- Por que justamente o cabelo? - Noah apoiou uma das mãos no queixo, seu olho vagando pela minha sala enquanto buscava a resposta.
- Não sei. - Era tudo que eu sabia dizer sobre toda aquela situação. - Um demônio me disse uma vez que ele lembrava sangue. Talvez tenha alguma relação.
O loiro arqueou a sobrancelha. - Kai?
- Não. - E por que diabos teria sido?
- Mas e depois disso? - Ele indagou. - Não ouvi muito de Misaki. Na verdade, acho que você não contou muito para ela também.
- Não falei detalhes para ninguém. Não acho que vá ajudar muito. - Pensei por um instante, acomodando meus pés melhor sobre a mesa de vidro. Noah estava do outro lado da mesa, em uma poltrona preta, deixando de lado o copo descartável com café diante dele.
- Talvez outras pessoas possam ver algo que você não esteja vendo. - Cogitou.
- Talvez, mas...
- Eu meio que entendo. - Ele por fim sorriu, me interrompendo. - Nem todos os acontecimentos são completamente compartilháveis. - Completou.
Assenti, sorrindo em agradecimento. - Ayato e Akane chegaram depois disso. Desmaiei pouco tempo depois, e quando acordei, Misa já estava lá com os dois; eles me disseram que a ministra Saki também apareceu no meu apartamento.
- Por quê? - Ele franziu a sobrancelha.
- Kai pediu que fosse. De alguma forma, acho que se conhecem.
- Ele com certeza tem bons contatos.
- É o mínimo que espero de uma pessoa tão absurdamente antiga.
- Bom ponto.
Eu estava prestes a falar novamente quando ouvi batidas na porta da minha sala. Tirei os pés da mesa, ouvindo Noah rir baixo enquanto assoprava seu café. Quando pedi que entrassem, Taira abriu a porta.
- Ah, você também está aqui. - Ela comentou quando seus olhos arroxeados o fitaram. - Já faz algum tempo.
- De fato. - Noah a cumprimentou curvando sua cabeça suavemente, alguns fios loiros caindo no rosto com o gesto, os quais ele retirou do seu campo de visão com um gesto gracioso, mantendo um sorriso generoso nos lábios.
Ele realmente não era próximo de Taira. Nenhum dos meus subordinados era, por mais que não fosse intencional. Mas as interações sempre pareciam divertidas para mim. Em defesa dele, ele na verdade talvez fosse o mais educado quando lidava com ela.
- O caso que te repassei já foi arquivado? - Ela me interrogou, ainda mantendo a porta aberta. Suas roupas envolviam um casaco jeans e calças esportivas, talvez estivesse com pressa por ter trabalho de campo.
- Não tenho certeza. Não estou mais no comando dele. Fale com Misaki, ela vai poder te atualizar melhor sobre isso.
Ela piscou um par de vezes. - Delegou para a sua imediata? - Suas sobrancelhas escuras se franziram. - Por que faria isso?
- Porque não pude lidar com ele.
- Ele me parecia bem fácil. - Rebateu ela.
- E é, mas...
- Hana foi atacada há dois dias. - Noah me interrompeu.
- O quê? - Taira fechou a porta atrás de si, encostando contra ela enquanto sua atenção se dividia para nós dois. Ela ainda assim preferiu não sentar na outra poltrona, ao lado de Noah.
- Um demônio transformado invadiu o apartamento dela. A gente estava agora mesmo conversando sobre isso, inclusive. - O olhar que lançou em minha direção parecia me dizer "de nada", mas tudo que ele fez foi tomar um gole do café em silêncio.
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Fanatismo
Ficção GeralNo ano de 2437, em Tokyo, um acidente no armazém do Hospital Sawasaki é o estopim de uma cadeia de eventos catastróficos que faz com que todo o Japão passe a questionar a coexistência com os demônios, criaturas de origem desconhecida que residem na...