Capítulo 11

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Eu estava exausta. Fisicamente exausta. E se parasse para pensar sobre o local aonde estava indo, eu já sabia que provavelmente ficaria mentalmente exausta também. Mas valeria a pena — ou pelo menos eu esperava que valesse.

Da última vez que chequei, eram onze horas da noite. Era em grande parte minha culpa o fato de que eu ainda não conseguia me livrar do trabalho no horário certo; pelo menos dessa vez, só fiz uma hora extra.

Bati na porta com a junta dos dedos nus, distraída com as janelas abertas em minha pulseira enquanto esperava. Ainda deixei algumas coisas importantes por fazer e algumas coisas que eu definitivamente deveria ter terminado hoje, e talvez eu vá diretamente trabalhar assim que sair daqui, o que pode significar que não vou conseguir dormir essa noite...

Quando eu era mais nova, algo em torno de dezesseis ou dezessete anos, achava o ritmo de trabalho dos adultos ao meu redor deliciosamente atraente. Procurava por coisas que fossem me ocupar, trabalhos de meio período que me exaurissem ao final do dia a ponto de achar o chão de casa algo semelhante à nuvens. 

Naquela época, eu quase podia dizer que me sentia realizada imitando o estilo de vida dos adultos que via pela cidade. O ritmo incansável e o trabalho interminável, no entanto, se mostraram completamente assombrosos uma vez que eu de fato tinha tanto para fazer sem ao menos precisar encontrar formas de me manter ocupada. Acho que era diferente quando se podia desistir logo que ficasse monótono e levemente cansativo e quando não se tinha a opção de desitir mesmo que parecesse ridiculamente exaustivo. O trabalho simplesmente continuava chegando em minhas mãos... Eu delegava tanto aos outros e ainda assim não conseguia abrir espaço para dormir até tarde ou sair para conhecer restaurantes, o que eu com certeza sentia falta.

Eu não tinha certeza se podia culpar algo específico pela falta de tempo, mas arriscaria dizer que parte do motivo era o Incidente Sawasaki e todos os problemas que vieram após ele. A questão era que eu estava tentando ceder ao ritmo dos problemas e acompanhá-los, mas eles pareciam se multiplicar e se dispersar mais sempre que estávamos no mesmo nível. Do que eu precisava então, exatamente...?

Suspirei alto, pronta para bater na porta mais uma vez, mas ela se abriu assim que ergui minha mão.

Kai me olhou da cabeça aos pés, como se estivesse estudando todas as possibilidades da minha ida até ali. Fechei a tela da minha pulseira. Quais eram as chances dele ter esquecido que me pediu que fosse vê-lo...? Eu não me importaria de ir embora dormir por pelo menos três horas para voltar a trabalhar, no entanto.

A casa por trás dele chegava a parecer turva graças a silenciosa e feérica escuridão; ela parecia estranhamente inerte, ainda que quente. A única iluminação que me permitia vê-lo vinha das luzes externas, que se fizeram a vontade para entrar na casa e descansar sobre alguns móveis e uma pequena parte do chão. Me pergunto se ele ao menos estava em casa há muito tempo ou se tinha acabado de chegar também.

Eu não sei porque decidi manter a voz baixa ao falar: 

- Te acordei? - Tentei a alternativa mais plausível, apesar da calça jeans e camisa preta que ele usava ao invés de um suposto pijama.

- Sim. - Sua voz soou rouca, quase incapaz de deixar sua garganta. Suas sobrancelhas se franziram levemente, como se tivesse acabado de se dar conta de como estava a própria voz, mesmo que naquele ponto já tivéssemos passado pelo dia inteiro.

- Não tinha como saber. - Me expliquei.

- Não é um problema. Estava dormindo desde oito da manhã.

Eu pisquei, estática. - Não tive como vir mais cedo, - Tentei deixar o pequeno choque de lado.- mas teria dado um jeito de te acordar antes se soubesse.

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