Not Enough

XXI - Presságio

Butsuma Senju era um homem de olhar maldoso e julgador, que te encarava com raiva e intimidação, o fazendo se sentir culpado até mesmo por algo que não lhe era de conhecimento. Um encarar frio e arrogante que não se incomodava em ser incômodo e o colocar em posição de humilhação.

Por isso quando Hashirama lhe contou que precisaria se ausentar para fazer os exames e a doação de medula se estivesse tudo bem, o pai não o perdoou. Se não lhe dizia respeito, não o interessava, e ter Hashirama longe por "algo desnecessário", como o filho o ouviu dizer, lhe causava imenso desagrado.

- Por favor, pai, não fale assim. Alguém está precisando de ajuda.

- Você já sabe o que eu acho sobre isso Hashirama, não fique voltando nesse assunto.

- Isso é maldoso. - O filho franziu o cenho, incrédulo. - Não posso acreditar que estou ouvindo isso do senhor.

- Já chega! Não me importo com o moribundo que vai precisar disso, não tenho a obrigação de sentir pena dos outros!

Hashirama balançou a cabeça em negação, triste e incapaz de ver seu próprio pai agir de tal maneira. Sabia que ele era um homem difícil e havia sido cruel no passado, mas não conseguia acreditar que chegaria ao ponto de se negar ajuda a quem precisava. No fundo, em seu coração, nunca deixou de acreditar que um dia ele se tornaria alguém melhor, mas cada dia transcorrido lhe mostrava que isso não aconteceria.

- Durante anos eu aceitei suas palavras sobre tudo na minha vida, e me mantive calado. Mas não vou abaixar a cabeça sobre isso.

- O que? - O homem bateu com força sobre a mesa, enfurecido. - O que está dizendo? Eu te preservei dos seus próprios erros!

Hashirama estava estranhamente calmo. Ele tinha a capacidade de ouvir as piores grosserias e maldades e permanecer tranquilo, sem devolver qualquer ofensa. No entanto, a dor que vinha das entranhas do passado lhe dava um tom a mais de seriedade, e ele não permitiria que fosse falado sobre isso com desrespeito.

- Eu não cometi nenhum erro, além de ter confiado no senhor e no Uzumaki-sama. Perdi tudo que tinha por conta disso.

- Eu nunca ia permitir que meu filho estivesse com outro homem! - Ele esbravejou, apontando o dedo na cara de Hashirama. - E um Uchiha! A culpa foi toda sua!

- Não me arrependi em nenhum momento de ter amado o Madara. E os meus sentimentos não podem ser tocados pela sua chantagem.

Os que estavam do lado de fora voltaram sua atenção para os gritos enfurecidos de Butsuma. O Senju era incapaz de perceber que ele próprio estava destruindo tudo aquilo que construíra, com mesquinharia e maldade. Seu império estava caindo por suas próprias mãos.

E ele estava completamente enfurecido com a calma de Hashirama, de modo que estava perdendo a sua própria. Nunca superou a morte de Mito, pois com o equívoco da gravidez, Hashirama esteve livre novamente, e ele não podia sustentar a ideia de seu filho com outro homem, principalmente com um Uchiha.

No entanto, para sua sorte, Hashirama saíra machucado o suficiente para não conseguir superar a perda de Madara, e não se aproximou de mais ninguém em dez anos, permanecendo sozinho. Era o primogênito solteiro e bem apessoado, bonito, de uma das famílias mais bem-sucedidas da sociedade japonesa.

- Não fale o nome daquele Uchiha na minha frente! Por conta de seus caprichos eu precisei aguentar ele dentro da minha casa por anos!

- Não se doa mais por isso, eu perdi o Madara. Sua maldade venceu.

- Basta!

- Mas não vou mais tomar o tempo do senhor, não se preocupe. Perdi dez anos de minha vida tentando entender algo sem explicação, vou fazer o que deveria ter feito há muito tempo.