Fanatismo

Capítulo 7

Abri a porta da sala de interrogatório ainda com a arma de Taira em mãos. Senti falta dos meus sapatos assim que minha pele nua tocou o chão; ele definitivamente não estava aquecido. Ao entrar na sala, também sentindo saudades do pouco ar que faltava em meus pulmões, ouvi o correr da porta para se fechar atrás de mim. Precisava me recompôr, estava desgrenhada demais para a minha posição, mas não tinha tempo para isso quando já estava no destino final. Eu deveria ter pensado melhor nisso... Eu sabia que meu corpo aguentaria subir todos aqueles lances de escada, do contrário, jamais teria ousado - ou pelo menos estava tentando me convencer disso; mas a sensação de náusea, eu também sabia, não estava remotamente ligada aos lances. E ainda que cada degrau tivesse conseguido tomar meu fólego pouco a pouco, eu me surpreendi quando ainda consegui prendê-lo quando adentrei a sala. Esse era o resultado do treinamento para inspetores da FICJ, eu supus.

A primeira coisa que meus olhos viram, ou pessoa, foi Yukimura, o inspetor do esquadrão três. Yukimura mantinha a cabeça ereta, as pernas firmes e braços cruzados, tão militar quanto a calça com estampa do exército que ele usava; tão militar quanto ele sempre havia sido desde que o conheci há seis anos, quando ainda era um cão de caça. Eu nunca soube o que o levou a sair do exército, mas definitivamente gostava de trabalhar com um homem como ele. Eu jamais seria tola o suficiente de verbalizar para outros inspetores, mas sempre achei que ele merecia ser o inspetor do esquadrão dois, e eu certamente não era a única a pensar daquela forma. Era bastante simples, quando ele era o responsável pelo caso, eu sentia que havia mais chances de dar certo. E precisamente por isso, torci para que ele fosse o responsável enquanto me aproximava dele, passando uma das mãos nos fios ruivos para tentar colocá-los de volta no lugar.

Perfeitamente como esperado, Yukimura piscou calmamente ao notar minha presença, acenando para me cumprimentar; no entanto, o fez sem ao menos retirar os olhos da cela com paredes de vidro um pouco mais a frente. Cela para a qual eu ainda não havia olhado. Talvez se não o visse, poderia pensar que toda aquela situação não passava de uma piada detestável.

- Você está liderando o caso? - Perguntei baixo, analisando todos os rostos de todos os cães de caça e outros inspetores de esquadrões mais baixos presentes na sala. Havia uma quantidade de pessoas considerável ali, como se a qualquer momento fosse começar uma espécie de apresentação que os interessava imensamente. Por algum motivo, não gostei de ter pensado daquela forma.

- Não, inspetora. Não estou.

Meus olhos se voltaram rapidamente para ele novamente. Talvez não passassem de um borrão ou vulto dourado enquanto eu os movia ali. - Então quem?

- Surpreendentemente, o comissário decidiu assumir esse caso pessoalmente. - Yukimura deixou que um sorriso divertido escapasse por um dos cantos dos seus lábios. Aquela era a prova do quanto ele se divertia, se deixou que escapasse aquela amostra da sua diversão.

- O comissário está cuidando do caso?! - Arqueei uma das sobrancelhas, não evitando o sorriso totalmente perpléxo em meus lábios. - Ele é inacreditável...

Yukimura assentiu. - Você também pode ser um pouco surpreendente, eu suponho. - Desde o dia em que o conheci, ele sempre havia sido exatamente daquela forma. Era sutil, mas possuía uma precisão quase perfeita nos pequenos jogos de palavras que fazia, quando sentia que a situação exigia. Jamais ousaria me questionar diretamente, mas diante das circunstâncias incomuns, não poderia deixar de fazê-lo.

Provando o meu ponto, os olhos de Yukimura se desviaram por cerca de um segundo em direção aos meus pés expostos, logo voltando a olhar a cela de vidro novamente.

- Digamos que saltos atrapalham a subida.

- Elevadores são assim tão lentos? - Ele entornou a cabeça em minha direção, finalmente deixando de lado a cela para que seus olhos castanhos pudessem observar os meus.