Servidão e Liberdade || Malec

Capítulo 16

"Quem come do fruto do conhecimento, é sempre expulso de algum paraíso" (Melanie Klein)

Magnus estava em seu "quarto", sentindo a mais surreal das sensações. Desde quando se distanciara de Gideon, sentiu uma louca vontade, quase irresistível, de simplesmente voltar para perto dele, e acompanhá-lo até onde quer que ele fosse. Mas obrigou-se a permanecer no porão, sentindo a maior das insanidades acontecer com o seu corpo. Sentia coisas que não eram suas, e sua consciência estava se alternando entre estados que ele julgava serem sono e vigília, mas não saberia dizer, porque não haviam palavras que pudessem descrever as sensações. Era a primeira vez que ficavam tão distantes um do outro, após a Ligação, e ele tinha repentinas visões que duravam cerca de um segundo ou menos.

Estava cavalgando rapidamente.

Isso era real ou era coisa de sua cabeça? Seu corpo parecia... diferente. Não era tão forte assim... e esse não era seu cavalo.

Uma casa branca.

Onde estava? Parecia tão real, mas ainda assim, sentia sua cama abaixo de si, e o vento frio não lhe alcançava.

Lydia sorrindo, desajeitada.

Porque Lydia estava no porão? Gideon dissera que ela não pisaria na Casa... Seu estômago se revirou, enquanto cada célula sua lutava para fugir de dentro de si. Que inferno era esse?

Seu corpo inteiro formigava de desejo por olhos felinos.

A pior das sensações. Como podia sentir desejo quando estava tão angustiado? Sentiu-se ficar ereto, ao mesmo tempo em que queria fugir desesperadamente para qualquer lugar.

Lydia nua. Seminua.

Iria morrer, deu-se conta disso, enquanto pingava de suor, mesmo a noite estando muito fria. Não conseguia andar, as pernas tremiam sem força nenhuma. Sentiu vontade de vomitar, mas não tinha jantado nada.

O desejo se esvaindo de seu corpo como água escoando pelos dedos.

Sentiu pontadas pelo corpo, como se fosse finalmente se partir em dois. E queria que isso acontecesse, a angústia de se sentir incompleto era excruciante, porque estava fisicamente inteiro, enquanto sua alma estava dividida entre dois corpos distintos. Que Raziel abrisse seu corpo em dois... Era insuportável ser um.

Derrapando por um chão polido de madeira.

Magnus estava no chão e não sabia como tinha parado lá. Levou as mãos à cabeça, caminhando firmemente rumo à loucura. E um momento de lucidez se fez. Ah. Deu-se conta em um instante de sanidade... Estava dentro da cabeça de Gideon. Era Gideon.

Rastejou pelo chão de pedras frias, tentando alcançar a tina, ou qualquer pouco de água. Deuses.

Montou Tempestade, cavalgando ensandecido, rumo a alguém.

Rumo a si mesmo.

Finalmente alcançou a tina que tinha ainda a água do banho de manhã e colocou o rosto dentro da água fria, tentando acordar seus sentidos, desesperadamente lutando contra a sensação de que pertencia a outro corpo, de que não tinha o menor controle de seus movimentos.

Segurou-se nas bordas da tina, tentando não se levantar e sair correndo... Viu relances de uma paisagem noturna, e vislumbrou seu próprio quarto, revirado, como se tivesse passado um furacão ali dentro.

Não sabia quanto tempo tinha passado, mas a sensação de desamparo foi diminuindo gradativamente. Mas o coração pulsava fortemente ainda agora, ansioso por encontrar-se a si mesmo. Gideon estava chegando. Levantou-se de um pulo, sentindo-o se aproximar dos portões, ao mesmo tempo em que via ...