O fim da paz

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Havia se passado uma semana depois do Halloween, o clima de novembro estava frio com a proximidade do inverno junto da nova temporada de futebol, os corredores da AHL estavam tomados pelas cores azul e amarelo dos Knights, porém isso não ofuscava a chegava da apresentação de Romeu e Julieta, a tragédia romântica de Hale e Betina. Os dois se ignoravam pela escola de um jeito adulto e sério, incomodavam seus amigos que não se atreviam a questionar a atitude de ambos, a não ser Moira, que mesmo do lado da amiga, convivia carrancuda.
Era uma nova segunda-feira e Betina tinha que desistir do seu papel de Julieta, o desafio era enfrentar Carol tão em cima da hora, mas não podia mais conviver com Hale. Descendo as escadas do auditório, Betina avistou os demais alunos ensaiando para a peça, Carol coordenava tudo e Moira ajudava nos ajustes das roupas.

- Carol, quero fala com você.
- Agora, Tini?
- Sim, é importante.
- PAUSA! - gritou. - Fala.
- Não vou participar mais da peça.
- Carol, não vou mais participar da peça. - Hale chegou anunciando.
- Vão à merda, os dois! Vocês atrapalham o ensaio da peça que vai ser apresentada em pouco mais de um mês pra dizer que vão sair da peça? Que droga os dois estão usando?
- É o melhor a se fazer. - Betina bufou.
- Não dá pra conviver com alguém que não sabe escutar e progredir.
- Escutar e progredir? Você me traiu.
- Ah, já entendi. - Carol sorriu. - Vocês estão de mal e querem FODER a minha vida! Meu Deus, crianças, cresçam! E saibam dividir trabalho da vida pessoal.
- Carol, eu não vou mais participar da peça, eu ja disse.
- Nem eu.
- Ótimo.
- Ótimo.
- Sinceramente... - Carol esfregou os olhos. - Eu quero que vocês dois explodam. Bem agora. Podem fazer isso por mim?
- Sinto muito.
- Não, não sente! Os dois estão sendo irresponsáveis comigo, com a escola, com o Golding, com as notas. Na verdade, eu to pouco me lixando para a vida acadêmica de vocês, mas não podem abandonar a peça agora.
- E a Betina não vai! - Moira apareceu sorrindo. - É só birra.

Moira puxou a amiga para o backstage do palco, ainda de cara feia.

- Eu não vou deixar você fazer isso.
- Moira, você é minha melhor amiga desde que o mundo é mundo, mas você não tem poder sobre mim.
- Ah, eu tenho sim. Betina, você endoidou? Se você não quer ficar perto do Doss, não fique, mas não faz isso.
- Como que eu não vou ficar perto do Doss se ele é meu par romântico na peça?
- Você não tem substituição!
- E o que eu tenho a ver com isso? Isso era responsabilidade da Seewet.
- Está sendo uma puta vadia egoísta, Betina Poleman.
- Eu sou uma vadia egoísta, Moira!
- Não, você não é! Você não quer se resolver com o Hale e está destruindo o que estamos trabalhando há meses.
- Eu nunca quis entrar pra essa peça! Eu nunca quis estar aqui!
- Mas você tá! A gente tava feliz...
- A gente? VOCÊ, Moira, você estava feliz por eu estar fazendo a sua vontade de representar Julieta, coisa que você sempre quis.
- Você não tá falando sério.
- Sim, eu estou. Agora que eu saí, você pode ser a Capuleto.
- Betina, eu não acredito. Olha a merda que você ta falando.
- Eu cansei disso. Dessa fantasia de estar feliz fazendo algo que eu não quero pra agradar. Você, o Doss, a Carol, o Golding.
- Eu sou sua melhor amiga, se estava te incomodando, era só falar.
- Eu falei e você insistiu. Insistiu até ouvir o que você queria ouvir, mas eu não suportei. Sinto muito, Moira. Se você não quer ser a Julieta, ache outra.

Betina entortou os lábios e saiu do anfiteatro, deixando todos esperando o encerramento do enredo. Moira saiu furiosa de trás do palco, indo em direção a Hale.

- A CULPA DISSO TUDO É SUA! - gritou, chamando atenção.
- Eu não fiz nada!
- Sim! Você fez! Se não tivesse quebrado a confiança dela de novo, ela ainda estaria aqui!
- Eu não sei como ela ficou sabendo, eu ia contar!
- Contar o quê, exatamente? Que você pregou peças de novo ou que você ficou com a Vee?! - um vozerio fora iniciado.
- É o que?! Eu não fiquei com a Vee, eu gos... Eu não fiz isso!
- Doss, eu tinha fé em você... Além de decepcionada e chateada por que minha melhor amiga não aguenta ficar perto de você, estou furiosa! Você não conseguiu mudar por ela!
- Eu mudei!
- Não, você amoleceu! Você não gosta da Betina... Você não gosta de ninguém!

Foi a vez da mocinha de cabelo verde sair em disparada do auditório, deixando a nuvem de caos junto dos outros. Carol jogou os papéis do roteiro pro alto, soltando um grito gutural, estava irritada por seus amigos serem tão imprudentes e infantis, não sabia lidar, não conseguia ser tão compreensiva com quem fazia questão de errar.

***

- Betina.
- Não.

Depois de muito procurar, Doss finalmente a encontrou, sentada no canto do estacionamento após as aulas.

- Eu não traí você. Não fiquei com a Vee.
- Não me interessa, a gente não namora.
- Independente, tinha um algo rolando e eu não estraguei isso, só quero deixar claro.
- Doss, foi um erro. Desde o começo. A aproximação, os beijos... tudo.
- Eu sempre errei com você, não tinha como algo bom dar certo disso.
- Concordamos em algo.

Hale se sentou do seu lado, fazendo a garota revirar os olhos.

- É difícil, mas eu gosto de você.
- Não quero saber, não me interessa. Destruímos qualquer tipo de relação que podia nascer. Você não gosta de mim, você é carente.
- Você gosta de mim mesmo assim.
- E que porra de diferença isso faz? Você ainda é o babaca que eu odeio, ainda vai me magoar no final do dia com suas atitudes de merda.
- Sua intenção é me magoar?
- Minha intenção é... Voltar a ser a Betina que eu era em março, revoltada com as regras machistas dessa escola mas sem resquícios de você e sua trupe na minha vida. Você tem noção da bagunça que fez?
- Eu tenho. - o rapaz riu. - Eu to vendo.
- Como pode ser tão prepotente assim?
- Como você pode ser tão teimosa assim?
- Hale. Acabou.

Betina se levantou, deixando-o sozinho entre os carros.

Os erros que cometemos quando éramos cegosOnde histórias criam vida. Descubra agora