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"Pov Lalisa"

Arrumei os comprimidos em minhas mãos, três de cada, e os engoli sem o auxílio da água, não precisava, já estava acostumada com aquilo.

Me deitei na cama e esperei que o efeito chegasse, fechei os olhos enquanto relaxava cada vez mais contra o fofo do meu colchão e dos meus edredons. O cheiro do seu shampoo se fez presente em menos de dois segundos de escuridão sobre os meus pensamentos, que clareavam contornando o seu rosto bem desenhado em linhas pretas, os olhos, o nariz, os seus lábios, e até a sua maldita pinta era desenhada pelo o meu subconsciente.

Apertei os meus olhos para que aquela imagem saísse de minha mente, resultando em um leve levantar de lábios, ela sorria em minha mente, e o seu sorriso era lindo. Acho que não havia visto ela sorrir des que chegou, então como minha mente sabia como era o sorriso dela? Imaginei algo mais calmo e sereno, suave e encantador, como um sorriso de uma criança, gengival.

Mas claro, aquilo era coisa da minha mente, literalmente. Não tinha como saber, e eu não perderia o meu tempo a observando, apenas para confirmar se o seu sorriso era daquele jeito ou não.

Ela estava roubando o lugar da minha mãe, não deveria sorrir perante aquilo.

No mesmo segundo me lembrei de algumas tintas que tinha no fundo do meu armário, arqueei uma sobrancelha enquanto abria os olhos, me sentando na cama, formando um plano sobre aquilo. Olhei por entre, azul, vermelho, amarelo e verde, pegando a tinta vermelha em seguida, caminhei com cuidado pelo o corredor, abri a porta do quarto do meu pai e olhei cautelosamente, não havia ninguém.

Corri como uma criança até o enorme banheiro, tranquei a porta e olhei em volta, por tudo o que era dela. Perfume, maquiagem.. condicionador.. peguei a embalagem, abri a tampa maior, retirei um pouco do conteúdo branco vindo do frasco e adicionei a tinta, todo o líquido viscoso dentro do recipiente. O fechei e o balancei fortemente para que nada fosse duvidoso, o limpei cautelosamente e o coloquei de volta em seu lugar, pronta pra sair, passei pelo o seu perfume, e tive que dar mais um pequeno sorriso.

Joguei todo o líquido na pia, o lavei, e o enchi de papel higiênico, o fechei e finalmente sai do quarto, voltando até os meus aposentos, trancando a porta em seguida. Coloquei a ração para Louis e me sentei na poltrona na frente do videogame, ainda esperando pelo o efeito dos comprimidos, que estavam demorando para serem realizados.

Não me lembrei de muita coisa assim que abri os olhos, estava largada no chão, acho que havia caído da poltrona. Os comprimidos haviam surtido o seu devido efeito. Limpei a baba que caia do canto de minha boca e cambaleando fui até o banheiro, tomei a minha ducha e depois de mais ou menos sóbria, me senti segura para sair do quarto, estava tudo escuro, acho que estava tarde, provavelmente havia perdido o jantar. Não me importei. Desci as escadas com o felino ao meu lado, abri a geladeira, arrancando de la a garrafa de leite, abri a tampa e me preparei para entorná-la diretamente em minha boca, mas uma mão pequena me impediu.

- Não é atoa que fabricam copos - Jennie falou, tirando a garrafa de minhas mãos e virando o leite no copo - Não tem só você que bebe leite, vamos ter respeito aos outros moradores.

- A casa é minha, se você está incomodada é só pegar a sua filhinha e ir embora.

- Parece que quem está incomodada aqui não sou eu - rebateu despreocupadamente enquanto montava um sanduíche, ela cortava as bordas em triângulos, tirando as casacas perfeitamente.

Igual a minha mãe fazia..

- Perdeu o jantar, deve estar com fome - ela cortou o sanduíche ao meio, limpou a mão em seu pijama de malha, ficando nas pontas dos pés para pegar outro prato - Bom apetite.

Jennie saiu após colocar o prato com a metade do sanduíche na minha frente, ao lado do meu copo de leite, fiquei a olhando até que sumisse no último degrau da escada. Me sentei a contragosto sobre o banquinho da ilha localizada no meio da cozinha e mordisquei o seu sanduíche.

Idiotice, era apenas um sanduíche. Mas por que estava tão gostoso?! Estava maravilhoso! Saboroso, perfeito, com o recheio espalhado certamente, não deixando nenhuma fresta de fora ou seca. Era apenas um sanduíche! Apenas um sanduíche idiota. Não deveria ser tão gostoso.

Louis miou assim que eu coloquei as louças na pia, subimos juntos para voltar ao meu quarto, mas eu fui parando ao escutar uma conversa vindo do quarto de Sana, parei atrás da porta e através do espelho pude ver Jennie ao lado da garota, que comia o seu sanduíche meio sonolenta.

"Essa gorda vai acabar com a comida de casa"

Pensei fechando o punho em raiva, mas prendendo a respiração assim que Jennie começou a falar.

- Você sabe que o seu corpo é lindo, não sabe? Da forma que ele é.

- Ele não é.. ele é gordo e deformado.. não é lindo..

- Ele não é deformado, Sannie, não fala isso.. você viu? Várias mulheres na internet que tem o seu peso, você viu como elas são lindas e felizes? Você é linda também, meu bem.

- Mas eu não sou feliz.. Sana não é feliz.. Sana não é feliz..

- Você não é feliz?

- Sana tem autismo.. Sana não pode ser feliz..

- Você não é feliz, ou você não quer ser feliz por ter autismo?

- Sana.. Sana.. - a menina pensava seriamente enquanto mastigava o seu lanche, os olhos se prendiam em Jennie mas logo olhavam para o lado ou para baixo - Mãe é feliz? Você é feliz? Jennie é feliz tendo uma filha autista?

- Eu fico feliz quando você está feliz, eu fico feliz quando vejo a minha Sana sorrir. E é claro que eu sou feliz tendo uma filha como você, não poderia ter uma filha melhor, você foi tudo o que eu sempre pedi, Sannie, e eu não te trocaria por nada nesse mundo. Eu sou feliz se você for feliz.

- Então eu vou ser feliz.. Sannie vai ser feliz pra te deixar feliz!

Senti minha garganta se formar um nó pesado, eu recuei e voltei até o meu quarto, eu não.. sabia que Sana tinha autismo.. meu pai não havia me comunicado sobre aquilo.

Merda.. e Tzuyu estava fazendo tantas piadas com a menina.. se bem que ela realmente parecia um leitão..

- Pare já com isso, Lalisa! - mandei a mim mesma enquanto desferia um soco no meu saco de pancadas.

Mas eu parei de pensar, pois acabei lembrando da forma que ela me tratou minutos mais cedo, eu entendia o seu cuidado, ela precisava ser cuidadosa por conta de sua filha, e era compreensível.

Tudo poderia ter um segundo lado.

A Madrasta (Jenlisa - Satzu G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora