Travessuras

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Final de Outubro e as decorações de Halloween começavam a se destacar pelas ruas, iluminações nada discretas, abóboras soltas pela grama que já não era mais tão verde, figuras de fantasmas e monstros, convites para festas secretas e muitos doces. Todo ano os veteranos da ALH eram responsáveis por darem uma pequena festa de dia das bruxas e absolutamente tudo sairia de seus bolsos, mas dessa vez ninguém havia sequer começado a planejar qualquer coisa.
Andando em direção à sala de Química Teórica, os passos da nossa mocinha foram interrompidos, alguém que ela estava evitando há muito tempo.

- Oi Betina. - Veronica jogou o cabelo, mostrando o seu sorriso nos lábios perfeitos.
- Ola, Veronica.
- Pode me chamar de Vee, você sabe. Mas enfim.
- Enfim...
- Eu estava pensando em te chamar pra minha festa de Halloween. Meus pais me liberaram a casa e eu achei que seria... divertido.
- Me chamar? Eu?
- Algum problema? - Veronica cruzou os braços. - Não, não responde. Você deve ta achando que eu não te chamaria pra minha festa só por que você e o Hale estão de casinho, mas eu sou muito mais evoluída que isso, minha beleza não permite.
- Não estamos de casinho, Veronica.
- Estão namorando?
- Não!
- Então é o que?
- Não é nada.
- Tudo bem, calma, não precisa de exaltar, B. - A mais alta desdenhou e Betina estranhou o apelido. - Enfim, dia 31 é sexta-feira, viraremos a noite na minha casa. Rua Gillmore, 19.
- Você mora na Gillmore? A Gillmore?!

Betina sabia que a Rua Gillmore fazia parte de um conjunto habitacional de quem realmente tinha dinheiro, era uma espécie de Beverly Hills da sua cidade que nem era tão grande, essa rua ficava num pequeno espaço chamado Hill's Sea, cujo lugar fazia jus ao nome, as casa ficavam nos topos das colinas de frente pro oceano.

- Sim, entre a Baltmore e a Hellmore, qual o problema?
- Nada. - Betina sacudiu a cabeça. - Eu vejo se eu vou na sua festa, Veronica. Eu to ocupada com as turmas de reforço e cheia de matéria pra revisar, mas obrigada pelo convite.
- Te espero lá. E leva o Hale, ele não ta falando comigo. Tchauzinho, B.

Veronica sorriu com os olhos e rebolou o caminho até a escada que descia para o segundo andar. O sinal tocou alto e os alunos correram para a aula de Química Teórica, incluindo Peter que quando viu Betina sentada próxima a janela, se sentou junto. Betina achava estranho ele querer tanto ser amigo dela, tentava se aproximar de todo jeito, a incomodava ele ser tão mulherengo, ele queria aprovação de todas as mulheres presentes no mundo, na AHL ia das alunas do primeiro ano até as funcionárias da limpeza, sempre galanteador com uma simpatia predatória.

...

- E aí, amiga. Fiquei te olhando a aula toda.
- Peter, não somos amigos.
- Somos sim. Mas deixa eu te falar uma coisa. - Se sentou ao lado da garota. - O Hale...
- Não quero saber!
- Mas você vai gostar de saber.
- Independente, não quero saber. As vezes é mais gostoso se a gente descobre sozinho.
- Você odeia surpresas, Betina. - Peter piscou seus olhos cor de mel. - Eu sei porquê somos amigos.
- Enfim, né, Peter. - Betina se levantou, a aula ja tinha acabado.
- Tá, você não quer saber, mas eu vou falar.
- Você é insuportável!
- Assim você me ofende. - Peter sorriu, fingindo ser afetado. - O Hale pretende ir de fantasia combinando com você na festa da Vee.

Betina soltou uma ridada alta, batendo na mesa como se ouvisse uma piada realmente engraçada. Se imaginar usando fantasia combinando era ridículo, com Moira, com Hale, com qualquer pessoa. Mas sentiu seu coração sacudir seu peito quando se deu conta de que era algo romântico.

- Não. Absolutamente não.
- Vai ser fofo, imagina, você e Hale de Sal e Pimenta ou Tom e Jerry ou Mickey e Minnie Mouse. Ok, não consigo imaginar o Hale Doss fazendo esse tipo de coisa e nem se ele caberia numa fantasia fofinha, Hale sempre foi um troglodita.
- Você consegue me imaginar numa fantasia fofa, Hitman?
- Você... Não. Mas vocês poderiam ir de Gomez e Morticia Addams.
- Peter, sério, tenha um bom dia, eu tenho muito mais o que fazer.

Ao sair da sala, Betina viu de relance na sala ds frente, Hale sentado na mesa do professor com Veronica, Olivia e Chase, ele sorria de canto e usava os olhos quase fechados quando olhava pra Veronica, um olhar rápido seguido de risadinhas tímidas, Betina sentiu seus órgãos reviarem na sua barriga, qual era a piada?
Havia se passado dois dias, finalmente era dia 31, as aulas terminaram mais cedo para evitarem conflitos e pregação de peças, mas fora em vão quando Parkins passou furiosa pelo corredor principal enrolada em papel higiênico e tinta roxa, o carro do Golding havia sofrido também, um FELIZ DIA DAS BUNDAS escrito com pasta de dentes e glitter no parabrisa e os quatro pneus furados. Moira saltitava pelo corredor distribuindo pirulitos como se fosse no Natal, mas no dia do nascimento de Cristo ela não poderia se vestir de qualquer coisa que quisesse, ela mais do que ninguém adorava este dia, esperava por ele durante todo o ano só para poder se fantasiar ao invés de seguir a regra rígida do uniforme. Estava cruzando a última sala antes de subir para o segundo andar, quando viu Hale e Veronica rindo juntos de algo que acontecia la fora.

- Foram vocês! - gritou assustando os dois.
- Não sei do que você tá falando. - Veronica piscou os cílios postiços.
- Hale, a Betina não vai gostar de saber disso.
- Mo, você não vai contar, vai?
- O que você acha? - cruzou os braços.
- Merda.
- Ai garota, não é possível que você seja tão infeliz a ponto de nos entregar pro Golding. - ralhou.
- Eu esperava mais de você, Hale.

Moira bateu palminhas e seguiu até o segundo andar, deixando os outros dois sozinhos.

- Ela me ignorou? Como ela pode?
- Veronica, eu não sei onde eu estava com a cabeça quando eu topei pregar peças com você.
- Você adora isso, Hale! É o que te move.
- Mas eu parei com isso pela Betina. Não quero estar com alguém e fazer o que ela odeia que eu faça, é insensível.
- E desde quando você é sensível? Você é um brutamontes.
- Eu não sou sensi... Ah, quer saber, isso acabou. Foi a última vez.
- Neném, você sempre volta, eu te alimento com o que você mais gosta. Como você vai ficar com alguém que abomina o que você é?
- Ela não abomina o que eu sou e sim essas coisas que eu faço, que, vamos ser sinceros, é infantil.
- Baboseira.
- Veronica, chega. Eu tenho aula de história agora com a Betina e vou contar pra ela.
- Não precisa.

A garota os observava na porta da sala, como já era de esperar, tinha o rosto vermelho e as sobrancelhas quase juntas, sentia raiva e dor por todo o corpo, a decepção havia lhe atingido sem aviso. Hale sentia que havia lhe jogado uma bomba na cabeça, o coração parecia bater na garganta, viu de novo o olhar de nojo dela, desprezo e ódio, depois de muito tempo, depois de ver seus olhares de timidez e carinho, havia esquecido como era ser odiado por ela. Veronica não demonstrou emoção, mas gostava do gosto que a satisfação deixava em sua boca, sem Betina por perto ela poderia pôr Hale no colo e juntar seus cacos, poderia demorar, mas ela o teria de volta.

...

- Betina! Me espera!

Hale andava rápido atrás da garota que quase voava pra longe dele, subia os degraus pulando três em três, estava quase surtando e jogando seus livros naquele que te chamava tanto, mas precisava chegar na sala de história.

- Tini, se você não parar, eu vou ser obrigado a fazer uma cena na aula.
- NÃO ME CHAMA ASSIM!
- Não grita.
- Eu grito! Hale, não fala comigo. Ignora minha existência.
- Você ta doida?
- NÃO FALA COMIGO! SOME DA MINHA FRENTE!
- Betina, para de gritar! Tá todo mundo olhando pra gente!

A garota contou regressivamente do dez até o um e o abandonou no corredor, se recompondo externamente e entrando na sala de história. Hale sabia que havia pisado na bola, mas esperava que ela entendesse.

Os erros que cometemos quando éramos cegosOnde histórias criam vida. Descubra agora