Capítulo 4

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Eu desci do carro já colocando o distintivo no pescoço. O colar levava apenas a sigla "FICJ" em letras negras, seguido pela indicação "DS - E1" em dourado, logo abaixo. Não era grandioso, mas era o suficiente para que as pessoas saíssem do meu caminho enquanto eu ia até a casa indicada, checando o endereço no holograma em meu pulso.

Ao chegar perto o suficiente, observei todos os detalhes daquela residência simples. Os meus óculos nem ao menos se moveram um centímetro enquanto eu estudava o que via.
Não havia nada aparentemente fora do lugar ou fora de ordem. Era apenas uma ordinária casa de classe média em um bairro residencial tão comum quanto. Exceto, é claro, pelas flores plantadas na entrada. Eu não tive tempo de observá-las como gostaria antes que os meus subordinados me vissem ali.
Os meus cães de caça se aproximaram de mim, saindo de perto do carro de Naoki com expressões sérias demais no rosto.

- Onde você estava? - Misaki sussurrou, tentando não chamar a atenção das poucas pessoas em volta que olhavam para a casa, curiosidade crua e explícita nos olhos.

- Trabalhando. - Eu respondi sem dar atenção, brincando com a gola em V da blusa preta que eu usava.

Olhei a casa novamente, olhando as janelas e portas visíveis. A minha blusa era justa e tinha mangas curtas, a calça jeans era igualmente justa e o tênis igualmente negro; me senti mais confiante sabendo que não seria um problema fugir daquela casa usando aquelas roupas caso fosse necessário. Já havia precisado tirar uma blusa cheia de babados para fugir de um bar com dois demônios me perseguindo — mais um dia comum no trabalho. Eu não gostaria de repetir a dose.

- "Trabalhando"? Só isso? Oh Deus... - Misaki olhou para o lado ao revirar os olhos, não mostrando aos civis que um cão de caça havia revirado os olhos para o inspetor. E eu apenas sorri para ela, deixando claro que não explicaria mais do que aquilo.

- Era sobre o cara? - Naoki perguntou, mantendo a expressão plena, como se não estivesse falando sobre um mestre de território.

- Não sei do que está falando... - Eu quase cantarolei, fazendo meu subordinado rir baixo.

- Certo, certo... Vamos trabalhar então. - Ele checou a própria arma, indicando com o braço que eu fosse na frente.

- O que nós sabemos? - Perguntei para ninguém em específico.

- Pouco. - Julie tomou a palavra, andando ao meu lado para mostrar a tela da sua pulseira. - Nós recebemos essas três denúncias. A primeira não disse mais que o endereço e falou apenas que "achava que havia algo errado na casa"; a segunda disse que ouviu barulhos como arranhões e gemidos de dor. Ela também deu o endereço. E a denúncia foi feita pela casa ao lado. - Julie apontou para a casa coral que ficava à direita.
Eu assenti, ouvindo cada palavra enquanto caminhávamos até a casa branca, nosso propósito ali. A minha subordinada continuou o que dizia enquanto me enviava os arquivos das três denúncias:
- E a última foi a pessoa que viu um demônio sair da casa pela porta da frente. Ela disse que ele estava sujo com algo que parecia sangue e estava parcialmente transformado. Ela também deu o endereço.

Eu parei na frente da casa, alternando o olhar entre Naoki e Misaki. - Podem me trazer luvas de couro?
Pedi, Misaki imediatamente olhou para as minhas mãos nuas, arqueando as sobrancelhas com culpa nos olhos.

- Desculpe, não pensei que você estaria sem luvas. Vou pegar um par no carro. Espere dois segundos! - Ela já corria em direção ao carro de Naoki quando terminou de falar.

- Julie. - Chamei. - Descarte a primeira denúncia. É repleta de achismos. Alguma das outras denúncias foi feita com vídeo ou áudio?

Julie balançou a cabeça.
- A segunda denúncia foi feita com áudio. É até possível ouvir uns ruídos ao fundo, mas não conseguimos identificar mais que isso.

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