O início do plano

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Ninguém sai da vida escolar sem ter participado de alguma forma de uma peça de teatro, sortudo seria a pessoa que não tivesse participado de Romeu e Julieta, pelo que sei, ninguém aguenta mais esse romance de Shakespeare. Faltavam poucas semanas para as férias de verão e a ALH ja estava se preparando para a despedida, menos o Clube de Teatro que começavam a organizar os cenários.

- Certo... Betina! Você tem que pregar essas rachaduras nas árvores de compensado e pintar os tijolos... - a baixinha, agora ciente de que se chamava Carol, ordenava. - Tijolos! Lembrei, a parede que Romeu sobe pro quarto de Julieta ta acabada, precisamos de verba...
- Eu posso falar com o Golding. - um magricela completamente sujo de tinta disse.
- Chegamos! - Hale anunciou ele e seus amigos, abrindo as portas com força.
- Seria uma pena se vocês sumissem ne? - Carol brincou.
- Desejar coisas ruins atrai energias ruins, Carol. - Peter deu uma piscadela. - Aliás, você tá uma gata.
- Argh... - ela gruniu. - Ajudem, só ajudem. Tem muita coisa pra fazer em pouquíssimo tempo.

Carol deixou eles sozinhos e entrou na porta dos bastidores. Hale queria tomar a frente e ir implicar com Betina que fez questão de pôr fones e seguir para as árvores de compensado, Greg entrou em seu caminho, dizendo que ia tentar distraí-la para não deixar o clima de sequestro relâmpago aquela semana.

- Betina, oi! - O menino disse animado, acenando para que ela tirasse o fone.
- Gregory. Olha, se você vai ficar me azucrinando...
- Não, não, eu não. Eu sou da paz. - ele levantou as mãos em sinal de rendição. - Você ta bem?
- Eu poderia estar melhor, mas eu tenho você e os outros, sem falar no palhaço do Hale, no meu pé.
- Eu pelo menos to tentando ser seu amigo, os outros eu não sei.

Betina respirou fundo e viu que estava com a pistola de pregos na mão, ela não poderia cometer um crime antes de se formar na escola, seria humilhante... Ou poderia? Ela olhou para o menino com cara de bebê a sua frente, sorria descontraído esperando que ela fizesse o mesmo, mas não fez, só bufou e continuou o que estava fazendo.

- Pra sua sorte, minha amiga é doida por você, não posso te fazer mal... Mas eu faria, Dickens, sem pensar duas vezes.
- Eu quero te pedir desculpas... Por mim, pelos meninos, pelo Hale. - fingiu. - Ele é bem chato.
- Chato? - ela riu com ironia. - Hale é o demônio, ele podia morrer.
- Ai, que isso, não é pra tanto.
- Hale é a personificação de tudo o que eu sou contra, ele é machista, escroto, ignorante, teimoso, burro, idiota! Idiota!
- É, eu não tenho muito o que fazer, se ele quiser se redimir ou fazer você desconstruir, é ele que tem que fazer isso, não eu. Eu, Gregory Dickens, to aqui, pedi desculpas pelas merdas que eu fiz.
- Você nunca me fez nada, Dickens. Quer pedir desculpas? Pede pra todos os alvos de vocês, não pra mim. Eu to bem.
- Ok. Quer ajuda com alguma coisa? A gente tem que fazer alguma coisa aqui também.
- Tá. Pega o resto das árvores pra pegar e tinta para os tijolos.
- Tudo?
- Tudo.

De longe, Hale observava Greg e Betina socializando entre si, estavam distantes, não dava pra ouvir o que estavam falando. Peter estava ajudando especialmente as meninas a alongar, dizendo que o teatro era uma entrega de corpo e que ele tinha feito um curso de massagem. Chase havia se entregado na parte dos roteiros e escala de atores, Carol não queria por a Clover Tobin como Julieta, ja que as duas não se davam bem e ela sempre tinha papel de protagonismo nas peças, Carol achava que todos mereciam uma chance e então mudaria todos os atores, dando espaço pra quem quisesse participar.

- O que será que eles estão falando? - Hale cutucou o amigo.
- Não sei, cara. Deixa eles pra la. - Chase resmungou, estava concentrado na lista de atores de Carol.
- E se o Greg tiver falando merda?
- Você se importa, Hale? É só a chata da Poleman.
- Não fala assim dela, garoto. - Carol o reprimiu. - No Teatro não tem espaço pra esse tipo de besteira, a gente é muito ocupado pra isso. Coisa de criança...
- Viu, Hale? Sem espaço pra esse tipo de coisa. Concentra em trabalhar pra gente poder conseguir nossas notas.
- Tá, tá...

***

Depois do horário letivo, os nossos quatro mocinhos rebeldes se encontravam no porão da casa de Greg, um lugar mal iluminado onde caberia dois caminhões pequenos, com uma mesa de sinuca perto da única janela que tinha, banheiro embaixo da escada, um sofá azul de couro ja rasgado de tão velho, uma TV com videogame e a caixa de areia de seu gato, Pistache.

- Tá, a gente precisa de um carro. - Chase jogou no ar.
- Carro pra que? Não é só apagar e deixar ela no começo da Intermunicipal? Não era esse o plano? - Peter repassou o plano para os amigos.
- E como você vai levar ela pra Intermunicipal? De bicicleta?
- Ah...
- Então, um carro. A gente pega ela na saída da escola, joga ela no carro, vai até o começo da Intermunicipal e solta ela lá. Com o carro, Peter.
- A gente ja sabe disso, Doss. O problema é o carro, seu pai não vai emprestar o carro, minha mãe não tem carro, o carro do pai do Greg é do trabalho dele e a mãe do Chase... - Peter completou.
- O papo tava bom até falar dela. Já falei pra não tocar nesse assunto.
- Tá cara, foi mal.
- Temos dois carros, um da pra pegar emprestado. O do meu pai.
- Seu pai vai surtar se não ver aquele carro horroroso intocável na garagem. Cara, seu pai pede bênção pr'aquele carro quando acorda e quando vai dormir, Raymond Doss vai acionar o exército americano se ele for na garagem e não ver ele lá.
- Vai dar certo.

Os erros que cometemos quando éramos cegosOnde histórias criam vida. Descubra agora