IV - Sinais

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Quando o sábado por fim chegou, Madara decidiu que não deixaria mais suas obrigações de lado e descuidar de sua saúde por puro mimo, ou o que quer que fosse. Ele havia negligenciado certos cuidados depois da maneira com a qual o clínico geral o tentou intimidar fazendo perguntas sobre o passado, mas o Uchiha entendeu que independente do que lhe fosse dito, qualquer dano não reparado incidiria somente em seu corpo, então decidiu ir atrás do que tanto o incomodava.

E claro que toda a dor de cabeça começou assim que ele chegou a clínica para colher o sangue, pois estava cheio e cansativo somente de olhar. Respirando fundo, deixou seus documentos no balcão enquanto a ficha era feita e uma recepcionista simpática computava todos os exames que precisaria realizar. Até então sua previsão era de passar rápido por ali, mas quando uma criança começou a chorar e se debater nos braços da mãe, outra gritou ao ver uma enfermeira com agulha em mãos e um grupo de pessoas reclamou da demora, ele soube que passaria estresse.

Sua paciência pareceu ser testada a cada instante dentro da clínica. Acomodou-se em um canto mais afastado, vez ou outra sua atenção variando da televisão, que passava algum programa de entretenimento geral em pleno sábado de manhã apenas para distrair com bobagens pouco úteis, para as atendentes que enviavam as fichas abertas por dentro de um pequeno espaço que dava dentro do setor técnico, onde as coletas eram realizadas.

Uma porta-dupla separava as pessoas entre os dois locais, mas da recepção era possível ouvir as crianças gritando de medo. Os finais de semana eram sempre os mais desejados pelos pais para realizar os exames em seus filhos, então a rotina para quem trabalhava era comum, e para aqueles que realizavam check-ups rotineiros também.

Para Madara era quase como uma amostra grátis do verdadeiro inferno.

- Nem doeu.

Disse uma mãe para seu pequeno filho. Eles passaram pelo Uchiha em direção a lanchonete, onde apresentando um pequeno voucher tinham direito a um desjejum simples com um salgado e uma bebida, além daquilo que poderia ser comprado a parte.

Todas as mesas estavam cheias, e a paciência de Madara quase vazia. Ele já havia visto umas dez vezes como fazer tal acabamento de costura com a mesma apresentadora daquele insuportável programa que parecia querer vender o bem-estar para as pessoas sem de fato incentivar a procurar um serviço adequado de saúde.

O que não fazia nenhum sentido para o local onde estava inserido.

- Uchiha Madara?

Ele revirou os olhos antes de se aproximar da técnica, que vestida de branco contrastava no meio de todas aquelas pessoas ansiosas. Por um momento Madara se sentiu vigiado por todos os pares de olhos ocupando as carreiras de bancos da recepção sem sobrar um espaço vago, como se ele tivesse sido chamado na frente de outro alguém. Exposição desnecessária para uma mente estressada.

- Bom dia senhor. Me chamo Yamamoto Emi e vou atendê-lo.

Ele devolveu o cumprimento bem rapidamente, de maneira formal e sem grandes rodeios ou abertura para conversas. Seguiu por um corredor com vários boxes de coleta, onde os gritos desesperados das crianças ecoavam com maior intensidade sem a diferença das paredes para amenizar o choro, e as portas fechadas da área infantil não ajudavam a abafar o som.

Do outro lado havia alguém reclamando com quem parecia ser a chefe do lugar por alguma coisa sobre tal de "cortisol", que só poderia ser coletado até às nove da manhã e ninguém o avisou sobre, de modo que não realizaria mais o exame depois de esperar mais de duas horas por atendimento. Ou seja, um verdadeiro caos.

Quando comparado com a tranquilidade do banco, Madara teve certeza de que aquelas pessoas realmente gostavam do que faziam, pois a dificuldade de se conseguir fazer o trabalho era imensa. E trabalhar com público seria sempre um teste para o mental daqueles técnicos de coleta.

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