrados lentamente voltaram ao pequeno e estreito tamanho normal. Ele suspirou audivelmente, e sem cerimônias, caminhou novamente para perto de onde eu estava, para perto da porta. Não, não exatamente onde eu estava, ele parou diante do pequeno armário ao meu lado. Sua mão pálida abriu uma das portas e ele abaixou ao pegar algo.

Eu o assisti enquanto ele retirou pantufas cinzas e discretas do armário, e então as colocou diante dos meus pés. Ele se ergueu novamente, dando alguns passos para trás. - Deve preferir isso ao invés do salto.

Eu assenti como agradecimento, retirando vagarosamente os pés do salto. Meus olhos permaneceram sobre ele, porque eu estava desconfiada demais para simplesmente aceitar que agora ele havia subitamente mudado de ideia.

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