Capítulo 60 - 1945 | o começo

326 26 15
                                    

N.A.: okay, sei que é contraditório que o último capítulo esteja com o nome de "O começo" mas não há outra palavra melhor para definir hahaha Este capítulo mostra como nosso Malec se conheceram em 1945, e eu amo 💛❤️ Boa leitura!



outubro de 1945

O homem alto e esguio atravessou a rua de calçamento com passos firmes e rápidos. Não estava atrasado, mas como era o seu primeiro dia naquele hospital, queria muito conseguir chegar a tempo suficiente para conhecer as instalações. O relógio no pulso indicava que ainda tinha cerca de vinte minutos, e indo a pé, ele provavelmente conseguiria chegar em cerca de dez. Suspirou pensando em toda a rotina de um hospital, que era tão igual ao de todos os outros e ao mesmo tempo tão diferente.

Desde que tinha chegado a South Town, no final de semana, tinha corrido para conseguir alguns móveis, lençóis de cama e comida. A casa era cedida pela Cruz Vermelha e quando conseguiu organizar tudo, estava sem a mínima vontade de fazer um tour pela cidade. Ficou deitado na cama recém adquirida, olhando para o teto.

Às vezes ele se sentia como se todo o mundo tivesse sugado sua energia. Era um homem velho. Muito velho. Tinha vivido o bastante para ver pessoas amadas nascerem e morrerem, incluindo filhos e netos. Conservando a mesma aparência de sempre, não podia continuar próximo aos bisnetos e tataranetos. Ainda tinha os amigos íntimos e claro, Max… Mas não havia como negar que sentia-se absolutamente sozinho na maior parte do tempo.

Obviamente a causa de sentir-se assim era porque sentia falta de Alec. Alexander. Alexiendre… Como viesse. Sentia falta daquela alma gentil e companheira. E sempre sentia-se apático e letárgico quando ele não estava. Era inevitável. Ele passava dias inteiros respirando devagar, olhando para o nada… tentando lidar com o vazio absoluto que a falta de Alec impunha.

Já tinha perdido Alec duas vezes, e apesar de ter prometido que o esperaria mais uma vez, ainda assim, a dor só crescia. Talvez alguém pudesse pensar que a dor fosse se tornar costumeira. Ledo engano. Era como se tudo perdesse instantaneamente a cor. Como se o mundo ficasse mudo. Como se a vida rangesse, e o coração apertasse.

E seu coração estava apertado há muito tempo. A primeira vida com Alec tinha sido incrível. Magnus sorriu sozinho ao lembrar de como Sir Alexander era um homem grave, sério e ainda assim absurdamente amoroso e presente. Quando ele morreu, com os cabelos branquíssimos e os olhos já opacos, Magnus sentiu o coração se partir em mil pedaços. Tinha certeza de que nada o faria superar a perda.

Até que se reencontraram naquela taverna fria na Irlanda. Então o mundo ganhou cor novamente. Ele sentia como se pudesse finalmente respirar em paz. Alexiendre O’Brien era menos grave que Sir Alexander… e eles também tiveram seus contratempos… mas Magnus apenas tinha certeza de que o amor venceria. E venceu. Ele não podia deixar de sorrir ao lembrar do humilde vendedor de batatas que tinha sido seu marido na última vida.

Alexiendre era um homem simples, pobre… um mundano que tinha a visão, e como esperado, pensou que Magnus estivesse perdendo a visão quando finalmente soube de tudo. Mas eram muitas “coincidências” para ignorar. E no fim ele também repetiu que voltaria. E fez Magnus prometer que esperaria.

Mas, era difícil. Difícil como o inferno. Doía e rasgava a alma. Magnus procurava, sem trégua, fazer coisas que lhe distraíssem do fato de que estava vivendo com um buraco sangrando no peito.  E era por isso que estava aqui. Na América. O novo continente. Trabalhando como voluntário para cuidar desses homens que voltavam devastados pela guerra.

Ele suspirou, saindo de seus pensamentos, e olhou para o calçamento. A cidade era limpa e organizada. Os moradores acenavam quando ele passava. Ele gostava daqui. Na verdade não podia chamar de cidade. Era mais como uma pequena vila. Existia uma cidade maior ali perto. Mesmo sem perguntar, Magnus sabia qual era o motivo do hospital de recuperação ter sido construído ali.

Servidão e Liberdade || Malec Onde histórias criam vida. Descubra agora