Capítulo 56 - 2118

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N.A.: Gentes lindas, a fic realmente terminou no capítulo passado, mas os próximos 5 capítulos são uma espécie de "janela" na qual a gente pode ter um breve acesso às outras vidas que Malec viveram juntos. Sim, Alec voltou para Magnus várias vezes. E Magnus esperou que Alec voltasse em todas elas. Eu amo pensar sobre isso e espero que vocês tbm gostem. Um cheiro no coração 💓

2118 d.C

Ele manobrou o táxi aéreo, identificando, pelo painel de controle, o exato local onde o cliente estava, e agradecendo aos céus pela pista de pouso estar livre. O tubo de oxigênio apitou pela segunda vez, e Alec viu, pelo espelho, que a luz amarela estava ligada. Xingou Jace internamente pela milésima vez no dia. Que inferno! Qual era a possibilidade de chegar bem a Londres com tão pouco ar? Como Jace era irresponsável por não ter avisado isso!

Preparou-se para pousar, identificando a silhueta esguia do cliente, que esperava perto das linhas amarelas, na cobertura de um dos mais altos prédios de New York. Sem dúvida, era um cliente muito rico: estava pagando uma viagem individual para Londres, ao entardecer.  No painel, a foto dele piscava, indicando sua localização.

Alec não podia negar que era um homem bonito. Ele tinha visto poucos desses homens orientais. Na verdade, tinha visto poucos homens, tendo em vista que a população de mulheres, agora, era imensamente maior do que a de homens. Estava sempre rodeado de mulheres: Maryse, Izzy, Maia, Clary, Lydia, Jocelyn, Camille, Emma, Tessa… e de homens, bom: tinha ele, Jace, Simon e seu patrão: Luke. Todo o restante de contingente de pilotos da pequena empresa, eram mulheres… Era um tempo difícil para ser um homem gay, ele riu tristemente, consigo mesmo.

Ele pousou, com cuidado, sentindo o atrito do patim contra o piso de concreto, e o baixo chiado da despressurização quando abriu as portas. Observou atentamente, enquanto o cliente conferia, na imagem holográfica, diante de si, se era o transporte que tinha pedido. Ao confirmar, que sim, o homem alto e esguio acenou no ar, e a imagem sumiu. Ele guardou o celular dentro de uma bolsa preta que levava a tiracolo e caminhou tranquilamente para entrar no táxi.

Alec sentiu, de repente, uma estranha sensação de dejà vú. Podia jurar que já tinha visto aquele homem mil vezes, no entanto, suas feições eram tão distintas e bonitas que ele com certeza nunca teria se esquecido, caso realmente o tivesse encontrado. Inclinou-se para empurrar a porta, ao mesmo tempo em que o cliente abria pelo lado de fora. Esse pequeno esforço gastou mais de seu ar, e Alec se recriminou por ter se esquecido disso.

- Bom fim de tarde -  o cliente disse, a voz macia e distante, olhando para o outro lado enquanto fechava a porta, e Alec podia jurar que quase conseguia sentir a textura do cabelo negro e espesso dele, nas mãos. Então o cliente se virou, para cumprimentá-lo e suas feições se congelaram em um esgar de espanto.

- Boa noite, senhor Bane - Alec se adiantou, para se desculpar - Peço desculpas, senhor, sei que estava esperando por Jonathan Wayland para ser seu piloto, mas ele não pôde vir, e estou cobrindo a corrida dele. Espero que não seja um incômodo.

O senhor Bane, que tinha congelado, piscou repetidas vezes, e Alec sentiu um imenso desconforto ao ver seus olhos se enchendo de lágrimas.

- Senhor? - chamou com cautela, o desconforto se tornando um sentimento alarmante enquanto uma lágrima corria pelo rosto do cliente, e mais outra, e mais outra - Me desculpe, senhor, estou cobrindo a corrida de Jonathan, mas caso queira outro motorista, posso pedir na empresa, sem problema.

- Você demorou tanto! - o outro disse, enxugando as lágrimas, e piscando ainda mais ao tentar impedir outras de vir.

Alec olhou discretamente para o relógio. A corrida estava marcada para as 18h. Ainda eram 17h53. Não que ele estivesse muito adiantado, mas definitivamente não estava tão atrasado ao ponto do cliente chorar. Ainda assim, o cliente sempre tinha razão, como dizia seu patrão.

- Me desculpe, senhor - pediu, ansioso para que o outro parasse de chorar - Sinto muito por… ter demorado tanto.

O outro suspirou longamente, e continuou encarando-o, sem dizer nada, como se quisesse decorar suas feições, até que Alec ficasse definitivamente desconcertado, e olhasse para fora do veículo, observando o céu lotado de táxis aéreos e a espessa neblina que sempre cobria tudo. Havia algo estranho no olhar desse cliente, algo quente... que Alec desconhecia, mas fazia suas entranhas esfriarem. Era um olhar como se aquele homem o conhecesse, e o pior de tudo: como se lhe tivesse afeto. 

- Eu te esperei por tanto tempo - o outro disse, após um longo momento - Pensei que não viria mais - a voz dele se quebrou na última palavra e ele respirou fundo, aparentemente para se impedir de chorar novamente - E dessa vez, eu vou com você, não há argumento seu que me impeça… É horrível ficar…

Alec olhou para o painel, preocupado. O relógio marcava 17h56. Faltavam 4 minutos para levantar voo e as frases que o cliente tinha dito, deram a Alec uma hipótese: os transtornos mentais eram muito comuns nesses tempos. Talvez o cliente estivesse em um surto.

Normalmente Alec não se importaria. Mas era uma viagem até Londres. Precisariam atravessar o Atlântico. Talvez pudesse entrar em contato com a empresa e avisar da situação. Se o senhor Bane fosse do tipo que fica agressivo em um surto, eles poderiam ter um problema grave durante a viagem.

- E o seu ar está acabando! - o outro disse, e Alec voltou a olhar para ele. O senhor Bane tinha um ar preocupado e tirou de dentro da grande bolsa um tubo de oxigênio cheio. Ele era realmente rico, Alec pensou, por ter tubos de oxigênio em reserva - Deixe-me colocar isso aqui.

- Não - Alec recuou - Senhor, não precisa, de verdade.  Agradeço pela preocupação, mas estou bem.

- Sempre tão teimoso - o asiático disse, mais para si mesmo, e depois elevou a voz -  Nós temos uma longa viagem pela frente, e você tem 45% do seu tubo apenas. Não há posto de abastecimento depois que sairmos de New York.

- Ainda assim, não é preciso. Eu respiro pouco - Alec disse e colocou as mãos sobre o manche, pois a situação ficava cada vez mais estranha e ele não tinha a menor ideia do que fazer. 17h58 - Dá para ir. Ao chegar lá, abasteço.

- Você não pode contar sempre com a sorte - Bane disse - Não se preocupe. Eu tenho ar sobrando.

Então o outro se inclinou na sua direção e Alec sentiu seu corpo se retesar com a ideia de que ele fosse tocá-lo, mas o senhor Bane apenas tocou na armação de seu capacete e trocou os tubos de oxigênio, com muita destreza e rapidez. Antes que pudesse protestar, Alec sentiu o coração bater firme, enquanto ar puro circulava em suas narinas e enchia seus pulmões.

- Bem melhor, não? - Bane disse, sorrindo levemente, e Alec piscou, muito confuso. Alguns minutos antes esse homem parecera alguém bastante louco, dizendo coisas muito confusas. Agora ele parecia perfeitamente normal. Como proceder?

- Eu te pago depois - escolheu dizer, e teve outro forte dejà vú enquanto o homem revirava o olhos, ainda sorrindo levemente.

- Prepare-se para decolar - a assistente de voo disse, e Alec se viu, no minuto seguinte, manobrando para decolar, tendo a certeza de que essa “corrida” seria a mais estranha da sua vida.

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