A esquisita

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Na escola Albert Litner High, existia um grupo de jovens baderneiros em que toda sexta estavam na sala de detenção. Detenção essa onde a professora Parkins aplicava tarefas para que os jovens citados tivessem alguma ocupação e não fizessem mais bagunça. Os jovens eram Hale e seus amigos Greg, Peter e Chase, estavam sempre metidos em confusão fruto de suas apostas durante as aulas, coisas como apostar que acertariam o relógio na cabeça do professor enquanto corriam na quadra, apostar que roubariam a receita do almoço da semana da cantina, apostar que cortariam o cabelo de três ou mais meninas enquanto elas estivessem distraídas e etc. A aposta da semana era quem gritava mais durante o horário letivo, não preciso mencionar que isso causou uma irritação geral, logo os quatro jovens estavam na detenção, eles não ligavam, na semana seguinte fariam outra aposta e sexta-feira estariam na detenção de novo, era o último ano na escola, não poderia passar em branco.
Hale Doss era o capitão do grupo de apostas, sempre inventava as piores e quando era pra livrar os amigos, ele tomava a frente, além de ter uma lábia intacta. Gregory Dickens era o mais novo dos quatro, protegido de Hale, era o "objeto" perfeito quando precisavam de alguém ágil e pequeno em seus planos de fuga, sempre se safava por ter boas notas. Peter Hitman era quem ficava com a tarefa de engabelar as garotas por ser o mais alto e ter músculos definidos, o que atrapalhava a passagem pelas portas, era quem ficava pra trás quando era hora de fugir. Chase Capsfire era o "do contra", dizia não para muitas das apostas que davam errado futuramente mas não deixava de fazer, podia se dizer que era o único que era sensível quando Hale tinha como alvo meninas e alvos de bullying.

- Doss, eu to cansado. Não dá pra gente dar um tempo? Tipo, as férias de verão estão quase chegando, eu não quero ficar na escola. - Peter reclamou.
- Você é sempre o que reclama, Peter. Chato. E relaxa, tem só mais uma.
- As vezes eu acho que o Doss fica no banheiro batendo uma e pensando em apostas.
- E você lambe tudo, né Chase? - Hale respondeu e o amigo se calou. - Dessa vez, vai envolver dinheiro.
- Você sabe que a gente é liso, cara. Vamos tirar dinheiro de onde? Minha mãe me dá 20 dólares pro almoço e isso é pouco.
- 20 de cada dá 80.
- Eu não vou dar meus 20 dólares pra você apostar. - reclamou Greg, o mais faminto.
- Tá, 60 então.
- Espero que valha a pena.

Em poucos minutos, uma outra aluna entrou na sala de castigos, era Betina Poleman, também aluna do terceiro ano assim como todos menos Greg, aspirante a protestante radical, o motivo de estar ali era ter começado uma revolução na cozinha onde só tinham cozinheiras trabalhando. Betina não gostava de perder tempo com conversas banais ao contrário de Hale e seus amigos, estar no mesmo ambiente que rapazes explodindo hormônio e testosterona era complicado e irritante pra ela.
O começo foi difícil, Hale ria alto e fazia sons agudos para irritar a senhora Parkins que as vezes caía no sono, Greg e Peter riam de bater o pé no chão, Chase torcia os lábios vendo Betina batucar as unhas na carteira impacientemente, ele sabia que a qualquer momento poderia iniciar uma guerra.

- Aposto com você... - Hale iniciou.
- Cara, não. - Peter ria de uma piada recente. - Depois a gente faz isso.
- Presta atenção. - ele fez sinal para que os outros três se juntassem e assim fizeram. - Aposto que consigo fazer a esquisita da Poleman me ameaçar de morte.
- Ela não tem cara que faz isso... - Greg a encarava por cima dos ombros.
- Como assim?
- A Betina fazia isso cinco anos atrás quando era uma pirralha chata, ela já ta velha demais pra ameaçar de morte.
- É, ela ja tem 18. - Chase desdenhou.
- Essa garota é mais velha que eu? - Hale pareceu não acreditar. - Aposto que consigo até o final do dia!
- Ih, virou questão de honra.

Hale esperou Betina se distrair rabiscando na mesa e se aproximou sorrateiramente, sentando do seu lado. Ele observou que ela rabiscava flores e borboletas, "coisas de garotinha" pensou.

- Olá. - ele se esgueirou.
- O que quer, Pussy?
- Eu ia ser legal com você, mas não gostei da piadinha.
- Oh, estou chorando... - ironizou ainda focada nos rabiscos.
- Tá aqui porque?
- Não te interessa, Hale. - ela franziu o cenho, dessa vez encarando o rapaz.
- Cara, a gente ta aqui preso junto e você insiste em ser uma pau no cu, vai dificultar?
- Você me chamou de que? - Betina ficou de pé, tentando intimidá-lo.
- Pau no cu? - ele achou graça. - Te ofendi, Poleman?
- Me ofender? Você tem que nascer de novo e tentar ter um cérebro pra me ofender. Você só ta enchendo meu saco mesmo.
- Não pareceu. - ele disse baixo, se levantando também. - Você ficou putinha.
- Vai se foder, Doss.
- Quer foder comigo? - ele a olhou nos olhos, percebendo uma leve surpresa vindo dela.

Betina o empurrou, fazendo o rapaz tombar e arrastar algumas cadeiras. Os três rapazes mais adiante levantaram ao mesmo tempo, observando o amigo caído sobre três carteiras, eles queriam rir mas sabiam que ia piorar a situação ou tirar a credibilidade do rapaz. Hale se levantou categoricamente e se aproximou de um jeito predatório até Betina.

- Não deveria ter feito isso.
- Vai me bater? - ela tombou a cabeça.
- Não bato em mulher. Até por quê vocês são mais fracas.
- Nossa...
- Mas... - ele se aproximou até juntar os bicos dos tênis. - Eu vou te foder. Não de um jeito bom.
- Como seria bom vindo de você? - a menina riu.
- Ah, Poleman...
- Hale! - Greg chamou. - Vem aqui.

O rapaz furioso atendeu o amigo e voltou a se sentar entre os outros três, algo nele dizia que isso não iria ficar assim.

- Dá uma segurada, cara. Você tava igual a uma menininha discutindo com a Poleman. - Chase aconselhou.
- Ela me jogou no chão. - disse entre dentes.
- Você morreu? Não, então ta choramingando sim.
- Essa garota é chata, deixa ela pra la, cara... - Peter deu de ombros. - A gente tem problemas maiores.
- Tipo o quê? - Greg perguntou preocupado já que era um bom aluno.
- Tipo estar na detenção de novo. É a terceira vez no mês e hoje é dia 16.
- Deve ser por quê todas as nossas apostas estão indo pelo ralo. A Parkins ta na nossa cola desde que o Peter colocou uma colmeia na tuba da Karen Handel.
- Isso foi ano passado... - Hale suspirou.
- Isso foi semana passada, Hale.
- Tá, errei a data. Mas tanto faz, já passou.
- Vocês repararam que cada mês o Doss ta obcecado por alguma menina? - Greg palpitou. - Isso não tira os alvos masculinos, okay, mas é sempre uma garota.
- Você tá falando merda, Greg.
- Dessa vez é a Poleman. - Chase riu. - Ela é esquisita, mas o que será que tem em baixo daquela saia?
- Um arbusto? Feministas não se depilam.
- Eu vou descobrir. - Hale olhou para a menina no fundo da sala. - Ou eu não me chamo Hale Doss.
- Eu disse. - Chase fez Greg lhe entregar uma nota de 1 dólar por ser uma aposta boba. - Eu aposto com vocês que o Doss morre antes de pegar a Poleman.
- Quem falou em "pegar" a doida? Credo.
- E como você vai olhar por baixo da saia dela? - Peter resmungou já de saco cheio de ouvir planos mirabolantes. - Não é esse o plano?
- Não, cara. O plano é pegar a Poleman.
- Já disse que não!

Enquanto Hale gritava com seus amigos, Betina revirava os olhos e matutava um jeito de sair daquela sala.

- Somos babacas mas não a ponto de nos envolver com os alvos. Mas que ela tem que se ferrar de algum jeito, tem.
- A gente aposta a virgindade dela?
- Desde quando a Poleman é virgem? - Peter disse rindo da inocência de Greg. - Ninguém é virgem hoje em dia, a não ser você, Greg.
- A gente não pode só dar um susto nela? Tipo fingir um sequestro e largar ela no começo da Intermunicipal? Depois ela volta a pé.
- Isso é cru...
- Perfeito, Chase. Perfeito.

Os erros que cometemos quando éramos cegosOnde histórias criam vida. Descubra agora