XXX - Verdade

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Madara sentiu como se tivesse tomado um soco tão forte que sua respiração pesada chegou aos ouvidos de Kaoru mesmo com ele afastando o celular de seu rosto. Ela se assustou com aquilo, mas o silêncio do Uchiha foi o que lhe causou maior estranheza. Ele estava completamente estático.

- Madara?

- O que... – Ele ainda não tinha recuperado o fôlego, sentia a dor do soco se espalhando por seu corpo como um câncer, como se a leucemia houvesse metastizado e estivesse prestes a lhe matar. – O que você falou? – Perguntou de um fôlego só, quase sem ar.

- Que ela é uma parente distante da minha mãe. Quer dizer, deixa eu te explicar direito. – Madara escutou algum barulho, mas estava tão aturdido pelas palavras inocentes de Kaoru que não conseguia raciocinar. Só que agora entendia porque Izuna estava insistindo tanto naquilo, mas precisava do resto da história. – Eu mudei de lugar, as pessoas estavam olhando. Mas basicamente a família Uzumaki sempre foi muito grande e rica, e os patriarcas sempre quiseram que seus filhos casassem e tivessem novos filhos com pessoas da mesma classe social para manter o poder e essas coisas.

Conforme Kaoru foi falando, Madara se recordou do dia em que recebeu o convite, do sorriso de escárnio de Senju Butsuma, e de como seu mundo desabou ao ver Hashirama naquele terno bonito ao lado de Mito. Ele sorria, ela também. E Madara perdeu tudo que conhecia naquele desgraçado dia, de modo que estava quase jogando o celular na parede. Ele ainda ia fazer aquilo.

"Então na verdade eu sei bem pouco deles, porque quando meus pais se conheceram, todo mundo se afastou. A família do meu pai era bem humilde, mas ele e a minha mãe se gostavam e decidiram ficar juntos, e para o lado dela foi quase um escândalo. Então meus avós mudaram de cidade para evitar problemas maiores, e quando eles se casaram e ela pegou o sobrenome Namikaze ficou mais fácil, só que isso afastou a família inteira. Mas eu me lembro de que tinha alguém ainda dentro da família Uzumaki que falava com a minha mãe, e ela contou sobre essa moça, Mito. Se não me engano ela e minha mãe eram primas distantes, ou algo assim, mas até onde eu sei ela faleceu. Pelo menos foi isso que contaram."

Era inacreditável. Kaoru era uma Uzumaki!

Sua família, distante ou próxima, era parente de Mito! Uma das pessoas que destruiu a vida de Madara no passado, e a quem ele tanto abominava! A mulher por quem um dia ele quase tentou se apaixonar, mas achou melhor não magoar seu coração como havia sido feito consigo. Seu sangue era o mesmo que o dela.

- Madara? – O silêncio dele a estava deixando preocupada. – O que foi meu bem? Você está se sentindo bem?

- Não é possível. – Ele se sentiu traído. – Que você tenha o mesmo sangue sujo dessa mulher.

- O que? O que está acontecendo Madara?

- Uzumaki Mito, Kaoru, é o nome de uma das duas pessoas que destruiu a minha vida e me fez deixar Tóquio. Junto com o Hashirama.

Ela sentiu o desgosto na voz dele, mas ainda estava tentando entender o que estava acontecendo para Madara, de repente, ir amaldiçoando o sangue da família de sua mãe.

- Eu não sei quem é essa pessoa Madara, mas não fazia ideia que odiava a família Uzumaki. Você conhece alguém além dela?

- Não. – Ele sentiu que tinha afastado Kaoru com algumas poucas palavras. – Me perdoa Kaoru, por favor. Isso não é sobre você e a sua mãe, mas... – Ele estava tão cansado, tão dolorido pela enfermidade e o passado, e as palavras de Izuna, o nome de Hashirama, Tobirama e todo o resto, que sequer sentiu quando começou a chorar. – É tão difícil.

- Não chore, por favor. Eu quero te ver, ficar perto de você.

- Kaoru... – Izuna retornou ao quarto no momento em que Madara tirou a máscara de oxigênio e começou a chorar, completamente exausto. Ele se sentou melhor sobre a cama e cobriu o rosto com o braço. – Eu tinha um relacionamento com o Hashirama há quase dez anos, e conhecia ele desde criança. – Ele não deu atenção para a presença de Izuna, precisava desabafar antes que explodisse, mesmo que suas palavras não soassem tão claras pelo pranto. – E no dia seguinte do meu último na faculdade, o pai do Hashirama levou o convite do casamento dele com a Mito e me pediu para tocar piano na festa. – Há tantos anos Madara não vocalizava aquelas palavras. Doeu. Tanto que ele sentiu o corpo inteiro se machucar quando soluçou. Izuna não perguntou; apenas se aproximou e tocou em seu braço tentando passar alguma força. Seu coração disparou. – Então quando você disse que era parente dela... Me perdoa Kaoru, eu não posso te perder.

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