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"Pov Jennie"

Dobrar e organizar as roupas de Sana era um trabalho complicado, não só por ter um tipo de dobra que ela gostava, mas como deveria organizar tudo em padrões de cores, das cores mais neutras até as mais vivas, era assim que ela gostava, de tudo impecável. Tudo extremamente organizado.

Os vestidos pendurados, seus lacinhos de cabelo colocados um abaixo do outro, em ordem, em cor, em formatos iguais, as fitas que usava quando prendia o seu cabelo em um rabo de cavalo ou coque esticadas lado a lado, para que ela pudesse escolher sem muita demora, por mais que Sana fosse indecisa até demais na hora de escolher os seus acessórios, ela se parecia comigo sobre aquela parte.

Arrumei as suas histórias em quadrinhos na grande prateleira que havia em seu quarto, junto a todos os seus bonequinhos da Liga da Justiça, da Marvel, ou até mesmo dos filmes que ela mais gostava como, Para Todos Os Garotos Que Já Amei, e Com Amor, Simon, Sana já sabia a fala de cor, de tanto que assistia.

Lembro de quando ela era pequena, me acordando cedo enquanto coçava os olhos por debaixo de seus óculos, me pedindo sua mamadeira enquanto choramingava ao ver que o seu filme favorito ainda não havia começado na televisão, passava todas as quintas, as sete da manhã, Com Amor, Simon na tv, e la estava ela, me implorando para que adiantasse o tempo.

Eu fiz de tudo para que a sua infância fosse feliz, por mais que a minha vida não fosse nada feliz, por mais que tudo fosse tão complicado e difícil, eu fazia com que Sana nunca conhecesse o lado da dor, o lado escuro, o lado difícil de nossa vida. Mas ela cresceu, e aprendeu sobre tudo isso até mesmo antes de eu perceber. Começou a perceber isso pois não conseguíamos ficar em uma casa ou em algum apartamento por mais de três meses, sempre estávamos nos mudando, ela sempre estava mudando de escola, então isso a afetou.

Ser vendedora não era um emprego bom naquela época, fazer faculdade com uma criança pequena era a coisa mais difícil, ou eu comprava a nossa comida, ou eu pagava a nossa conta de luz e de água, ou pagava a minha faculdade, ou comprava uma roupa de frio para nós duas. O dinheiro nunca dava para pagar tudo isso. Por muitas vezes eu e Sana comemos no escuro, deixando o resto de água que havia na pequena garrafa para que ela bebesse de madrugada, e eu odiava ouvi-la sussurrar "mamãe, Sannie está com sede", eu olhava para o lado e via a única garrafa de água vazia. As vezes, por misericórdia dos vizinhos, Sana jantava um simples sanduíche de atum, enquanto eu a observava com o meu estômago implorando por alimento, mas eu negava, ver ela se alimentar era a única coisa que importava.

No frio de novembro e dezembro, eu costurava e remendava várias roupas para que ela se esquentasse, dava todos os meus casacos - que no caso era apenas dois - para que ela se esquentasse, ela achava graça pois eu a puxava para bem perto, dividindo o nosso único fino cobertor, ela chamava aquilo de "abraço da ursa mamãe!" Meus olhos sempre se enchiam de lágrimas, e a minha prioridade sempre era deixá-la bem e confortável.

Conheci Oliver na faculdade, algumas colegas me alegaram que ele era um dos fundadores da faculdade, então achei a forma perfeita para sair da onde eu estava, pensei daquela forma pois des que ele havia pisado no campus, o seus olhos me varriam de cima abaixo. Podia ver que ele não conseguia se concentrar, então bingo. Ali começaria a minha vida e a vida da minha filha.

Sim, eu sei, isso é horrível, monstruoso, mas era a melhor opção, e eu não me arrependeria, pela Sana, eu faria qualquer coisa.

Eu mataria apenas para ver a minha filha tendo a vida que merecia.

- Nayeon, Momo, Jihyo, Jisoo e Dahyun. Amigas da Sannie! Amigas. Minhas amigas, Nayeon, Momo, Jihyo-

- Hey!

- Mãe! Mãe! Mãe! Mãe! - ela chamou alegre tirando a sua mochila das costas, soltando as fivelas de seu sapato e me puxando pela mão, para que eu me sentasse em sua cama - Eu tenho amigas! Eu tenho! Sana tem amigas agora! Eu tenho muitas amigas! Eu fiz várias amigas hoje!

- É?! Me conta! Como elas se chamam? Como foi?

- Nayeon, Momo, Jihyo, Jisoo e Dahyun! Minhas amigas! Nayeon é do terceiro ano líder de torcida, Momo é do terceiro ano, representante de sala e presidente do grêmio estudantil! Jihyo, oradora da escola e líder do jornal da escola! Jisoo, dançarina e professora do clube de dança! Dahyun, líder dos vocais! Professora do clube de canto! Sannie, a aluna nova! A.. leitãozinho de estimação..

- Espera que? Quem disse isso, Sana?

- Ninguém..

- Sana, não minta pra mim! Quem te falou isso?

- A bela menina dos olhos caidinhos.. cabelos longos e castanhos.. a linda menina alta que faz natação, ela nada bem, eu vi ela nadar, Sana queria nadar, ela nada, parece uma sereia tão linda..

- Sannie - chamei, calmamente, ela me olhou - Quem te chamou assim, filha?

- A bela garota.. Tzuyu.. Tzuyu a nadadora.. Tzuyu dos olhos caidinhos..

- Ela te chamou assim? - Sana assentiu uma vez.

Trinquei meu maxilar e me levantei, batendo a porta do quarto, podendo escutar os meus próprios passos pesados contra o assoalho polido, meus olhos exalavam o ódio mais reprimido que existia em meu interior, ele aflorava quando mexiam com a Sana. Me retrai ao meu mundo, tanto, que não percebi quando meu ombro se chocou contra a garota que vinha em minha direção. Girei um pouco por conta do impacto, o salto deslizou levemente, e a minha queda era certeira, mais que certeira.

Mas então os braços fortes contornaram a minha cintura, junto as minhas costas, meus dedos cravaram em seus bíceps, duros e moldados, sendo notado pela força que fazia para que eu não caísse.

Lalisa.

De manhã, no café, eu consegui me desligar de absolutamente tudo enquanto nos encarávamos. Podendo sentir o quão forte meu coração bateu naqueles segundos matinais, a forma que a minha boca ficou seca, e de como eu fiquei desnorteada depois que ela saiu.

Merda, estava acontecendo de novo.

Minha boca secou enquanto eu engolia seco, senti que o meu corpo ficou mais mole do que já estava contra o seu impedimento sobre a queda, me senti tonta e perdida ao encarar aqueles olhos. Lalisa olhava para mim, surpresa, perdida, curiosa, com raiva, pude detectar aquele sentimento alguns segundos depois.

Pigarrei, me arrumando com a sua ajuda, ficamos sem falar nada durante alguns minutos, apenas nos entre olhando, eu estava tão sem jeito que o medo de dizer algo, era mais que real.

Lalisa então se virou de costas e seguiu para o seu quarto, batendo a porta com força e a trancando, fiquei sem entender.

Pra falar a verdade eu não estava entendo mais nada depois daquela manhã.

A Madrasta (Jenlisa - Satzu G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora