A Cicatriz

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– Eu preciso dizer – falou John enquanto um corvo grasnava em cima de um poleiro à sua frente – você foi muito idiota.

A sala de Feitiços estava barulhenta e alvoroçada, contrastando bastante com a lição do dia: O encanto do silenciamento. Os alunos tinham que praticá-lo em diferentes animais, mas a maioria das tentativas era desastrosa e alguns dos estudantes falhavam tanto que acabavam tendo que perseguir as cobaias quando elas fugiam desembestadas.

– Por que foi falar de um assunto desses num encontro? – perguntou o Watson.

– E por que não falar? – replicou Sherlock com displicência, esfregando o nariz com a costa da mão esquerda – O local foi escolhido por ele e o clima estava descontraído. Silêncio – apontou, imponente, a varinha para o seu sapo e, no mesmo segundo, o bicho passou a abrir a grande boca sem emitir nenhum som. – Pude dar uma notícia importante sem causar nenhum trauma.

– Nenhum trauma!? Você... você estava num encontro!

– Isso mesmo. Um evento irrelevante. Finite incantatem – entoou, apontando mais uma vez a varinha, e seu sapo voltou a coaxar – Poucas coisas são tão superficiais quanto um encontro. O objetivo é parecer uma pessoa interessante pra alguém que você nem conhece direito.

– Não é assim. Quando se vai a um encontro é porque você quer ter a oportunidade de conhecer alguém melhor. É um momento em que você está aberto pra mostrar o seu mundo pra outra pessoa e conhecer o dela também.

– Que perda de tempo.

John não insistiu. Não valia a pena. Moveu a varinha mais uma vez na direção do corvo e entoou "silêncio!", mas a ave continuou grasnando.

– Não precisa dessa curva desnecessária com a mão – recomendou Sherlock. – Faça um movimento de estocada. Como se estivesse segurando um florete.

– Ta. Silencio!

John deu uma estocada tão forte que acabou cutucando a ave com a varinha, fazendo-a gralhar escandalosamente, abrir as asas e levantar voo revoltada.

Ele suspirou:

– Eu não quero correr atrás de uma coisa que voa. Me empresta o seu sapo?

– Toma – Sherlock passou o seu bichinho para o amigo. – Enfim, não sei por que está reclamando. Achei que tinha concordado com a minha ideia.

– Qual? A de aceitar ir a um encontro com um amigo meu só pra falar que os tios dele não prestam? Como eu ia saber que essa era a sua ideia? Silêncio.

A estocada foi mais contida e, logo, seu sapo finalmente ficara mudo. O rapaz deixou a varinha de lado e apoiou os cotovelos na mesa, cruzando os braços em cima dela.

– Se ele lhe convidou pra sair é porque estava afim de você – disse o grifinório sentido, sem tirar seus olhos do animal mudo – e eu... eu pensei que... Sherlock, eu realmente achei que vocês ficariam juntos.

– Merlin, por que não me surpreendo? – o corvino rebateu com azedume – Você odeia tanto quando as pessoas nos confundem com um casal que está tentando me arranjar um compromisso a todo custo.

A frase teve o mesmo impacto de um imenso pedregulho. O peito de John queimou por dentro e uma fornalha subiu até sua garganta.

– Claro que não! – o Watson exclamou sem pensar, só assegurando que a sua voz não ficaria mais alta do que a balbúrdia da sala

– Janine, A Garota, Henry... Quem mais quer colocar na lista?

– E o que você diria se eu deixasse a Adler me beijar ou aceitasse ir a um encontro com o Henry?

Potterlock - A Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora