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"Lalisa Pov"

- Hum.. molho de tomate.. céus, como estão caros, você gosta de macarrão, certo? Estava pensando em fazer para jantarmos.

- Você deveria perguntar isso a Tzuyu e a Sana, não a mim - respondi ainda concentrada em olhar para o carrinho que eu empurrava.

- Hey, você não vai jantar conosco? - neguei, e eu sabia que ela queria perguntar o motivo, mas seria muita ironia caso perguntasse.

- Molho de tomate, ali, na outra prateleira - indiquei com a cabeça, Jennie sorriu e caminhou até lá.

Não era cem por cento incômodo a sua presença mas.. era desconfortável o bastante para que eu quisesse correr e fugir dos seus olhos, que me encaravam o tempo todo, desconfortável o bastante para querer chorar quando ela iniciava alguma conversa banal, acho que as lágrimas de tão presas em quatro anos, queria se mostrar para qualquer coisa. Acho que literalmente. Jennie tentava, eu conseguia ver as suas tentativas, mas eu não queria, medo, pavor, ela poderia me machucar de novo, eu já não aguentava a primeira dor quem dirá uma segundaria.

Segui atrás dela empurrando o carrinho e localizando os ingredientes que ela não conseguia achar, tentando o meu máximo para tentar continuar as suas conversas, mas triste demais para prestar atenção em qualquer uma delas.

Acho que eu precisava dormir um pouco.

A ajudei com as compras assim que pagas por mim, dirigi até a sua casa e peguei as sacolas mais pesadas, batendo na porta ao perceber que estava trancada, Sana a abriu sorridente, iniciando uma conversa com a sua mãe sobre não haver um colchão na casa, mas que havia espaço o suficiente para que Tzuyu dormisse com ela em sua cama.

Coloquei as sacolas em cima da pequena mesa de três lugares e peguei as outras que estavam nas mãos de Jennie para que ela não fizesse força ou algo assim, observei as três sorridentes, Tzuyu sendo simpática com Jennie, Sana comemorando a permissão de sua mãe sobre a noite da Tzuyu na casa, Jennie contando a elas o que faria no jantar, as duas comemorando sobre o prato escolhido.

Como uma família. Uma família que eu não fazia parte.

Me senti sozinha, de lado, excluída, com vontade de chorar, dormir, com falta de ar, a casa me espremia assim como as salas de aula e a falta do meu quarto se fez presente. Peguei a chave do carro e forcei o melhor sorriso a Tzuyu e Sana, que pararam de sorrir assim que dei menção de ir embora.

- Você não vai ficar? - Sana perguntou, claramente triste.

- Tenho trabalho da escola pra fazer, Sannie. Não posso ficar.

- Ah, Liz, janta com a gente - Tzuyu pediu, mas eu neguei.

- Tenham uma boa noite.

Sorri e fechei a porta principal, assim que a batida foi efetuada, as lágrimas se mostraram e o sorriso se desmanchou, o caminho de volta foi com crises de choro e com um pouco de falta de ar vindo da minha parte, meu pulmão queimava e a minha cabeça doía como nunca havia doido antes, girava e as vezes minha visão escurecia, só Deus sabe como consegui chegar em casa.

Passei direto sobre a cozinha, não estava com fome.

Me sentei em minha cama e depois de pegar um copo de água, coloquei em minhas mãos mais quatro comprimidos para dormir, os engolindo sem dificuldade, a cama me afundou e acho que não tinha mais lágrimas para chorar naquele dia, porque se eu tivesse algum resquício delas, com certeza já teria me afogado nelas.

Acordei tempos depois, franzi o cenho, estava escuro, o relógio marcava quase oito da noite, como ainda era oito da noite sendo que eu havia chegado às oito? Será que o meu relógio estava errado? Eu estava na cama dessa vez, na ponta quase caindo, então rolei para o outro lado, tal movimento fez a minha cabeça balançar e doer, um murmúrio saiu dos meus lábios ao sentir a pontada forte no centro dela, fechei os olhos com força até que me acostumasse com o "pós sono" tomando cuidado para levantar.

Com dificuldade me sentei, ainda sentindo tudo girar, minha cabeça estava pesada, meu corpo doía, e muito. Mas assim que acalmei meu corpo, alcancei meu celular e olhei para conferir a hora, 20:15, isso era impossível, como eu havia dormido apenas quinze minutos com quatro comprimidos?

Então olhei um pouco mais para baixo e quase levei um susto, 27 de Maio. Franzi o cenho. Não era dia 26? Espera, eu dormi durante um dia inteiro?

Coloquei os pés no chão e fiquei de pé, para logo depois me sentar de novo, essa função parecia difícil para o meu cérebro, que parecia que iria explodir de tamanha a dor, mas eu me esforcei, caminhei até o banheiro e me olhei no espelho, parecia tudo normal até então. Tomei um banho, não demorado pois ficar de pé era a função mais complicada. Vesti um pijama e me sentei na cama novamente, pensando no que fazer. Eu deveria comer algo?

Eu não estava com fome.

- Hey, você está bem? Passei aqui hoje de manhã parecia que você estava morta - Tzuyu entrou, estava arrumada e com uma mochila nas costas.

- É.. estou, acho que dormi demais.

- Você comeu algo?

- Sim - ela me encarou - Sim, comi assim que acordei. Irá sair?

- Vou pra casa da Jennie, acho que vou passar o final de semana lá. Quer ir comigo? Acho que você consegue dormir no sofá.

- Não.. eu.. eu estou bem aqui.

- Lalisa - suspirou se sentando em minha cama - Faz três dias que você mau sai desse quarto, que não vai a escola, que não vai ao treino. Você precisa sair daqui um pouco.

- Estou com um pouco de dor de cabeça. É melhor você ir antes que se atrase.

Tzuyu ficou me encarando antes de se ter por vencida e sair do meu quarto, a casa estava silenciosa, eu mau sabia aonde meu pai estava. Liguei a Tv e decidi jogar um pouco de videogame, mas nem isso afastou os pensamentos contínuos em minha mente, que.. talvez tudo fosse melhor se eu estivesse junto a minha mãe.

Ela poderia cuidar de mim, da minha dor, secar as minhas lágrimas.. se eu estivesse com ela, tudo seria bom novamente..

E qual seria a diferença na vida dos demais? Meu pai poderia voltar a viajar a trabalho como sempre gostou, não teria uma filha adolescente para cuidar. Tzuyu agora tinha Sana e Jennie, poderia ficar com elas, minha irmã estava feliz finalmente, Sana não sentiria a minha falta, estaria ocupada demais amando a sua Yoda, e Jennie.. Jennie nem se importaria, assim como nunca se importou.

Bem.. apenas qualidades se eu fizesse aquilo..

Mas eu não queria, eu não queria fazer aquilo, eu ainda poderia ser feliz em algum momento, eu acho. Ainda tinha muita coisa para ver e para conhecer, eu poderia conseguir ser eu novamente.

Ainda sim.. minha mãe poderia cuidar de mim.. e a dor poderia ir embora.

Irritada com tantos pensamentos joguei o controle do console no puf e caminhei até a minha cama, peguei o frasco de remédio, dormir era melhor do que pensar em tantas coisas, olhei e percebi que tinha apenas cinco comprimidos, os coloquei em minha mão, e engoli todos de uma vez, me deitando e esperando o sono.

Mas o que veio não foi o sono de fato.

A Madrasta (Jenlisa - Satzu G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora