Servidão e Liberdade || Malec

Capítulo 34

Alexander não podia mais voltar para a cabana, Magnus sabia disso. E sabia também que eles se veriam novamente em dois dias. Ainda assim, sentia o coração ardendo no peito à medida em que se afastava da Casa Lightwood e de Somerset. Olhou mais uma vez para trás. Haviam inúmeras fogueiras acesas no vilarejo, e incontáveis tochas também iluminavam a casa. Izzy tinha ficado com o irmão, obviamente, e estando sozinho, ele precisava ter cuidado redobrado. 

O plano original estabelecia que eles todos retornaram juntos dali a dois dias, para fixar residência novamente, decidir o que seria feito aos invasores e retomar o controle de Somerset. Entretanto, Alec tinha decidido se expor para o povo antes do momento combinado, e agora não podia simplesmente ir embora novamente. 

Caso algo acontecesse, ele precisava estar lá. Magnus respirou profundamente. Esperava que nada muito sério acontecesse nesses dois dias, pois todo o plano iria água abaixo. Retomar a vila era um serviço para eles cinco. Caso alguma família da região soubesse da notícia e decidisse atacar… Bom, as consequências não seriam boas. 

E, Magnus estremeceu, se Robert soubesse disso, as possibilidades de Alec sair vivo dessa vez eram bastante remotas. Porém, não havia como parar o teimoso Alexander Gideon Lightwood. Ele tinha se apossado novamente da casa e de seus aposentos. Tinha reconvocado alguns dos criados e serviçais, e dissera para Magnus que não se preocupasse. Está tudo bem, ele dissera. 

Mas Magnus não era criança e não era ingênuo. Ele sabia exatamente das implicações que poderiam ocorrer caso houvesse um ataque ao vilarejo e somente os irmãos estivessem lá. Tudo tinha sido combinado para somar as forças dos cinco: os caçadores de sombra, os feiticeiros, o vampiro. 

Ainda haviam coisas para resolver na cabana, poções ainda em cozimento, e armas para pegar. Por isso, Magnus apressou o passo. Tinha feito o que pôde para segurar a proteção ao redor da vila, e tomou cuidado especial ao redor da Casa. Claro que era demais presumir que Alec não sairia da Casa. Ele sairia, e se colocaria em exposição e mais risco. 

Era por esse motivo que o coração de Magnus estava apertado no peito. Não havia como proteger Alec e não havia como pará-lo agora. O máximo que poderia fazer, era retornar o mais rápido possível, com Ragnor e Simon. 

Quando as luzes do vilarejo por fim sumiram no horizonte, Magnus parou de olhar para trás e correu o mais rápido que pôde. Precisava de um cavalo, pensou. Andar e correr era muito cansativo. 

A luz do candeeiro na cabana ainda estava acesa, embora a noite já estivesse tão adiantada que fosse quase dia novamente. Magnus se apressou e abriu a porta, e descobriu, sem muita surpresa, que Ragnor e Simon estavam muito despertos, sentados no sofá, com os rostos aflitos. 

- Magnus - Simon se levantou, de ímpeto - O que aconteceu? Porque demorou tanto? Onde estão os outros? 

Ragnor, que convivera com ele por muito tempo, olhou para seu rosto e concluiu que nada de grave tinha acontecido, e recostou-se no sofá. 

- Bem - Magnus pigarreou - Eles decidiram ficar lá. 

- Como? - Simon estava incrédulo. 

Após Magnus contar o que acontecera, ele estava mais mais incrédulo ainda. 

- E ele se diz estrategista! - bufou - Como pode? Deixar o plano de lado para seguir o coração?

Ele sorriu, irônico e sacudiu a cabeça. Estava longe de entender qualquer um dos irmãos Lightwood. Por fim, todos concordaram que quanto mais tempo os caçadores ficassem sozinhos, maior perigo corriam e se levantaram para apressar tudo que podia. Infelizmente, não se podiam apressar os três caldeirões que borbulhavam lentamente, e isso fez com que a sensação de impotência se agravasse dentro deles.