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"Lalisa Pov"

- E o que seria isso?

- Eu.. não quero mais participar do time, treinador. É a minha saída do time de futebol.

- Tão repentino assim, Lisa? Você é a nossa melhor jogadora, você ama isso, por que quer sair?

- Só.. assine, e não faça perguntas, já é difícil o bastante.

Assim ele fez, podia ver que era contra a sua vontade assinar aquele papel de saída, mas eu não sairia dali até ele assinar, agora não importava muito, não tinha mais graça, não tinha mais cor e nem mais força de vontade vindo da minha parte, apenas um grande cansaço, e talvez alguns pensamentos vagos.

Segui para casa após a terceira aula, pulei o muro e simplesmente decidi voltar, não estava mais suportando a voz de ninguém, aquela sala me apertava, me deixava sem ar, me espremia e eu só queria a minha cama naquele segundo. Chutei meus tênis para longe, engoli quatro comprimidos para dormir e me joguei no grande colchão, fechando os olhos e deixando a escuridão me absorver de qualquer coisa a fora.

Acordei com fortes batidas na porta, uma voz abafada, eu ainda estava tonta, não estava na cama e sim no chão ao lado dela, deveria ter caído enquanto dormia, não percebi ao certo, com dificuldade me sentei, limpei um pouco da baba e do suor com o topo da minha mão e coloquei as mãos na cabeça quando uma forte dor se fez presente, junto aos gritos de Tzuyu vindo do outro lado.

- Lalisa! Sai da porra desse quarto e vem jantar!

- Eu não quero! Me deixe em paz caralho! - gritei de volta, mas murmurei em dor quando escutei a minha própria voz, e a pressão que a altura sobre ela havia causado em minha cabeça.

- Tudo bem, fique aí sendo depressiva por uma pessoa que não liga pra você, garota idiota.

Suas palavras acertaram os meus ouvidos e ao invés de ficar com raiva, ou apenas ignorar mais um de seus mil comentários daquela forma, me senti fraca, sem estrutura, sem ar, com dor, muita dor um ser pequeno e sem proteção alguma sobre palavras que eu não deveria me importar, mas agora, as palavras de Tzuyu me feriam como facas em meu peito.

Abracei as minhas pernas e iniciei uma sessão de choro, soluços, lamentações que eu sabia que não levaria a lugar nenhum, pensando que era nova demais para amar, mas sabendo que o amor que eu sentia por ela, era forte demais para acabar com "simples" lágrimas escorridas por meus olhos. Mas o que eu faria? Levantaria e correria atrás dela? O que eu falaria? Perdoaria ela? Seria idiotice demais da minha parte, não seria?

Claro que seria.

- Cara.. não era pra você estar chorando, eu não falei sério.

- Por que eu tenho que gostar justamente dela, Tzuyu? Por que exatamente ela? Poderia ser qualquer outra pessoa, mas por que ela? - perguntei desesperada, me embaralhando com os meus próprios soluços, me afogando com as minhas próprias lágrimas, me escondendo entre minhas pernas, desejando nunca ter sentido nada.

- Você não escolhe isso, Lisa, apenas acontecesse. O seu coração apenas gosta dela.

- Então por favor.. por favor, faça o meu coração parar de gostar dela, pois está doendo a cada segundo e eu não aguento mais essa dor.. por favor, faça ele parar de amá-la, Tzuyu..

Meu local de desabe foi em seu abraço, aonde desferi a minha dor, mostrei a minha angústia, lhe contei meus medos através de cada lágrima escorrida sem barreira ou medo, me encolhendo, tremendo, sobrevivendo a avalanche de sentimentos sobre o meu corpo, meu cérebro, meu coração. Podendo ser a verdadeira manteiga derretida de treze anos nos braços da minha irmã mais velha, mas sem saber ao certo como agir perante tanta informação.

- Eu não posso fazer seu coração parar de gostar dela, Liz, infelizmente não posso tirar essa sua dor, porque se tivesse uma forma de fazer isso, eu faria sem pensar duas vezes. Mas se isso te conforta de alguma forma, Jennie não está muito melhor que você, tenho certeza que se arrepende de ter magoado você, e que quer pedir desculpas.

- A culpa não é dela - dei de ombros, fungando e me afastando - É minha por ter me apaixonado demais.

Andei até o banheiro e apenas me enfiei debaixo da ducha, como se tudo agora fosse um completo piloto automático, sem emoções, ou qualquer vontade de tentar sorrir ou fazer alguém sorrir. A fome não era presente, então não desci para comer, continuei em meu quarto, jogando videogame mas quase não prestando muita atenção no que de fato se passava. Recebi uma notificação em meu computador, curiosa, abri minha caixa de e-mail e vi que era algo sobre a casa que dei uma olhada para que Sana e sua mãe pudessem ficar hospedadas, havia sido retornada então.

Dois quartos, um banheiro, uma cozinha, uma sala e um quintal pequeno. Era apenas duas pessoas então aquilo serviria, além de ser barato e poder passar despercebido o valor mensal sobre os olhos do meu pai.

Eu estava fazendo aquilo por Tzuyu e Sana, apenas por elas.

Relutante eu acordei, ainda tão cansada que parecia não ter dormido quase doze horas seguidas, o corpo doeu para ficar ereto e o quarto girou um pouco quando abri meus olhos, escovei os dentes, lavei meu rosto, tentei achar uma roupa limpa e sai do quarto, ignorei o café, não era tão importante assim. Tzuyu já me esperava na garagem e assim a viagem seguiu. Não sabia se estava pronta para aquilo, mas era necessário.

- Oi, Sannie - sorri, ou tentei sorrir para ela, pegando a sua mala e colocando no porta malas.

- Yoda me mostrou as fotos da casa, e é linda! Você que escolheu? - assenti - Você tem bom gosto, mamãe está lá dentro, pode ajudá-la com as malas? Yoda! Sannie quer um sorvete! Compra um sorvete para a Sannie?

- Claro, minha princesa - Tzuyu me olhou, indicou para que eu entrasse no hotel e foi o que eu fiz. Jennie fechava a sua mala e se assustou quando eu apareci, ficando paralisada assim como eu quando nossos olhos se encontraram.

Jennie não sabia o fazer e eu muito menos, um ar e um clima desconfortável, minhas mãos não sabiam o que fazer, se remexiam sobre o bolso da minha calça, minha garganta ficou seca e eu completamente constrangida sobre a sua presença tão esquisita e estranha. A mulher limpou as mãos em seu shorts e pigarreou, olhando para os lados e depois para mim, estava tão difícil.

- Sana gostou muito da casa que você escolheu - falou, casualmente, formalmente.

- Que bom - andei até a sua mala e a peguei, dando meia volta até a porta - Escolhi pensando nela, estou fazendo isso por ela e por Tzuyu, porque se dependesse de mim, deixaria você apodrecer na prisão.

- É.. eu sei disso..

Parei de caminhar ao perceber que as palavras direcionadas a ela não foram legais da minha parte, e eu me arrependia daquilo. Me virei para ela, suspirei e olhei para baixo, ainda doía olhar para os seus olhos e ver o quão lindos e mentirosos eles eram.

- Desculpa, eu não quis dizer isso.

- Tudo bem, você está certa de qualquer forma, não mereço menos que isso.

- Eu.. acho que consegui uma entrevista de emprego pra você - dei a notícia, que eu teria ter guardado para uma possível surpresa, espera, por que eu estava querendo fazer uma surpresa para ela? - Não é nada grande, estão a procura de uma balconista e garçonete em um café perto da minha escola, meio período e o salário de todo modo não é ruim-

- Eu quero - sorriu, seus olhos repletos de esperança, o brilho deles, refletiu em meu coração e eu acabei dando um pequeno sorriso.

- Irei falar com eles e te aviso sobre a entrevista.

- Muito obrigada, Lalisa, de verdade.

Dei de ombros e segui para fora do quarto com as suas malas em mãos, podendo escuta-la comemorar ainda no quarto, eu ri sem olhar para trás e me senti bem enquanto escutava a sua felicidade.

Ok, talvez não seja só por Sana e Tzuyu, talvez seja por ela também.

A Madrasta (Jenlisa - Satzu G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora