A bela desculpa

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Betina era uma moça de compromissos, mesmo se metendo em certas confusões por causa de seus princípios, gostava de tirar notas boas e ter sempre um boletim de presença apresentável. Quando Parkins a levou para a detenção pela segunda vez no ano, sabia que suas chances de entrar para o Clube de Debate haviam sido derrotadas assim como seu ego, ver Julius Clebër perder no debate por ser um jovem machista iriam ficar para outra encarnação. Mas não esperava que encontraria o pior conjunto seres humanos na detenção, Hale e sua trupe, como gostava de chamar particularmente, eles conseguiam sempre estragar excursões que o diretor anunciava com muita dó de gastar dinheiro. Infelizmente, era obrigada a ficar com eles ali, mesmo depois de ter sido ameaçada pelo líder dos arruaceiros.
Após a detenção a amiga de Betina, Moira Ackleberg, a esperava na porta, com uma animação que só ela tinha e a paciência que só tinha com Betina.

- Amiga, amiga, amiga! - Moira repetia, pulando.
- Oi, oi, oi.
- Como foi? O Greg estava lá também? Ai, ele é tão lindinho... - A menina se esgueirava por cima da amiga.
- É como sempre foi uma detenção. Você fica sentada numa sala pela eternidade, perde décimos, perde aula, perde a vida. Eu ainda dei o azar que ficar com os amigos do Hale.
- É, eu vi ele saindo da sala quando foi beber água.
- Ele me ameaçou. Olha que audácia.
- De morte?! - Moira arregalou seus olhos verdes como seu cabelo.
- Não... Eu acho que não. Ele disse que ia me foder...

Betina ficou em silêncio observando a amiga raciocinar por alguns segundo e cair na gargalhada em seguida. Moira era desse tipo, do tipo de ria de nervoso ou ria atoa.

- Tini, ele quer transar com você.
- Que? Eca, não. Ele disse que não seria de um jeito bom. Parando pra pensar, nada é bom vindo do Doss.
- Ele beija bem. - Moira piscou os olhos vagos. - Acho que sim, foi há anos atrás.
- Ainda não da pra acreditar que você beijou ele na peça de Romeu e Julieta. E que ele era o Romeu!
- Ele foi o Romeu por que a irmã dele era da direção da peça e ele era um moleque muito chato. E eu era a terceira substituta, Elisa Pitt viajou e Lorna Augustí passou mal, sobrou eu.
- Foi pura coincidência do destino. - Betina riu e logo fingiu chorar. - Eu perdi minha vaga no Clube de Debate.
- Ah amiga... - Moira a abraçou. - Lamento.
- Isso não vai ficar assim! Eu vou matar o Hale Doss!
- O que ele tem a ver com você ir pra detenção?
- Nada, foi só calor do momento.
- Ok, vamos embora. Se corrermos, chegamos no intervalo de The Bachelorette.
- Meu Deus, Moira, isso é mais antigo que eu e você juntas.

***

No dia seguinte, Peter, Greg, Hale, Chase e Betina só poderiam entrar na escola com um termo de compromisso assinado por eles mesmos e seus pais, Betina ainda sentia aquele frio na barriga de encarar o mr. Golding, mas para os outro quatro era visita de rotina. Hale e os outros três aguardavam serem chamados junto de Judith, a secretaria do diretor, eles trocavam assuntos aleatórios ou falavam do capítulo da novela mexicana no canal aberto, pareciam mocinhas beatas se não fosse pelos pêlos no rosto, ombros largos, pênis, terem quase o dobro de sua altura, serem sem noção e brutos. Hale percebeu a chegada triste e ansiosa da garota, fez questão de estar de prontidão à sua frente como uma estátua.

- Poleman, é sempre bom te ver.
- Você ta maluco? - ela arqueou uma sobrancelha.
- Eu sou educado.
- Não é, não. Você é um troglodita.
- Insultos gratuitos? Eu gosto. - Hale abaixou a cabeça até ficar na altura do ouvido de Betina. - Gosto quando me batem também.
- Eu volto depois! Nojento! - A menina correu para fora da secretaria, deixando Judith confusa.
- O que deu nela? - A mulher preocupou-se.
- Ah, deve ser aquelas coisas de garotas, Judith, você sabe. - Peter disse galanteador.
- Ah, eu não sou tão jovem assim, sr. Hitman.
- Não parece, tem os olhos e o humor de uma adolescente.
- Isso pode ser classificado como distúrbio. - Chase disse confuso.
- Cala a boca, Capsfire.

Os erros que cometemos quando éramos cegosOnde histórias criam vida. Descubra agora