Os erros que cometemos quando éramos cegos

Resolução de problemas

- SILÊNCIO NO TEATRO, ROMEU E JULIETA, CENA DO BEIJO!

Em todo lugar podia se ouvir a voz de Caroline Seewet, centrada nos dois novos alunos escalados para os protagonistas, focada em fazer dar certo mesmo se eles fossem péssimos atores. E eram. No palco, Jenna e Chase diziam as falas sem vontade e emoção, nitidamente não sentiam vontade de estar ali.

- DE NOVO! Isso ta horrível... Até o Hale e a Tini, que viviam brigando o tempo todo, é bem melhor do que isso.
- Sinto falta deles... - Peter resmungou, agora ajudava a baixinha ja que Moira precisava ensaiar também.
- É...! Eles tinham algo. Uma chama que dava vontade de ver. Irritava, mas era bom.
- O Hale não é mais o mesmo desde que a Betina parou de falar com ele definitivamente. Antes era divertido ver os dois quase se matando, agora eles se odeiam de verdade.
- Se odeiam nada... Eles se amam, por isso que tá chato. Nenhum dos dois dá o braço a torcer.
- Como fazer dar certo?
- Eu tenho cara de cupido, Hitman?
- Você tem uma carinha linda, Carol.
- Nã-ã. Seu papinho ruim de galã não cola comigo, eu sou vacinada.
- Eu vou tentar resolver isso.

***

Do outro lado da escola, Veronica desfilava em seu uniforme números menores que o seu tamanho, deixando os alunos do segundo ano babando em suas coxas, era divertido mexer com os hormônios frágeis, alimentava seu ego. Mas nada se comparava a ver Hale distante de Betina, a sensação de campo livre era reconfortante, o rapaz estava sentado no canto de uma das salas vazias do terceiro ano, olhava pela janela distraído.

- Você ainda ta com essa carinha feia, meu bem. - a morena curvilínea disse sedutora.
- Estou normal.
- Não precisa ser frio comigo, mas se você quiser... Eu quebro o gelo.
- Vee, dá um tempo.
- Ai Hale... - bufou. - Até quando você vai ficar assim por causa da anã da Poleman?
- Não to assim por causa de ninguém.
- E eu não te conheço, né?
- Não é com você que eu quero ter essa conversa.
- Por que não? Eu sou uma ótima amiga.
- Que tem segundas intenções.
- Não nego, sou doida nesse corpinho delicioso.
- Por isso que eu não quero ter essa conversa com você, seu interesse é me ter, não me ajudar.
- E como eu posso te ajudar, amor?
- Não pode. Na verdade, só atrapalharia.
- Ok, você ja está me ofendendo. Acha que sou tão ruim nesse nível?
- Sim.
- Que insulto! Eu sou pior. - riu em desdém. - Eu amei saber que a Betina te deixou de lado, agora eu posso investir.
- Isso não é legal de falar, Veronica.
- Você acha que eu ligo? Estou sendo transparente.
- Sua transparência é horrível.
- Hale Doss, você quer que eu seja a vilã dessa história? - Veronica o fez a olhar nos olhos. - Vai se surpreender com o caos que eu posso começar.
- Eu quero que você me deixe em paz e pare com essa ideia ridícula de querer ser melhor que a Betina. As duas são ótimas.
- É por isso que você não chega a lugar nenhum, ta sempre querendo ser igual. - jogou o cabelo. - Você tem que ser melhor.
- Obrigado pela dica, Simpson.

Hale levantou, andando em direção a porta, a deixando sozinha. Odiava quando ele a chamava pelo sobrenome assim como fazia com todo mundo, ela era especial, ela era melhor e gostava de como seu primeiro nome soava na sua voz.

- Ok, então eu serei a vilã dessa história.

Hale continuou andando pela escola, era intervalo. Estava torcendo para não esbarrar com ninguém que tivesse que dar satisfações, era cansativo ter que explicar algo que nem ele sabia como explicar, mas uma coisa era certo, sentia saudade. Mas saudade do quê exatamente se os momentos de amor nem chegaram a existir, foram só pegação, brigas e implicância. Ela nem deu tempo pra que funcionasse... Hale parou pra pensar, ele não disse nada, apenas deixou ela tomar a decisão pelos dois, não era isso que ele queria.
Betina estava na aula de Química prática, concentrada em não explodir o prédio de química, já havia terminado as suas tarefas do dia no teatro e tinha que recuperar notas que em dois meses e meio caíram muito pelos últimos problemas.

- Com licença, professor. - a sala fora invadida por Peter.
- Sim? - sr. Billy, um homem na meia idade, respondeu. - Não veio atrapalhar minha aula, veio Hitman?
- Não, é rápido. - Peter varreu a sala com os olhos. - Poleman!
- Não. - a garota pronunciou de um jeito grosso.
- É urgente!
- Não.

Peter fazia gestos desesperados na porta, queria que ela saísse da sala pelo menos, mas ela estava impossível

- BETINA, PELO AMOR DE SEUS!
- Hitman! - fora reprimido pelo professor. - Betina, vai logo e seja breve.

A jovem tirou a máscara de proteção e saiu de jaleco, querendo surrar o garoto que insistia em sua saída.

- Eu espero que no mínimo o mundo esteja acabando, Peter Hitman.
- O Hale...
- Eu sabia! Vai à merda! - Betina fora interrompida quando tentou voltar pra sala.
- Você não vai fugir, me ouça.
- Eu não tenho absolutamente nada pra saber dele, o que tivemos acabou, não vai acontecer mais nada, eu até saí da peça pra aquele garoto ter a liberdade de fazer o que ele bem quiser da vida dele.
- Você é pior do que ele, como pode?
- Sei lá. - deu de ombros. - Eu estou em aula, já acabou?
- Não. Olha só, Bê, meu amigo é um idiota, ele é um escroto, mas ele é do amor, ele ama você. Você acha mesmo que aquele Doss de março iria topar contracenar Romeu e Julieta se não fosse com você?
- Sim? Ele adora aparecer, eu não.
- Não! Você não percebe como ele mudou? Meu Deus, mulher, ele lambe o chão por onde você passa mesmo você estando distante dele.
- É incrível como você tem arte da bajulação instalada em você. - Peter sorriu. - Mas a resposta ainda é não, Hitman. Não quero mais nada com o Hale.
- Você é uma boba. Mas enfim, quer sair com a galera? O Greg quer chamar a Moira pra sair mas não  quer ir sozinho.
- Não to falando com ela, mas ela gosta de cinema e o parque do pier por causa das luzes. Não deixa ela comer nada que não seja pipoca ou que tenha nozes ou amendoim, ela é alérgica. - disse antes de voltar pra sala.

Não demorou muito pra uma Moira chorosa aparecer.

- Estava ouvindo?
- Sim. Meu Deus, ela me ama! - abraçou Peter sob lágrimas.
- Ela é sua melhor amiga, não é?
- Sim, mas estamos brigadas.
- Por que não resolvem tudo com um beijo triplo?
- Eca, Hitman.