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"Jennie Pov"

Bati as minhas mãos em minhas pernas mais uma vez, impaciente por algo ainda não descoberto por meu ser, olhando para a porta de vidro que dava para os fundos do simples hotel. Observando as árvores e a noite sendo contemplada pelas corujas em meio ao emaranhado verde de folhas e gramas. Um pouco assustador.

A Tv chiava algum programa de entretenimento, com humor obscuro e malicioso sobre alguma coisa, não era tão importante para mim naquele segundo. Sana parecia querer acordar, se remexia um pouco e franzia a testa, até que despertou, se sentou e coçou os olhos, deu uma rápida conferida de ambiente e depois me olhou, com sono, cansada, com mágoa.

- Hey, está com fome? - perguntei com um sorriso no rosto, o qual foi ignorado por ela, que se levantou e passou por mim, diretamente para o banheiro, aonde se trancou sendo ligado o chuveiro alguns minutos depois - Ok..

Separei o seu pijama e a toalha, sabendo que ela chamaria já que havia esquecido, fiz uma rápida ligação para a pizzaria mais próxima, e aguardei até que ela saísse do seu demorado banho. O barulho da água sessou, então me coloquei perto da porta e ri quando ela apareceu, tremendo um pouco, lhe entreguei a toalha e o seu pijama, nenhuma palavra trocada desde então.

A pizza chegou cerca de vinte e cinco minutos depois do pedido, dei a Sana a lata de refrigerante e me sentei um pouco atrás com uma fatia, olhando para a Tv mas não assistindo a programação de fato, diferente da menina, que ria baixo com os comentários do apresentador. Naquele segundo percebi que.. a minha filha estava se tornado uma mulher, e que eu não poderia fazer nada a respeito a não ser ensiná-la sobre o respeito. Por mais que ela fosse educada, até demais, pela primeira vez em muito tempo, senti orgulho de mim mesma, por ter cuidado dela tão bem e por ter a tornado uma menina tão doce e simpática, enquanto eu era o oposto de tudo isso.

Acho que ela saberia se virar sem mim em algum momento.

De repente perdi a fome, e a pizza ficou com um gosto estranho em minha boca, a deixei de lado e apenas beberiquei um pouco de água. Tomei um banho, tentando respirar de uma forma limpa e fácil, mas o meu pulmão estava pesado, poluído por cada atitute minha. Eu realmente não merecia um ar limpo naquele segundo, eu não merecia nada naquele segundo.

Sana ainda assistia Tv e comia a sua quarta fatia de pizza, arrisquei dar um beijo no topo da sua cabeça, ou um carinho, mas recuei, sabendo que ela não ficaria confortável com nada partindo de mim naquele segundo, apenas fechei a cortina desgastada e me deitei na cama, fechando os olhos e procurando por amparo, sabendo também que não o encontraria tão cedo.

- Você não comeu direito - a menina falou, baixo, ainda olhando para a Tv - Come mais um pouco.

- Eu.. estou sem fome, já comi o suficiente - garanti, voltando a concentração em tentar pegar no sono.

- Pizza é a sua comida favorita, e você só deu duas mordidas, isso está errado.

- Estou bem, Sannie.

- É.. está mentindo pra mim novamente - sua voz era claramente decepcionada - Pensei que fôssemos melhores amigas assim como você sempre falou. Talvez, quando eu era pequena, eu gostava das suas mentiras pois me faziam se sentir segura, achar que um dia tudo ficaria bem, que seríamos felizes, na minha mente de criança era mágico. Mas hoje, as suas mentiras me magoam, me fazem chorar e ter raiva de você, eu odeio as suas mentiras hoje porque eu não sou mais uma criança de sete anos, eu não sou mais uma criança que precisa da sua confirmação sobre tudo estar tudo bem , porque eu sei que nada está bem. Você não está bem, eu não estou bem, nós não estamos bem, e você continua mentindo, mentir não irá fazer as coisas melhorar, e só piorar.

A Madrasta (Jenlisa - Satzu G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora