Capítulo 25

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Apesar de que era um dos piores carrascos que Alec conhecia, o pai ainda era um excelente ator. Tinha ordenado à execução do próprio filho, mas precisava manter algumas aparências. E era por isso que Alec estava de banho tomado e com sua melhor roupa. A roupa caía tão bem quanto um saco de estopa, balançando em lugares onde antes apertava, mas Alec estava feliz por poder vesti-la.

- Eu não estou nada mal - ele piscou para Robert Lightwood por cima espelho.

- De fato - o outro respondeu friamente - muito elegante para quem vai passar a eternidade no inferno.

- Eles devem agradecer por poderem me receber lá.

- Chega disso - Robert ordenou - Vamos para fora.

E eles caminharam para fora, Alec sentindo-se levemente tonto, pela fome, claro, mas também pelo sentimento que o invadia por finalmente poder caminhar pela própria casa. Apesar de querer disfarçar sua ansiedade e tristeza, não conseguia parar de olhar para todos os cantos da casa, tentando guardar em si uma última lembrança de tudo de bom que tinha vivido ali. Afinal, era sua casa, onde vivera os melhores e piores momentos de sua vida.

- Robert! - Alec ouviu a voz da mãe, fraca e vacilante- Meu senhor e marido!

A procissão parou, os dois guardas alguns passos a frente, enquanto Robert e virava para ver a esposa. Alec temeu fraquejar diante do olhar da mãe, e não se virou. Aí estava uma das maiores dores de sua vida: algumas vezes ele se pegava ansiando por uma mãe que o acolhesse. Maryse não era assim. Nunca seria.

- Robert - ela disse com certa urgência, mas depois a voz baixou a um sussurro, inaudível.

Mas o que quer que ela quisesse dizer, não faria diferença nenhuma, pois o marido era implacável. Ele simplesmente deixou-a lá, plantada, e seguiu.

- Vamos - disse aos guardas.

Então, Alec compreendeu que possivelmente não a veria nunca mais. Se voltou com força, e ela estava lá, parada, rígida como sempre, mas os olhos turvados.

- Mãe! - um guarda segurou seu braço, sem contudo o impedir.

- Alexander - ela disse, o maxilar enrijecido.

Não havia muito o que dizer.

- Adeus, senhora minha mãe!

Maryse não respondeu. Continuou olhando para ele, por um tempo infinito, até que o guarda o fez retornar a caminhada. Havia um silêncio mortal na casa, que antes era ruidosa, cheia de barulho, vida, gritos e por vezes, risadas, dos criados. Enquanto desciam a escadaria, Alec escrutinou o ambiente. Não se via nada, nenhum anúncio de que houvesse vivalma na casa.

Por isso, sentiu um susto ao saírem da casa. Havia uma multidão a postos (Alec calculou cerca de 150 pessoas, numa vigilância silenciosa) para além da calçada frontal da casa. Alec piscou os olhos para se acostumar com a luz de fora. Pela altura do sol, estavam no fim da tarde. Izzy entrou no seu foco. Ela estava pálida, e o vestido preto que vestia, aumentava sua palidez. Contudo, as feições estavam firmes, o olhar determinado. Havia uma carruagem em frente a casa, o cocheiro a postos. Cada guarda se dirigiu para um cavalo, e Robert o empurrou em direção à carruagem. Isabelle se adiantou.

- Meu senhor e pai, me permita acompanha-los.

Alec respirou profundamente. A menina era corajosa, ele tinha que admitir. Era estratégico perguntar isso à frente das pessoas que se aglomeravam em frente à Casa Lightwood.

- Temo que isso não seja apropriado para uma dama, Isabelle.

- Não pretendo assistir à execução, meu senhor e pai - todos estavam atentos - Me permita, com a grande bondade que lhe é característica, que eu desfrute dos últimos momentos com esse homem que errou, mas também me criou e ensinou quase tudo que sei.

Servidão e Liberdade || Malec Onde histórias criam vida. Descubra agora