Encenação

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- A gente pode conversar?

A garota que desenhava na borda de seu caderno fora interrompida, era Greg, que a encarava esperançoso.

- Senta aí. - ordenou. - Antes que você comece a falar, não sei nada sobre o Hale.
- Não, não quero falar sobre ele. É a Moira.
- O que ela fez? - Betina riu, imaginando as loucuras que sua amiga havia feito.
- Ela gosta de mim... Eu gosto dela, mas ela não sabe que é recíproco.
- Opa, opa, você é afim da minha amiga igual ela é de você?
- Não sei se é igual, mas eu gosto dela sim. Ela pode ser meio doida as vezes e invadir minha sala pra me dar uma cesta de biscoitos ou escrever meu nome no sapo que dissecamos em biologia, mas acho que ninguém nunca fez nada por mim assim e eu gostei. Mas eu não gostei de um jeito que fizesse bem pro meu ego, eu gostei de querer fazer por ela também.
- Meu Deus, você fala tanto quanto ela... Mas ta, vocês se gostam e isso é muito legal, qual o problema?
- Eu não consigo falar com ela, fico nervoso. - Greg colocou a mão no bolso e tirou um cartão amassado de 0,99. - Pode entregar pra ela por mim?
- Posso. Ela vai surtar, mas posso.
- Agora a gente pode falar do Hale?
- Eu disse que não, não abusa.
- Eu vi que ele te beijou. Acho que eu fui o único.

Betina gelou e novamente sentiu o rosto esquentar daquele jeito quando o assunto era com ou o jovem Doss.

- Eu só quero falar que se for segredo, eu não vou falar pra ninguém. - foi sincero.
- Greg, obrigada. Mas esquece que você viu isso, ok? Foi uma anomalia atemporal, uma falha na matrix.
- O Doss disse que vocês estavam ensaiando Romeu e Julieta, era a cena do beijo... Não foi isso?
- Foi... Foi sim. E ele é um péssimo ator.
- Ah... Mas se for segredo, eu guardo.
- Obrigada, jovenzinho. - o sinal tocou alto. - Vamos pro auditório.

Gregb a seguiu até o auditório, Moira ensaiava com Chase e Peter no palco, os dois rapazes haviam ficado com os papéis de Mercúcio e Benvólio, amigos de Romeu, Carol ajudava Rita e Billie com as roupas, enquanto Betina descia as escadas em direção ao palco, Jenna correu em sua direção.

- Me ajuda!
- Ajudo... O que houve?
- Hale colocou uma barata enorme no trocador e eu preciso ver se o vestido da mãe de Julieta cabe em mim.
- Cadê a Sabine? - se referindo a quem faria o papel citado.
- Tá com chato. - Jenna sussurrou.
- Eu tenho que matar a barata?
- Qual é, Betina. Você é super foda e se entende com o Hale, só mata a barata e depois mata ele. Sério, ele atrapalha mais do que ajuda!
- Eu sei como é...

Betina deixou sua bolsa perto da mesa de Carol e correu para o trocador, não tinha medo de insetos, tinha que lidar com eles na colheita e plantação. Enquanto procurava a barata, mentalizava um mantra para que Hale não aparecesse com alguma brincadeira idiota.

- Jenna... - Hale cantarolou mas seu sorriso se desfez. - Ah, é você.
- Também não fico radiante em te ver. Sério Hale, barata?
- Era só uma brincadeira idiota com a Jenna.
- Isso atrasa a produção, cacete. Tem um monte de roupa pra costurar, algumas não cabem nas meninas e ajustar a roupa do Benvólio pro Peter...
- Você quer falar sobre o beijo? - foi direto.
- Que beijo? Tá alucinado?
- Vai fingir que a gente não se beijou no gramado?
- Vou. Foi encenação. Romeu e Julieta, lembra? - ela fez um círculo no ar.
- O Greg já foi abrir a boca pra você?
- Nem falei com ele hoje. Mas eu lembro que você disse a fala antes do beijo.
- Foi a primeira coisa que me veio na cabeça, Betina.
- Tá, eu não ligo. Me ajuda a caçar essa barata que você jogou aqui.
- Não. - Hale deu de ombros.
- Vai sim!

Betina o puxou com força, fazendo o cair em suas pernas, a derrubando por cima das caixas empoeiradas, metade de seu corpo ficou em cima do de Hale que reclamava de dores nas costas. Quando abriu os olhos, viu a morena tentar sair de cima dele mas estava presa em algum lugar.

- Isso é ridículo. - Betina reclamou quando notou que estava em cima de Hale.
- Você e essa mania de me empurrar, puxar... Eu posso me machucar de verdade!
- Com tudo o que você me fez, se machucar é o mínimo.
- Tudo o que eu fiz? Você ta ficando louca.
- Você GRITOU que me odiava pra todo mundo ouvir. Acha que eu to gostando de estar no mesmo lugar que você e, pior, com você em baixo de mim?
- Se fosse em outra ocasião... - brincou e recebeu um olhar furioso.
- Você tem que fazer piadinha com tudo? Poderia estar me ajudando a sair daqui.
- É só fazer isso.

Hale a cercou com seus braços e rolou os corpos para seu lado esquerdo, agora ela estava por baixo de Hale e conseguia ouvir seus batimentos.

- Você e essa mania de ficar perto demais de mim. - disse mais baixo do que queria.
- Eu te deixo nervosa? - ela assentiu.
- Você me deixa com raiva.
- Até quando eu não faço nada? - ele a olhou em seus olhos e ela arfou.
- Para de tentar flertar comigo.
- Não to tentando, estou fazendo perguntas e você... Tá a beira de um colapso nervoso.
- Você está com o peso sobre mim, estou com falta de ar. - mentiu. - Ainda tá muito perto.
- Quer que eu me aproxime mais? - ele se abaixou mais, fazendo seus narizes tocarem.
- Hale...
- Eu poderia te beijar de verdade agora.
- Poderia? - Betina sentia sua respiração falha bater no rosto dele e voltar no seu.

Doss acariciou os lábios dela com o seu inferior, queria sim beijá-la, aquela raiva matutina precisava ser descontada, ela estava tão entregue debaixo de seu corpo que parecia ouvir ela pedindo por isso, mas dessa vez não queria que fosse "um ensaio", quem aparecesse iria ver ele a beijando, mas ainda não era a hora. Num rompante, Hale levantou, a puxando junto.

- Pronto.
- Ahm... O que aconteceu aqui...
- Nada ainda, não terminei.
- Terminou sim. Você não vai me beijar de novo, seu idiota.
- Betina, para. Para de fazer essa pose chata de invencível que eu sei que você sabe que é só eu te puxar que você fica mole.
- Hale, vai se fuder! Caça essa merda dessa barata sozinho!
- Era de mentira. - ele riu.
- Escroto!

Os erros que cometemos quando éramos cegosOnde histórias criam vida. Descubra agora