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"Pov Lalisa"

- Texas é um lugar maravilhoso, se você estiver disposta a ter insolação toda a semana - eu ri do seu comentário enquanto mastigava o segundo sanduíche que ela havia acabado de fazer pra mim.

- Eu gosto do calor, você sabe, por eu jogar futebol fico exposta a céu aberto, e nem sempre o uniforme é refrescante.

- Eu imagino, ainda mais você que é capitã do time, tem que se dobrar em mil, não é?

- Definitivamente, é um pouco complicado, pois nem sempre as jogadoras são boas, mas eu tenho as minhas parceiras, Mina e Chaeyoung. Chaeyoung é baixinha mas é rápida pra caralho! - Jennie riu - É sério! Ela já salvou muitos campeonatos. Você pisca, ela já passou. Parece até um vulto as vezes.

- E Mina?

- É a nossa goleira, uma ótima goleira, é muito difícil você fazer um gol quando ela está na rede, ela é muito boa.

- Um dia eu vou ver você jogar, quero ver se são tudo isso mesmo.

- Está duvidando da palavra da capitã do time? Jennie Kim, Jennie Kim, nunca duvide das palavras de uma capitã!

Nós duas nos encaramos e em menos de um segundo estávamos rindo, não que fosse engraçado de fato, mas não conseguíamos nos manter sérias quando nos encarávamos por mais de dois segundos, ela sempre ria primeiro, seus lábios se curvavam quase involuntariamente, sem ela perceber, e igual um espelho, eu fazia a mesma coisa, deixava que o meu riso me contagiasse, nem percebendo que passávamos vários minutos apenas rindo.

De nada ao certo.

- Ok, ok - ela parou com um pouco de fôlego - Acho que o seu treinador fez uma boa escolha sobre a capitã do time. É bom ter alguém com a lábia boa.

- Hey!

- É sério! Não estou falando isso ironicamente, digo, você me parece segura de si, determinada, além de forte fisicamente. Uma bela capitã.

- Obrigada - agradeci sem jeito, claramente envergonhada, só naqueles minutos que estávamos juntas comendo aquele simples sanduíche, consegui me sentir segura novamente, como me sentia com a minha mãe anos atrás, ela me dava toda a sua atenção, me escutava sem me interromper e fazia perguntas de interesse sobre o que eu estava falando, mostrando sempre estar interessada em minhas baboseiras de adolescente.

- Quer mais um? - perguntou assim que terminei o meu sanduíche, neguei - Vem, me ajude a arrumar essa sujeira.

- Cadê o meu pai? Ele ainda não acordou?

- Seu pai saiu a uma viagem, abrirá uma filial e precisam dele. Por um mês.

- Um mês?! - perguntei um pouco assustada, de novo teria o meu pai fora, no meu jogo, na competição de Tzuyu, ele não participaria, não estaria lá para assistir.

Como sempre.

- De novo.. - murmurei, queimando em raiva por dentro.

- Está tudo bem?

Assenti, jogando o prato na pia e correndo até o meu quarto, a porta foi batida com ira, meus olhos focaram em meu saco de pancadas, aonde os murros mais doloridos foram causados por mim, com ambas as mãos, com toda a minha força, com todas as lágrimas que eu não soltava a quatro anos, eu não choraria mais, nunca mais.

Sentia o suor em minha pele, acho que estava vermelha, estava cansada, o saco de pancadas gritava em minha mente para que eu parasse, mas todo o ódio, toda a mágoa, de tudo, de todos, dele principalmente, ela vinha a tona. Não por ele ter viajado quando eu mais precisava dele, e sim, por ele saber que eu precisava dele..

Dei dois passos para trás, aquela merda de saco de pancadas não foi o suficiente, sentia que poderia borbulhar de raiva pela a boca, meus olhos em um rápido movimento avistou o meu maior troféu de futebol, brilhante e polido, corri até ele o pegando em minhas mãos, pronta para dar um fim, o fim dele seria contra a parede.

- Lalisa, não faça isso - ouvi um voz calma, mas firme vindo da minha porta. Jennie estava ali, parada, com os braços cruzados - Coloque esse troféu no lugar.

- Você não manda em mim! Você não é a minha mãe! E nunca será!

- Coloca, esse, troféu, no, lugar. Agora - repetiu pausadamente, ainda com a mesma calma em sua voz. Calma essa que me fez ficar menos tensa aos poucos, fui endireitando o meu corpo devagar, segurei o troféu com cuidado em minhas duas mãos e o coloquei na prateleira exclusiva apenas para ele - Você acha que quebrando as coisas, irá trazer o seu pai de volta?

- Isso me acalma. Você não deveria se intrometer.

- Isso te acalma? Você pode até se acalmar, mas e o arrependimento? Ele não vem depois? - continuei calada olhando para o chão após sentar no pé da cama - Eu te fiz uma pergunta.

- Sim, ele vem depois.

- Então por que continua quebrando tudo o que vê?

- É a única forma que eu tenho. Não tenho muitas opções.

- Bem.. - ela suspirou, andou e se sentou ao meu lado, meio afastada, mas ela estava ao meu lado - Me diga o que sente.

- Raiva.

- Pelo o seu pai?

- Por tudo.

- Está mentindo.

- Você é psicóloga agora caralho?! - esbravejei sem paciência me levantando e caminhando até a porta.

Jennie me parou, segurou o meu pulso, me fez virar para ela, seus olhos estavam serenos, calmos como a brisa que vinha pela janela trazendo uma leve fragrância de lavanda, fiquei perdida, entre vagar por seus olhos ou por seus lábios em uma fina reta sem expressão, ela me olhava diretamente, sem desviar um centímetro. Achei a submissão naquele dia, a arte de ser fraca, e estar tudo bem por fracassar, a suavidade de desistir, por alguns minutos, e a beleza de poder abaixar a guarda em um lugar seguro, achei aquilo naquele segundo. O segundo que os seus braços passaram por o meu pescoço, sua mão descansou em minha cabeça, me forçando para baixo, sem lutar eu fui, deitei minha cabeça em seu ombro e senti o seu corpo contra o meu, deixei que os meus braços envolvesse sua cintura fina, minhas duas mãos apertando a sua camisa, meus olhos se fechando, meu corpo se escondendo no seu como o meu rosto se escondia em seu pescoço.

Jennie manteve seus dedos por entre os meus cabelos, um cafuné.. meu Deus fazia tanto tempo que eu não recebia algo assim, e era tão bom, tão nostálgico. Senti com todas as forças do meu corpo uma enorme vontade de chorar, mas eu segurei, segurei e empurrei para dentro de mim novamente, eu não iria chorar.

Respirei fundo, me aninhando cada vez mais contra o seu pescoço, sentindo o seu perfume, Jennie fazia carinhos sem sincronização em meus fios, os colocando atrás de minha orelha descendo até a minha bochecha, e acariciando ali também.

Jennie sabia exatamente do que eu precisava.

- Melhor? - sussurrou contra o meu ouvido, eu assenti, mas a apertei mais contra mim mesma.

- Fique assim.. não se afaste.. - pedi, em um fio de voz, eu deveria parar de falar, se não eu choraria, tinha certeza daquilo.

- Estou aqui.. estarei sempre aqui..

[...]

A Madrasta (Jenlisa - Satzu G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora